terça-feira, 1 de julho de 2014

O mal está feito

BoteroAs bandeiras da papoila 71.602 (2.18%) enroladinhas a um canto da sala, as outras da terra 234.603 (7.14%) no mesmo estado mas em canto oposto, os 306.205 votos queimados (9.32%), a lebre refugiada lançada por mão alheia de um sótão qualquer do ACNUR e, imediatamente após ter feito saltar o galgo, já com todos os gatilhos apontados para abate abrindo lugar a personagens da antiguidade (grega ou romana) para o pátio dos bichos, a oposição irresponsavelmente posta a ferro e fogo com consequências imprevisíveis, a situação a esfregar as mãos de Pilatos e a continuar a encher os baús com o que pagará os votos que pretende receber para a seguir voltar a desprezar e os nacionais confiscados a ver toda esta miséria, dizendo mal da vida enquanto aumentam o seu desprezo por aquilo de que deveriam orgulhar-se.

O mal está feito, muito mal feito. O acerto de contas está em campo, violento e em jeito de golpe de estado. O estado do Estado está miserável, quase tão miserável como o estado dos que não entendem que o colectivo está acima dos seus interesses pessoais e olham para a porcaria que fazem sem perceber que ela arrasta pessoas para a fome, para a privação do sustento, para o exílio forçado, para o retorno à desqualificação, para a morte à falta de assistência.

O mau deste mal é o próprio mal. E o mal está feito e tem nomes. Imperdoável.
LNT
[0.274/2014]

9 comentários:

ibmartins disse...

Completamente de acordo com este seu texto.
Menos, é claro, no nome dos responsáveis.

Porque para mim, face ao caminho que se adivinhava com cada vez mais certeza - um governo de coligação com o actual com uma diferença mínima - um PS fraquinho sem qualquer capacidade de impor uma alteração à política actual, a iniciativa de AC de se mostrar disponível para propor e liderar uma alternativa na forma de fazer oposição, é não só legítima como muito louvável e corajosa.

Já o adiamento da clarificação da liderança é imperdoável.
Mesmo imperdoável.

C.C. disse...

Consonante com ibmartins.
E entendo que depois do disparate de se não convocar congresso, onde se discutisse no plano das ideias e não dos "interesses", a estratégia a seguir, e imediatamente o lieder, tudo o que se fizer para contrariar o movimento em redor de AC é prejudicar o PS e o País.

lourenço disse...

Tem nomes olá se tem, Passos, Portas Barroso Seguro etc. e tal os coveiros deste país o aniquilar da esperança

Luís Novaes Tito disse...

Putsch, assalto ao poder, querem dizer.
Direito, democracia, regras, são palavras banidas como se estivéssemos em tempo de estado de sítio ou em tempos revolucionários.
Cada qual terá de assumir perante o povo português as responsabilidades da sua irresponsabilidade.

Anónimo disse...

Afinal ainda será/foi pior do que parecia. Não dá para acreditar.
Conceição

ibmartins disse...

António Costa não fez nenhum assalto, contestou a liderança e pediu que seja dada voz aos militantes do PS.
Pelo número de vozes que o acompanham, dentro e fora do PS, parece-me que não fez uma leitura errada nem fora de tempo.

Se Seguro não tem capacidade para liderar, para congregar e mobilizar, nem no interior do seu partido, deve deixar a liderança do PS, porque a liderança do país é muito mais exigente.

Se acredita que é a pessoa mais indicada para liderar o PS, não teria melhor oportunidade de o demonstrar e de reafirmar e fortalecer a sua liderança.

Qualquer das opções de Seguro seria honrada, patriota e democrática.
Qualquer que fosse o resultado das eleições internas o país teria ficado melhor.

Coloco um pedaço da entrevista a António Campos que li mesmo agora e resume muito melhor do que eu faria as consequências da opção de Seguro:

"A radicalização só é possível porque o mecanismo de solução foi negado aos militantes. Adiar a solução é radicalizar a situação, com custos políticos incalculáveis. É uma irresponsabilidade que degrada a política."

Luís Novaes Tito disse...

A irresponsabilidade foi de quem avançou contra todas as regras estabelecidas e ainda mais uma irresponsabilidade feita na praça pública.
Não adianta tentar inverter a situação porque é assim mesmo.
Quanto à solução que foi apresentada para resolver essa irresponsabilidade já disse mil vezes neste Blog que pessoalmente teria preferido que tivesse sido mais breve, mas isso não tira o ónus de quem cometeu a irresponsabilidade.
A democracia não se faz com vozes, mas sim com votos.

Jaime Santos disse...

A principal linha argumentativa do Luís Tito continua a ser a de vincar a 'irresponsabilidade' de Costa ao ter decidido avançar. Para além disso, há ainda um ou outro chiste a Costa pela ausência de críticas relevantes a Sócrates quando devia, mas tal chiste atinge igualmente Seguro, note-se, antes e depois de 2011. Está no seu direito, embora a resposta do seu SG à crise tenha revelado a incapacidade do mesmo e da sua equipa para lidar com esta situação (mostrando no entrementes que não são uma real alternativa ao Governo da Direita), quando poderiam ter aproveitado a ocasião para se relegitimarem em face do desaire efetivo que foi o resultado de 25 de Maio e a forma desastrada como reagiram a ele. Mas nada disso parece ser para si muito relevante, embora o tenha de facto reconhecido nestas páginas, e mais do que uma vez. Alguém disse que o Rei ia Nú e este, em lugar de se cobrir, desatou a gritar que de acordo com os Estatutos, isso não pode ser assim, é preciso primeiro esperar pelas Legislativas, para só depois dizer tal coisa... Quanto à questão de que a Democracia se faz com Votos e não Vozes, são as Vozes que permitem que o Voto seja livre, mau grado a espécie de Sidonismo que parece imperar hoje no PS, fruto da última revisão dos Estatutos... Seguro portou-se melhor com Sócrates do que Costa com Seguro? Pois olhe, é pena, se calhar Seguro já devia ter assumido a sua condição de homem livre há muito tempo, em vez de se limitar a ser um soldado disciplinado do Partido (a expressão é de Pires de Lima)... Também é isso que é preciso que mude no PS. Não sei se Costa é o homem para o fazer, sei sim que Seguro não o é concerteza...

ibmartins disse...

O que depreendo da sua posição é que
- uma liderança não pode ser sujeita a avaliação antes do seu termo, quaisquer que sejam os resultados

e
- Acredita que Seguro será capaz de obter uma vitória muito expressiva nas legislativas que vai permitir ao PS conduzir a governação
ou
- não sabe se o resultado nas legislativas será muito melhor do que o das europeias - o que obrigará a uma coligação fraca com o psd/cds (outros?), mas não se importa, desde que os prazos sejam respeitados.

Não compreendo de todo.