terça-feira, 1 de março de 2011

O que eu lhe diria

Orelhas de BurroSe fosse eu que mandasse e se a senhora que quer mandar numa data de democracias, que julga serem suas regiões, me chamasse ao quadro negro, começaria logo por lhe dizer que tinha feito os trabalhos de casa e que não estava na disposição de aceitar que ela me mandasse fazer, de castigo, mais uns quantos tpc’s.

Isto era o início da conversa porque logo de seguida explicava-lhe que as salsichas têm duas pontas iguais, como afirmavam os anarquistas portugueses da década de setenta.

Explicava-lhe que deixámos de pescar, de cultivar, de ter leite, de produzir têxteis, de fazer siderurgia, de ter indústria naval, etc., porque cumprimos a nossa parte do acordo e que esse acordo tinha contrapartidas que importava fazer cumprir na outra ponta.

Explicava-lhe que os submarinos, os electrodomésticos e os automóveis dão emprego e receitas na Alemanha mas que tem de haver dinheiro para os comprar. Explicava-lhe que o Euro não é o Marco. Explicava-lhe que os portugueses não são os indigentes do Reich e que se os berlinenses quiserem vir à praia irão ter de pagar aos empregados de balcão e aos nadadores salvadores o mesmo que pagam dentro das suas fronteiras. Explicava-lhe que o nosso sistema de ensino público serve também para lhe fornecer a mão-de-obra especializada que ajuda a manter o motor da Europa a funcionar. E explicava-lhe muito mais, porque a senhora está a precisar que lhe expliquem coisas, principalmente se forem relacionadas com o respeito que os Estados Europeus têm de ter uns pelos outros e que essa é a base da coesão da União Europeia.

O que eu não lhe diria era que estava na disposição de tudo sacrificar para que ela ganhasse eleições no seu burgo até porque, mesmo que assim estivesse disposto, isso não dependeria de mim mas sim daqueles que me tinham dado mandato para lhe dizer tudo isto.

Talvez assim ela compreendesse que fosse melhor guardar as orelhas de burro em vez de mas tentar enfiar na cabeça.
LNT
[0.074/2011]

15 comentários:

folha seca disse...

Caro Luis
Se fosse o meu caro a ser chamado dir-lhe-ia essas coisas todas, que desde já mereceriam a aprovação e apoio de grande parte dos Portugueses que ainda se vão interessando por estas coisas. Mas há um problema. É que não é você a ser chamado...

Luís Novaes Tito disse...

Verdade. Não serei eu mas é para dizer o que eu faria e o que eu penso que tenho um Blog. :)

Há quem tenha Blogs para dizer o que os sábios dizem ou disseram e há os que façam disto um caderninho diário para dizerem o que pensam, que é o meu caso.
Abraço

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Caro Luís

Subscrevo na íntegra o que diz. Não há Europa sem solidariedade, não pode haver Mercado interno sem política das regiões, social e sem integração dos mercados.

Anónimo disse...

Caro Luís
mesmo com todo esse esforço -que subscrevo- creio que a senhora Merkel não ficaria a perceber o que significa União Europeia. Deve pensar que é RFA+RDA .

Helena Araújo disse...

Luís,
peço-lhe que desenvolva um pouco esta ideia:
"Explicava-lhe que deixámos de pescar, de cultivar, de ter leite, de produzir têxteis, de fazer siderurgia, de ter indústria naval, etc., porque cumprimos a nossa parte do acordo e que esse acordo tinha contrapartidas que importava fazer cumprir na outra ponta."
Concretamente: quais foram as contrapartidas combinadas?

Ponto de Vista disse...

Meu caro Barbeiro:
Parabéns. Tem toda a razão. Estou de acordo com o que diz.
Sabemos quem da nossa parte aceitou as regras de funcionamento da UE e quem acabou com todas as actividades produtivas que enumera.
Há que exigir, no mínimo, que se cumpram as contrapartidas.

Luís Novaes Tito disse...

