segunda-feira, 30 de junho de 2014

Uma tribo política que se agrega por emoções

Parque Eduardo VIIO que Correia de Campos não explica, ou porque não sabe, ou porque quer fingir que não sabe, ou porque gosta de dissimular, ou porque, pura e simplesmente faz parte de uma tribo política que se agregou por emoções, é que não é possível fazer uma afirmação com o teor "A situação é muito clara: uma forte maioria sociológica aspira por Costa, dentro e fora do partido" sem que tenha havido sufrágio que o confirme.

Pelo contrário, todos os sufrágios, internos e externos até hoje realizados comprovam que Seguro tem uma sólida maioria sociológica (e não só).

. Ficou claro quando Assis, de que Correia de Campos foi apoiante, foi concorrente à liderança do PS e se quedou pelos 32.02%(Seguro foi eleito secretário-geral do PS com 23.903 votos, correspondentes a 67,98%, contra 11.257 de Francisco Assis, correspondentes a 32,02%);

. Ficou claro quando, há um ano, Seguro se candidatou pela segunda vez ao cargo de SG e quase não teve oposição;

. Ficou claro quando Seguro liderou o processo autárquico e venceu as eleições recuperando um eleitorado que tinha sido perdido pela direcção anterior do PS. Para além do mais recuperou também a presidência do Conselho Directivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses e da Associação Nacional de Freguesias (de que lamentavelmente há a assinalar a morte de Joaquim Cândido Moreira);

. Ficou claro quando Seguro liderou o processo para o Parlamento Europeu e venceu, recuperando a primeira posição antes perdida pela direcção cessante do PS. (eleições em que toda a direita obteve uma das suas maiores derrotas de sempre).

O que Correia de Campos não explica é que os tais “comentadores e fazedores de opinião” que ele refere são Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Sousa Tavares e comp.ª que são a “direita” representada na comunicação social e que a “esquerda” e a “mais ou menos” lá representada pelos da Quadratura do Círculo e por aqueles cómicos do Eixo do Mal, além de outros avulsos como o próprio Correia de Campos, são praticamente todos apoiantes de Costa.

O que Correia de Campos não explica é no que consiste a blindagem dos Estatutos do Partido Socialista. Limita-se a usar o chavão para que fique no ouvido e pareça verdade, para além de parecer que os Estatutos não foram revistos por uma maioria qualificada de militantes do Partido Socialista (a quem ele chama “complacentes” ou “distraídos”)

Decididamente é preciso honradez, embora não pareça necessária a quem nas tribunas na comunicação social se apresenta como equidistante, mesmo desrespeitando os votos e a vontade dos militantes do Partido a que pertence.
LNT
[0.272/2014]

O barbeiro [ XIV ]

O BarbeiroAntónio entrou apressado porque tinha muitos compromissos agendados e deu uma palmada nas costas do Sr. Luís ao mesmo tempo que, de rajada:

- Vê lá se te despachas, pá, que tenho uma pressa dos diabos e não tenho a tua vida de barbeiro. A minha exige muita movimentação para arregimentar um número diverso de apoios capazes de me libertarem do núcleo que me tenta aprisionar.

António e Luís conheciam-se há décadas. Como todos os verdadeiros amigos nem sempre estiveram de acordo e, mesmo quando de lados contrários da barricada, nunca deixaram confundir a sua amizade com as opções de cada um. Desta vez a coisa era mais difícil porque, diferente de agora, António sempre tinha discordado do Sr. Luís em defesa de segundos figurões.

- Vamos lá à função, António, que já sabes que daqui não sais com um pelo fora do sítio. Acomoda-te como te acomodaste com a declaração de alguns fundadores. Tens sorte de já restarem poucos, infelizmente, o que faz parecer que quem fundou a coisa está maioritariamente contigo, mas aqui para nós que ninguém nos ouve, deixa ficar grandes dúvidas porque quase todos sempre respeitaram as regras que fundaram para que a coisa não fosse anárquica e nunca conduziram um putsch como o que está em curso. É verdade que muitos deles elegeram e foram eleitos de um lado ou de outro, que quase todos se baterem sempre com lealdade e fizeram-no de acordo com os tempos próprios, com processos eleitorais agendados e nunca em afronta ao poder democraticamente instituído. Vivemos outros tempos, sei, mas o que queres? sou mais velho do que tu e não deixo de ter estas referências como guia de vida.

