segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vidrinhos

Carlos AlonsoTodos temos os nossos dias vidrinhos. Parece que a coisa está por um fio e que esse fio é tão ténue que pode partir sem qualquer aviso. Ao longo de uma vida já devo ter tido alguns desses dias, não muitos que foi sempre preciso andar para a frente, para o lado e até para trás, sem haver muito tempo para vitrais a não ser os de contemplação entre uma hóstia e outra (os castelhanos escrevem de forma diferente) à procura de soluções.

Mas hoje sinto-me assim. Por um fio, com o fio torcido, retorcido, esticado e moído.

Não sei se foi da conta do dentista e do atraso provocado para chegar ao trabalho, se foi por ter acordado vivo, se foi por causa do sabonete do banho estar quase transparente ou por me ter sido diagnosticada uma reforma lá para os sessenta e sete anos, coisa que estilhaça qualquer cristal.
LNT
[0.030/2011]

18 comentários:

Luís Serpa disse...

Espero que recupere depressa, caro Luís Novaes Tito. Com um pensamento para os pobres dos alemães, que devem andar estilhaçadíssimos há muito tempo.

Luís Novaes Tito disse...

Têm outras compensações, esses alemães.

Luís Serpa disse...

Sem dúvida. Pergunto-me se não terão essoutras compensações porque trabalham até aos 67 anos? (A outra palavra-chave é "trabalham" - cf. funcionáros públicos nacionais, por exemplo).

Luís Novaes Tito disse...

Os portugueses não trabalham?

Luís Serpa disse...

Não ligue a 100%. Estou, uma vez mais, numa fase de incompreensão mútua com a burocracia nacional; e acho que não, não trabalha, aquela parte do funcionariado público que trata de papéis, certificados e coisas assim.

Claro que os portugueses trabalham, muito e bem - aliás basta ir vê-los à Alemanha, apesar da idade da reforma.

Contudo, o essencial da minha questão mantém-se: será por, entre outras coisas, terem a reforma aos 67 anos que os alemães usufruem de outras vantagens?

folha seca disse...

Caro Luis
"Há dias assim".
Sobre a reforma creio que o injusto, não é tanto a idade mas os anos de trabalho.
Se me permite olhar para o umbigo, só lhe digo que se for reformado aos 67 anos, contarei nessa altura 57 anos de trabalho e 55 de descontos para a Seg. social.
Parece-me que se olha para esta questão duma forma errada. Há quem comece a trabalhar aos 30 Anos e quem tivesse começado aos dez.
Abraço

Luís Serpa disse...

Inteiramente de acordo, caro Folha Seca.

Luís Novaes Tito disse...

Idem, Folha Seca.
Não ibidem Luís Serpa.
E digo-lhe mais. Toda a vida trabalhei como um alemão. Nunca tive a vida de um alemão. Sabe que hoje já demoro, pelo menos, mais meia hora a pôr-me em forma de manhã do que há meia dúzia de anos?
O que se pretende é o meu dinheiro e não o meu trabalho. Ofereçam o trabalho aos mais novos e façam-me descontar até aos 67 anos para a Segurança Social.
Já merecia que me deixassem em paz para poder fazer do meu restante tempo aquilo que me apetecer.

Torquato da Luz disse...

Pelas novas contas, caro Luís, este seria o ano em que me reformaria, se já não estivesse reformado... :)
Sempre há gente com sorte, não acha?
Um abraço.

Luís Serpa disse...

Ainda bem, caro Torquato da Luz, ainda bem. Tem é que continuar a ser sorte, e não norma, que acaba por acabar em azar para todos.

fatbot disse...

FORÇA Senhor Barbeiro ... em frente com um sorriso ( mesmo que seja "forçado") ... Embora APOSENTADA ( sorte a minha!!! ) a 2ª feira sempre foi o dia mais complicado no arranque ... amanhã será 3ª e tudo será mais fácil ... a semana já corre para o fim! E As Colaboradoras por onde andam? Essa não se sentem como o Senhor Barbeiro... arrancam sempre mais tarde!!! Um abraço e BOA SEMANA de Vida e de Trabalho

Anónimo disse...