Helena, vou desenvolver no corpo do Blog. Não exaustivamente porque isto é só um blog, mas espero deixar minimamente clara a ideia do que penso sobre o assunto.

Anónimo disse...

Só é de lamentar o facto de os portugueses lá fora trabalharem que nem uns moiros e aqui em Portugal fazerem muito pouco.
Nós somos de facto assim. Gostamos de ter muito dinheirinho no bolso e ter uns bons jogos de futebol e termos muitas damas com quem curtir, etc. Agora trabalhar.....
Como se dizia antigamente "é bom pró preto". Em Portugal que trabalhem os otários.
Depois disto só resta andar de cócoras perante o gigante alemão. Eles não vão em cantigas.
Boa tarde e VIVA A BOA VIDA, que é como quem diz "Dolce fare niente".

Luís Novaes Tito disse...

O anónimo deve estar com um espelho à sua frente.
Conheço muita gente em Portugal que trabalha tanto e tão bem ou melhor do que qualquer alemão. O que nunca acontece em Portugal é que esses recebam o que recebe qualquer alemão.
Esta linguagem está fora de moda por não ser verdadeira. Foi sobejamente usada para os patrões enriquecerem à custa dos trabalhadores.
Já basta o que basta.

Helena Araújo disse...

Anónimo,
Por acaso tive oportunidade de comparar duas empresas "intimamente ligadas", uma portuguesa e uma alemã, e ver que os colegas em Portugal trabalhavam muito mais e com muito mais empenho que os alemães.
Ultimamente disseram-me que é a portuguesa que garante os lucros à "mãe" alemã.

Luís,
por acaso já vi quem viesse de Portugal, onde ganhava muito bem, para a Alemanha, onde não ganhava tão bem mas também não trabalhava tanto.

Isto há de tudo, para todos os gostos. Convinha vermos bem de quem estamos a falar quando dizemos "portugueses" e "alemães".
Fico impressionada com os sinais exteriores de riqueza que vejo em Portugal: os carros caros, os restaurantes cheios, as casas de férias... - são coisas pouco comuns entre as pessoas do meu meio social na Alemanha.

Luís Novaes Tito disse...

Helena,
Essas coisas por cá são mais baratas do que por aí. Mas não é assim que quero falar, porque sei porque é que isso acontece.

É que na Alemanha os empresários (pequenos, médios e grandes) separam as empresas dos seus próprios bens. Vantagem para os alemães e para o Estado alemão.

Em Portugal os carros são das empresas, os cartões com que pagam esses jantares também, e por aí fora. Se se toca nesses "pobres", ai Jesus e aqui d'el rei que estão a atacar os empreendedores (e o resto da conversa de chacha que a Helena conhece).
Depois de fazerem tudo isso ainda dizem que o Governo é um malandro e que não cuida das empresas que eles ("empresários" e "quadros") descapitalizam com essas tropelias.

Como já disse antes, há aqui muito para mudar e fazer. Se nos estrangularem não se fará nunca o que se tem de fazer agora.

Um aparte: Pode ser que os "seus" alemães não tenham, aí na Alemanha, essas casas de férias, mas convido-a a dar um salto ao Algarve e vai ver o que uma reforma alemã dá para fazer em Portugal, inclusive na aquisição de casas de praia.

Helena Araújo disse...

Ainda no aparte: essas reformas do tempo das vacas gordas já se foram. As pessoas da minha idade não têm dúvidas: pagaram para os pais, mas não vão ter quem pague para eles. Anda toda a gente a tratar de um seguro de poupança-reforma, porque já se sabe que a reforma a que se tinha direito não é tão certa como se pensava. A história de só permitirem a reforma aos 67 anos é um grande truque: se as pessoas meterem a reforma antes, recebem menos.

Anónimo disse...

A linguagem do anónimo está fora de moda????
Será que disse alguma mentira????
Vai lá vai... Tenho a impressão que existe autismo a mais em Portugal

Luís Novaes Tito disse...

Disse uma grande mentira, sim.
Não meça os outros por aquilo que faz.

Anónimo disse...

Olhe que não, olhe que não!!!!!!!