António sempre calmo, com aquela calma que o caracterizava desde a conquista da JS e da FAUL e que nunca o inibiu de fazer o que sempre achou ser necessário fazer para atingir os seus fins, respondeu com o seu sorriso: - Lá estás tu com os pruídos de sempre, escrúpulos que nunca te deixaram ir além da função que exerces. O caminho é estreito, meu caro, e por ele só passa um de cada vez. E agora é a minha vez. Foi-me anunciado, percebes?

E para rematar: - É pá, acaba lá com isso que já estás a exagerar no desbaste.

O barbeiro foi buscar a escova que passou para a mão de António com um: - Vê lá se te limpas, pá e vai-te à vida que por aqui fico a ver – te escangalhar o que tanto trabalho deu a construir.

Abriu-lhe a porta de saída do ar condicionado e com um aceno de velhas camaradagens despediu-se com um “espero que o nosso próximo encontro seja mais confluente”.
LNT
[0.271/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Barbering Books [ XX ]

Barbering Booksque poder de ensino o destas coisas quando em idioma:
um copo de água agreste plenamente na mesa, só em linguagem o copo me inebria
– placa de gelo em que lóbulos do cérebro? –
e exalta-me a transparência, porque fora, sob administração geral:
ciência, literatura, economia, gramática,
nada, nenhum copo, nenhuma água na mesa,
me fazem sangrar a ferida essencial, ou mover-me às cegas e às avessas até ao último reduto;
só antes, por trás, depois,
à frente, eu sinto que a membrana de vidro, reservando uma pouca
de água miraculadamente do caos dos dicionários,
me despedaça como primeira palavra,
não apenas os dedos, mas dedos e memória, devotação de vida;
a lição do nome que não tem Deus, e de que o nosso nome diminuto se aproxima;
basta aquela água delgada enquanto algures ceifam na terra, edificam;
água colhida no verbo copo ou em Deus advérbio de modo,
e há um nó interno requeimado, um nó semântico, e um calafrio trespassa a bic preta,
e em nativo escrevo a música de ouvido,
e o ar que está por cima enche todo o caderno,
e equilibram-se o copo sobre a toalha, transparência, plano de água,
e dedos e papel e script e trémula superfície da memória, tudo passado a multíplice e ardente
Herberto Helder
Faca não corta o fogo

LNT
[0.270/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXXIV ]

LNT
Furnas do Guincho - Cascais - Portugal
LNT
[0.269/2014]

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Estou contigo, Costa, pá!

Magritte"Havia coisas em que o PS devia ter-se demarcado do nosso último governo, que cometeu naturalmente erros"

Havia coisas boas - como aquelas de reconstruir escolas que estavam um chiqueiro – e coisas más – como aquelas outras de se terem apetrechado essas escolas com equipamentos de ar condicionado tão potentes que as escolas não dispunham de orçamento para os pôr a funcionar.

Havia coisas boas – como aquelas de acabar autoestradas inacabadas – e coisas más – como aquelas outras de enterrar milhões nos caboucos de autoestradas paralelas às que se acabavam de construir.

Havia coisas boas – como aquelas de apoiar Manuel Alegre numa segunda campanha presidencial – e coisas más - como aquelas outras de ter permitido que numa primeira campanha presidencial se tivesse entregado o poder a Cavaco por se ter preferido dividir os votos socialistas.

Havia coisas boas – como aquelas de arrancar com uma reforma do Estado através de um bem desenhado PRACE – e coisas más – como aquelas outras de ter abandonado a meio essa reforma não resistindo aos lobbies existentes na Administração Pública e se ter metido, pela primeira vez, a mão no bolso dos funcionários do Estado para compensar esse abandono.

