segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Inadmissível (act.)

Vitor Gaspar e Wolfgang Schäuble Mário Crespo retratou-se.
Fez bem.

Mas Mário Crespo, homem que há muito deixou de ser jornalista para ser um comentador que se põe em pé de igualdade com os seus convidados e que passa a vida a pedir cabeças, devia ter-se demitido. Era o mínimo que podia fazer, inclusive, por ter induzido em erro os seus convidados.

Retratou-se pelos comentários produzidos no seu programa em que se chamou arrogante ao Ministro Alemão, Wolfgang Schäuble, por ele estar a falar sentado enquanto que o nosso Ministro Gaspar estava de pé. Acontece que o Ministro alemão estava sentado porque se desloca numa cadeira de rodas.

Procurei já o filme da retratação mas, como foi há pouco, ainda não está disponível na SICn.

Quem me conhece sabe que não sou pessoa para pedir a demissão de ninguém, mas isto é demasiadamente grave para ficar só por uma retratação.
(Nem sequer me vou pronunciar sobre a partilha de responsabilidades que ele fez com Ruben de Carvalho. Mesmo tendo sido o Ruben de Carvalho a pedir-lhe que o fizesse (e tendo sido Ruben de Carvalho quem proferiu os comentários), o assunto tinha de ser tratado em separado porque foi o Crespo que introduziu a questão para a qual, pelos vistos, não estava devidamente preparado)
LNT
[0.113/2012]

9 comentários:

Unknown disse...

A gaffe foi de Rúben de Carvalho. Mário Crespo não o corrigiu, daí a partilha de responsabilidades com Rúben. Pode ver o vídeo aqui: http://t.co/xkbBUxgv ao minuto 8:30.
Inqualificável...

Luís Novaes Tito disse...

Como bem diz quem se espalha ao comprido é Ruben de Carvalho. Não só no minuto 8 e seguintes, como no 9:45 e seguintes, como no 18:00 e seguintes, ou no 23:20, etc.

Não vi esse programa. Só vi o de hoje onde Crespo se retrata (e bem, como disse no meu texto).

Nesse que refere vejo Mário Crespo, que tem responsabilidade acrescida uma vez que é o jornalista que convida, a lançar o tema e a andar com vários comentários atrás dele, mas adiante.

Hoje (já tentei rever as declarações que penso estarem em http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldas9/article1344735.ece mas aparece uma mensagem a dizer "video not found or access denied") Mário Crespo assume as suas culpas. Continuo a achar que é pouco. Continuo a achar que ele, sempre tão disponível para "malhar" deveria por o seu lugar à disposição.

Finalmente entendo que a SICn deveria disponibilizar a filmagem de hoje dando-lhe o mesmo relevo que é dado ao programa do dia 10.02

Ana Cristina Leonardo disse...

Só uma coisa me confunde nesta história (não vi o programa do crespo, não tenho tv): o facto do senhor ser paralítico altera o quê na história? É que o problema, pelo menos para mim, nunca foi o gaspar estar em pé e o ministro das finanças alemão sentado. O problema, pelo menos para mim, sempre foram outras 3 coisas:
1. Confirmar, pela conversa, que quem manda é a Alemanha e a Europa é uma fraude
2. O Gaspar andar a dizer que tudo vai vem no reino de portugal e dos allgarves e depois, em privado, demonstrar que o que anda a dizer é uma albrabice.
3. Confirmar que a crise europeia anda a ser tratada em função das eleições na Alemanha.
O resto... foi uma infelicidade que aconteceu ao senhor (que, aliás, enquanto bom luterano, sabe com certeza que a graça - ou a desgraça - divina não depende das das obras)

Luís Novaes Tito disse...

Essas três coisas são sabidas, mas não são essas três coisas que me fizeram escrever este post.

O facto do senhor estar numa cadeira de rodas em nada altera essas três coisas, mas altera a forma como as abordagens são feitas e a seriedade com que elas devem ser tratadas na comunicação social.

