terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Porque é que eu não emigro

Homem atadoPudesse eu, tivesse vinte e poucos anos, não tivesse filhas nem netas, nem casa para sustentar, fosse licenciado a fazer de professor, não tivesse descontado mais de 2/3 da minha vida para garantir uma segurança na velhice que me anunciam não ir ter, não tivesse investido em Portugal, no bem dos portugueses, no ensino das minhas descendentes, na defesa do meu País, não tivesse deixado o couro (e literalmente o cabelo) na defesa da democracia, na oportunidade dada ao Primeiro-Ministro para se educar à minha custa e de ter sido tratado por médicos que eu ajudei a pagar e de usar as auto-estradas que ainda estou a pagar e que as minhas filhas e netas irão continuar a amortizar, não fossem todas essas razões e mais uma mão cheia que não direi aqui, entre elas as que inviabilizam a partida devido aos roubos na remuneração que me é devida e que servem para pagar todos os luxos de que os nossos governantes não abdicam, e faria como o Senhor Primeiro-Ministro sugere.

Emigrava
.

Não para os PALOPS ou outros de língua oficial portuguesa, mas para países onde os offshores fossem garantidos, tivesse, claro, tido oportunidade de ter poupado uma vida inteira porque não tinha criado portugueses novos, nem os tinha educado, porque não tinha descontado 2/3 de uma vida para um fundo que foi inúmeras vezes atacado pela ganância e pelo absurdo (como aquilo que agora pretendem fazer com os fundos de pensões dos bancários), não tivesse investido em Portugal e no bem dos portugueses, nem na defesa do meu País, nem tivesse pago os estudos de um homem que hoje é Primeiro-Ministro, nem as auto-estradas que ele usa, nem os médicos que o tratam nem o raio-que-o-parta, mais as meninas que já não vão receber prendinhas, a não ser a pequenina, nem os almoços no Forte de São Julião e as luzinhas de Natal com uma estrelinha que os guie.

Tivesse eu meios para emigrar, para não ter de ouvir estes tipos, não ter de me deprimir cada vez que anunciam que aquilo porque lutei uma vida inteira foi uma fantasia, embora tudo tenha feito e pago para que fosse uma realidade para mim, para as minhas filhas e netas, e já tinha emigrado ou pelo menos tinha emigrado o aforro para evitar que esta gente lhe deitasse a mão.
LNT
[0.606/2011]

5 comentários:

Luís Novaes Tito disse...

Os tipos olham para nós com aqueles olhos gulosos de carneiro-mal-morto como quem olha para um naco de toucinho magro na esperança de ainda ser possível voltar a centrifugá-lo para usar a gordura na fritura do pedaço de lombo que lhe está destinado.

mdsol disse...

Um abraço, senhor barbeiro.

:)))

folha seca disse...

Caro Luis
Revejo-me em muito do que diz.
Apenas me parece que temos que adiar o calçar de pantufas e ir à luta. Sim os nossos filhos e netos não perdoariam à nossa geração o termos ficado quietos, mesmo com o reumático já a querer atacar.
Abraço

George Sand disse...

Nós não. Já somos "cotas". Mas os nossos filhos, estão a sair em força. Eu tenho uma, que pediu para ir estudar para fora aos 16 anos...e lá está. Se volta? tenho as maiores dúvidas.
Aproveito para lhe desejar um feliz Natal a si e a todos quantos frequentam este espaço, muito especial, na blogosfera. Espero que o ano de 2012 não seja tão mau como se antevê...que traga pelo menos ideias. E bom senso.
Ontem fiquei francamente aprensiva com as medidas anunciadas no sector da saúde...qu afecta as pessoas na sua maior fragilidade

José Gonçalves Cravinho disse...

Pois eu,já com os meus 21 anos mas inexperiente ou palerma,tentei ir
em 1946 para França,mas clandestino
e então fui caçado pela Pide de Franco e estive 3 meses detido.Só em 1964 e já com 40 anos de idade é que tive a oportunidade de ser
incluído num grupo de operários
emigrantes para trabalhar numa Fábrica na Holanda onde ainda viv
Em Portugal nada tenho excepto os meus familiares.Até mesmo a pequena
pensão de velhice a que me julgo com direito,me foi roubada pela Caixa Geral de Aposentações,por eu ter obtido em 1972 a nacionalidade
holandesa e isto baseado num Decreto/Lei de 1972.Ora eu pedi a nacionalidade holandesa para poder assegurar a minha estadia e o meu trabalho aqui,quando já tinha 46 anos de idade e não queria voltar para a pobreza em que vivi em Portugal.Eu só vendi a minha fôrça de trabalho ao estrangeiro,mas não vendi a minha alma que continua portuguesa até morrer.Êsses filhos da pata que os amassou em má hora e que desgovernam o País e o vendem
aos bocados aos estrangeiros,não são mais portugeses do que eu.
A Pátria-Mãe p'ra mim madrasta/
empurrou-me p'rà emigração/
e maldita seja a Governação/
que Portugal p'rà miséria arrasta.