Havia coisas boas – como aquelas de corrigir os abusos e desleixos que existiam na educação e na justiça – e coisas más – como aquelas outras que só serviram para denegrir e desautorizar os professores e os magistrados.

Havia coisas boas – como aquelas de evitar que o assalto do BPN se transformasse num estoiro colossal da banca portuguesa e no prejuízo dos seus depositantes – e coisas más – como aquelas outras de não se ter nacionalizado todo o grupo para evitar que se tivesse de ir buscar o dinheiro roubado aos bolsos dos contribuintes em vez de o ir recuperar aos bolsos de quem o tinha roubado.

Havia muitas outras coisas boas e muitas outras coisas más. Mas calaste-as durante três anos, Costa, porreiro, pá! O que foi pena porque: "Havia coisas em que o PS devia ter-se demarcado do nosso último governo, que cometeu naturalmente erros", e tu eras Presidente da Câmara de Lisboa, dirigente do PS, membro de todos os órgãos superiores do Partido Socialista, construtor da Quadratura do Círculo e mais um monte de coisas e nunca ninguém te viu a demarcar delas.
LNT
[0.268/2014]

Barbering Books [ XIX ]

Barbering BooksPorque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andersen
Porque - Mar Novo

LNT
[0.267/2014]

O barbeiro [ XIII ]

O BarbeiroVisivelmente bem-disposto e com as baterias carregadas pelo sopro de mar do dia anterior, o Sr. Luís recebeu Janita à porta. Desta vez nem para um cafoné era, somente uma conversa de pé de orelha, como costumavam dizer os clientes do Ipiranga retornados do saudoso campeonato do Mundo.

- Olá Sr. Luís, soube que ontem andou por bandas da margem direita onde confluem águas bravas, mar sem fim, a rapaziada da Quinta da Marinha e as conspirações novas-ricas do Porto de Santa Maria.

- Bem-vinda Senhora Dona Janita. Em primeiro lugar um agradecimento à bondade que me dispensou no seu Cantinho. Trouxe-lhe um pé de erva-príncipe para um chazinho. - Dito isto o barbeiro desapareceu por uns instantes para ressurgir com dois copos altos cheios de chá frio temperado com uma gota de Gin. – Isto é um refresco bom para a azia e estou a pensar comercializá-lo num boteco de que sou sócio ali para os lados do Convento das Trinas. Além do mais é uma mezinha analgésica, antidepressiva e antibacteriana e combate a transpiração e o pé-de-atleta o que a transforma numa janela de oportunidades naquela zona.

- Bem precisa deve ser por lá, Sr. Luís, mas deixemos de lado as negociatas futuras que o tempo é de encher os pulmões e vem aí um fim-de-semana perfumado com as sardinhas em fim de Santos e com os odores expelidos pelas Damas da Noite que já fazem antever as caipirinhas no Maré Alta, os figos com presunto e mel na Noélia e as tiras de choco frito do Pedro de Cabanas. Conte-me lá o que espera deste Verão.

- Vai ser coisa calma, amiga Janita. Entre o calça-descalça do barco para a ilha, o empurra-não empurra do passadiço para a praia, o chega-e-parte dos familiares que vão estar só uns dias, o espera-não espera para arrefecer a casa de banho do duche anterior, o mói-não mói do gelo das caipiroskas e gins que antecedem o jantar, o talha-não talha das maioneses que acompanham os coze-não cozas demasiado as gambas da dona Margarida e o parte-não parte as unhas e o corta-não corta as mãos nas cascas das ostras que teimam em não ser vendidas já abertas e com limão, vai ser coisa mansa (nunca consigo pronunciar esta palavra sem me lembrar dele). Afinal haverá sempre tempo para descansar das férias e, como se prevê que o Verão irá ser propício para que o Governo ponha na mesa a sopa dos pobres que anda a cozinhar, haverá também tempo para o retorno à (a)normalidade.