Se vir a peça em http://t.co/xkbBUxgv (aviso já que é um pouco penoso) ficará logo com uma ideia do que a má preparação pode provocar (acredito que seja mesmo só um problema de desconhecimento). Imperdoável, principalmente no caso do jornalista anfitrião porque ao lançar uma questão tinha obrigação de estar informado.

Helena Araújo disse...

Ana Cristina, as coisas não são tão simples. Primeiro, a Europa é realmente uma fraude, mas a culpa não é só da Alemanha. Ainda não vi outros países a unirem-se com um projecto alternativo a este da Alemanha. Pode ser falta de informação minha, mas parece-me que a Alemanha está a ocupar um terreno deixado livre pelos outros. Aliás: parece-me que está a ser obrigada a tomar medidas e a fazer esta figura de mandona, porque mais ninguém sabe o que fazer nesta situação.
Agradeço - sinceramente! - que me diga que este comentário está errado, e porquê. Gostava mesmo de saber que esforços é que os outros países têm desenvolvido para salvar a ideia da Europa.

Em segundo lugar, isto não é uma mera questão de ganhar eleições. Se a Alemanha decidir aumentar a sua dívida pública para garantir o pagamento das dívidas de outros países, é preciso que os contribuintes alemães estejam de acordo. A dívida pública alemã já é demasiado alta, o próprio Estado alemão anda a poupar imenso a todos os níveis (adiamento de obras públicas importantes, contenção das despesas correntes, etc.) e as pessoas partem do princípio que os compromissos são para respeitar. Ou seja: se é para fazer novas dívidas imensas, também é preciso ver como é que vão ser pagas.

Claro que o povo alemão se pergunta porque é que tem de pagar as dívidas dos gregos que não se conseguem organizar para pôr as classes altas a pagar os impostos. E que dá imenso trabalho explicar que não é só isso, que há muito mais em causa.

Do mesmo modo, um alemão vê aquela auto-estrada de seis faixas entre Leiria e a Nazaré, bastante vazia, e pergunta-se se havia realmente necessidade. E o governo alemão tem de explicar às pessoas que isto não é bem assim, que não é só isto, e os jornalistas alemães têm de escrever artigos a corroborar que de facto os portugueses merecem e valem bem o esforço que os contribuintes alemães serão chamados a fazer.

Ana Cristina Leonardo disse...