Se fossem deputados da nação ou outro tachinho similar sempre se poderiam reformar com doze anitos de boa vida digo de altos serviços prestados ao país.
Mas não são... Que peninha
Eu tb não sou entachado por isso faço parte do clube do LNT
Que fazer a não ser aguentar pianinho e sem fazer ondas, para não ser posto na rua, antes de tempo.
Boas alfinetadas

Luís Serpa disse...

Antigamente os deputados da Nação, por causa sem dúvida do duríssimo trabalho que executam, com uma qualidade por todos reconhecida tinham a reforma ao fim de oito, oito anos. Já passaram para 12?

Azar o deles, coitados. Eu por mim até lhes dava a reforma logo por inteiro mal fossem eleitos, com a condição de não porem os pés no Parlamento, mas infelizmente isto só em boutade de zinco...

mdsol disse...

Além dos argumentos da folha seca, há as expectativas e a vida projectada de determinada maneira. Se é verdade que em tempo de guerra não se limpam armas e que, com fome, não há pão com mofo, pelo menos que se compreenda a frustração e a saturação de quem se programou para uma coisa, cumpriu as regras, trabalhou a bom trabalhar e, agora, sem transições nem contemplações, vê tudo alterado. Caro sr. Luís, também eu estou a entrar numa saturação que requer energias adicionais (das que, com a idade, vão minguando) para encarar mais não sei quantos anos do que, supostamente, terminaria por esta altura.

:)))

Tiago Pinto disse...

Reforma? Só se for a reforma deste Estado!

Helena Araújo disse...

Disseram "Alemanha"? Presente! ;-)
O que na Alemanha se diz é que este adiamento da idade da reforma é uma maneira de reduzir as despesas: se as pessoas se reformam antes dos 67 anos, recebem uma reforma mais baixa.
Também se falava muito em criar períodos de transição: os mais velhos dividem com os mais novos um posto, para passarem a sua experiência e darem oportunidade aos jovens de entrar no mercado de trabalho. Ultimamente não tenho ouvido falar tanto nisto - talvez porque a economia está a recuperar, e todos são necessários a tempo inteiro.
A grande diferença em relação a Portugal é esta: o Estado vela pelos mais pobres, e garante a todos condições de vida dignas. Se a reforma for demasiado baixa, o Estado garante a habitação, a saúde, a alimentação, o vestuário e mais uns trocos.

Luís Novaes Tito disse...

Helena,

Por aqui estão-se nas tintas para o trabalho e experiência dos mais velhos. Isso nota-se quando algum cai na desgraça de perder o trabalho. O que efectivamente querem é o desconto para a Segurança Social, o que não é displicente uma vez que a SS tem de ser financiada.

Por outro lado, o desemprego jovem é uma realidade e, com o estender da vida de trabalho, os lugares que deveriam ser entregues aos mais novos (por menos dinheiro, uma vez que os mais velhos estão nos escalões mais elevados, e com mais inovação) permanecem ocupados.

Penso que se conseguiria um equilíbrio melhor se em vez de obrigarem os mais velhos a perpetrem-se no trabalho lhes dessem oportunidade de gerir o seu restante tempo ainda útil, dispensando-os para a felicidade de serem donos do seu tempo. Como o problema se prende com o financiamento da SS, o contributo para a SS seria estendido até aos 67 anos. Complementem isto com um tecto máximo de reforma, proíbam a acumulação de reformas com remunerações do activo e acabem com as tretas dos casos de reformas extraordinárias para quem não tem, pelo menos, 30 anos de trabalho com descontos.

Helena Araújo disse...

Ora aí está um plano de reforma com pés e cabeça.