Helena, as coisas nunca são simples. E quando se trata de capitais financeiros, meu deus, é como se entrássemos num acelerador de partículas! Já agora, aconselho vivamente o livro de Michael Lewis The Big Short, para que se perceba (ou, pelo menos, se tente perceber) o tipo de doidos a que estamos entregues. Voltando à Grécia, talvez as coisas sejam simples para quem tenha perdido o emprego ou/e a casa, e se veja tão encurralado que faça como a grega da fotografia que subiu para o parapeito do edifício do escritório de onde irá ser certamente despedida e fique lá em cima a olhar o mundo, a pensar se tem ou não tem coragem para se atirar no vazio.
A Europa é uma fraude. A Europa foi o sítio melhor do mundo para se viver no pós-guerra. Talvez tenha sido a coisa mais próxima da justiça em toda a história da humanidade. Mas o dinheiro, sabe, Helena, está a cagar-se para a humanidade. O dinheiro, ao contrário dos proletários do Marx, que foram desaparecendo, internacionalizou-se. Foram fazer dinheiro para a China, para a Índia, para onde era mais barato. E lixaram com ph esta merda toda. A nós, portugueses, pagaram-nos para abater barcos, deixar de cultivar e o resto, um foi para as auto-estradas cavaquistas, essas que agora estão desertas, outro para o bolso dos corruptos que andaram a fechar fábricas no norte e a comprar jaguares. Enquanto os corruptos deram dinheiro a ganhar, a Europa, essa puta (e pardon my french) não se importou com o que faziam. Mas quando acordaram para a vida... o dinheiro fora-se. Vão cobrá-lo a quem? Ao tipos com ordenado mínino, aos velhos das pensões, aos funcionários públicos, à malta que ganha 1000 euros por mês e de repente pasaram a ser vistos como milionários. Brincamos, não é? Os lucros dos bancos sobem, as grandes fortunas aumentam, mas a culpa é dos gregos. E a Alemanha no meio disto tudo. A Alemanha anda a pensar noutros carnavais. Nos países do Leste, no mercado chinês. E foi mantendo a corda (como fizeram os franceses) apertada até conseguir tirar de lá parte substancial do dinheiro (falo dos bancos, naturalmente9. É um problema de contabilidade. Já sacámos o que podíamos, então agora que se lixem. Ninguém faz políticas daquelas a sério, porque, simplesmente, é impossível os gregos pagarem. E estou a deixar de lado, um pormenor sobre o qual também me interrogo: quem apostou no incumprimento grego vai ganhar quanto. Agora dir-me-á, sim, mas os gregos é que se enterraram a si próprios. Acredita mesmo nisso? Houve corrupção, houve má aplicação dos fundos, tudo isso. Mas quem é que andou a emprestar barato? Quem é que se esteve a borrifar para controlar contas? A grande Europa. Isto dos Estados é um pouco mais complexo do que a economia doméstica. E querer misturar moralidade com capitalismo é o mesmo que querer misturar duas substâncias insolúveis. Isto era um projecto europeu, pelo menos no papel. assim sendo, a Europa tinha obrigação de não ter deixado a coisa chegar a este ponto. O Banco Central teria que ter desvalorizado (emitido) moeda (como fizeram os EUA). Deixar a situação chegar a este ponto é a prova provada que nunca houve vontade real de o resolver. A solidariedade é boa para os pobres. E sim, a Grécia ainda está à espera que a Alemanha lhe pague a dívida da II Guerra. Quanto aos gregos, eu gosto de gregos. Nos campos de concentração, em que a coisa era bem simples, os judeus gregos foram dos mais corajosos. E aí era assim: um herói era um herói morto. Não me lixem com a contabilidade dos grandes financeiros. Isto para mim é um nojo. E vai assim o comentário, grande, caótico e sentido. Anacrónico, provavelmente.

Helena Araújo disse...

Ana Cristina, há aqui coisas muito simples em que, segundo me parece, estamos de acordo:
- a Europa é uma fraude
- a solução apontada pela Alemanha para resolver esta crise é um erro brutal, porque vai lançar toda a Europa numa recessão provavelmente comparável à grande depressão do fim dos anos 20; é também um erro brutal porque opta por proteger os interesses financeiros completamente desgovernados (já agora: ao abrigo de um enquadramento legal totalmente inadequado, que resulta da falta de entendimento entre os Estados) à custa das classes médias e mais pobres.
- O desaustinado sistema de especulação financeira está a conseguir destruir as economias, a destruir os princípios de solidariedade social que pareciam tão inabaláveis, e a atingir o próprio funcionamento das Democracias.

Onde já tenho algumas dúvidas:
- A "justiça europeia" dos últimos sessenta anos construiu-se por conta de excepcionais taxas de crescimento económico (que já não são possíveis) e de um forte sistema de redistribuição (que, na Alemanha, começou a falhar há alguns anos), mas também de uma série de erros: um endividamento progressivo e cada vez mais incomportável para pagar as conquistas sociais (há pelo menos vinte anos que ouço dizer que o "contrato de gerações" tem os dias contados, e que em algum momento não vai haver com que pagar as reformas, por exemplo), a exploração dos países do terceiro mundo, etc.
Tenho alguma dificuldade em dizer "justiça" quando falo sobre o bem-estar europeu, porque muito desse bem-estar é pago com o sofrimento de muitos não europeus e, devido ao progressivo endividamento, terá de ser pago também pelos nossos filhos e netos (no caso de se entender que as dívidas contraídas pelos governos são mesmo para ser pagas algum dia).

Helena Araújo disse...

(continuação)


- Quando em Portugal me dizem que se trocaram as indústrias, a agricultura e as pescas por autoestradas desnecessárias, sinto uma enorme perplexidade: qual era a ideia dos políticos que assinaram esses acordos? E porque é que continuam a andar por aí impunemente, em vez de serem chamados à sua responsabilidade? Para além de não perceber que seja possível entregar as pescas (por exemplo) em troca de nada, não percebo essa insistência em dizer que a Europa é que nos enganou. Somos crianças de infantário a quem facilmente se rouba um chupa-chupa? É assim tão fácil enganar os portugueses?
- A Europa devia ter controlado o que se estava a passar em certos países, e devia ter posto travões bem antes? Isso chama-se ataque às soberanias nacionais. Não havia um quadro legal europeu que permitisse interferir nas políticas orçamentais dos governos e nos seus processos de endividamento nos mercados. Ou alguém está a imaginar Bruxelas a dizer ao Sócrates que estava proibido de ir pedir o próximo empréstimo de x milhões, porque Portugal já estava demasiado endividado? E enquanto durou o fartar vilanagem de países a pedir dinheiro emprestado com juros baixos, não porque os mercados acreditassem muito na capacidade de esse país pagar, mas simplesmente porque estavam na zona euro e os outros países do euro seriam com certeza solidários: algum dos governantes da Grécia, da Itália, da Espanha ou de Portugal se lembrou de ir à Europa dizer que era preciso acabar com este sistema, porque era demasiado arriscado? Não. Enquanto durou, foi uma festa; mas quando rebentou, os outros é que têm a culpa. Há milhentos exemplos de má gestão de fundos em Portugal. Todos nós fomos testemunhas de casos de esbanjamento, corrupção, incompetência com caríssimos custos. Enquanto assistíamos calados a isso, não nos perguntámos quem ia pagar as despesas? E agora dizemos que a culpa é da Europa, que não acordou mais cedo para o que se passava no nosso país?
- Quanto aos gregos: gosto muito dos judeus gregos, corajosos ou não, gosto menos dos gregos que ajudaram os alemães a mandar os judeus para os campos de concentração. É um povo como todos os outros: há de tudo. Por acaso também gosto dos alemães de Berlim que esconderam judeus até ao fim da guerra, apesar de o Himmler querer a cidade "limpa", e apesar do preço a pagar se fossem descobertos: a morte ou o campo de concentração, e a entrega dos filhos a famílias nazis, para serem reeducados.

Isto é tudo muito mais complicado do que cabe numa caixa de comentários. A única coisa que eu queria deixar claro é que me parece errado fazer da Merkel o monstro e o bode expiatório dos erros que todos nós cometemos, de uma ou outra maneira. Não foi a Merkel sozinha que nos trouxe para esta situação, e convinha que cada país olhasse para as suas próprias responsabilidades em vez de se armar em vítima. Repito: ainda não vi nenhum país (ou grupo de países) a apresentar à Europa uma proposta para resolver esta crise de outra maneira. O papel que a Alemanha está a ter neste momento pode ter muito de calculismo, egoísmo nacional e incompetência, mas os comentários tipo "o que Hitler não conseguiu, a Merkel está a conseguir" são absolutamente despropositados.

Helena Araújo disse...

Um pequeno reparo: aquela referência à Merkel e ao Hitler foi um deslize no comentário anterior, porque a Ana Cristina Leonardo não estava a falar disso. Eu é que misturei as críticas da Ana Cristina com outras que tenho visto por aí. Mantenho a afirmação - pintar a Merkel de bigodinho é um disparate de todo o tamanho (e andam por aqui uns interessantes laivos de racismo) - mas isso é tema para outra conversa.