A conversa ia boa e a efusão relaxante já fazia efeito quando Janita se levantou para regressar à sua loja. - Tenho de ir. Bom fim-de semana Sr. Luís, descanse que isto, para a semana, promete.
LNT
[0.266/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O barbeiro [ XII ]

O BarbeiroAproveitando o facto de amanhã ser dia de comemorações de nascimento, o barbeiro virou a tabuleta de “fechado para descanso do pessoal” e atirou-se às tarefas de desinfecção e esterilização dos utensílios com que trabalha os seus clientes.

Os primeiros a caírem no caldeirão em ebulição foram as toalhinhas quentes. Seguiram-se, nos tachos mais pequenos, os pentes, as navalhas, as lâminas, as tesouras e as redes de protecção da máquina zero. Finalmente, no pote maior, deixou ferver as toalhas de rosto, os babetes de pescoço e as jaquetas de mestre.

Enquanto tudo se desinfectava, o barbeiro, com os seus botões, meditava em como teria sido mais limpo e curial se, quando Sócrates se demitiu e se abriu o processo de sucessão, Seguro tivesse assumido o que dele fez Secretário-geral, isto é, se se tivesse deixado de rodriguinhos e de punhos de renda e tivesse dito aquilo que todos o que o apoiavam pensavam e se Costa não se tivesse deixado ficar na mândria a ver no que as coisas davam e, em vez de Assis, tivesse assumido aquilo que agora acha dever assumir.

Mesmo que não tivesse sido nessa altura, porque a “narrativa” ainda se podia confundir com as falácias que os adversários externos tinham usado para se imporem ao País com uma maioria absoluta, deveria ter sido naquela segunda altura, há um ano, que tudo deveria ter ficado mais claro se cada um tivesse tido a responsabilidade de assumir, como suas, todas as benfeitorias e malfeitorias que herdaram, mas assim não foi (ah o pensamento do barbeiro a fugir para os “juízos de intenção” e a levarem-no para as teorias de que nessa altura ainda havia muito caminho para caminhar e muito voto escorregadio que não garantia que o caminho caminhado já perspectivava uma chegada à meta. Afinal Guterres ainda só andava pelos refugiados, afinal a mágoa portuguesa ainda podia não estar curada, afinal as vitórias que tinham sido antecedidas de derrotas ainda se mediam pela bitola de vitórias-vitórias e não pela bitola de vitórias-de-Pirro.)

Estava o barbeiro nisto quando, meio amargurado por ver a vida a andar para trás numa altura de balanços e acrescentos aos anos que já lhe pesavam, deu por esgotado o tempo de fervura em que tinha os seus preparos.

Arrumados os utensílios para depois de um dia para o outro ficar mais velho, aferrolhou a porta e, sem olhar para trás, foi à vida que tinha lá fora.
LNT
[0.264/2014]
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Maria João Rodrigues

Maria João RodriguesHá aproximadamente um mês fomos chamados a exercer o direito de escolha dos representantes portugueses no Parlamento Europeu. O Partido Socialista apresentou a melhor e mais categorizada lista, assim entendido pelos lusos que a sancionaram maioritariamente. (Aqueles que se deram ao trabalho de perceber a importância destas eleições e não se perderam em apreciações desviantes, nem em brincadeiras de redução de votos).

Infelizmente, apesar do bom resultado português, nem todos os candidatos necessários para reforçar o S&D foram eleitos o que contribuiu para que o Grupo Europeu se ficasse pelo segundo lugar, sendo mais difícil implementar o projecto Europe - a call for change, tendo ficado Martin Schulz somente como Presidente do Grupo Parlamentar, e se inviabilizasse a visão de retorno aos princípios de freedom, equality, solidarity, diversity and fairness que, traduzido, coincidem com os Princípios que, desde sempre, orientam os socialistas portugueses.

Chorou-se no fim da contagem de votos portugueses que a vitória de tudo isto foi insuficiente, mesmo tendo-se partido de uma derrota maior e apesar de uma minoria de socialistas, que se deveriam ter envolvido incondicionalmente para eleger a sua lista e reforçar o Grupo Parlamentar Europeu S&D, se tivessem perdido em apreciações que promoveram a abstenção ou o desvio de esforços para aventuras inconsequentes destinadas a abrir caminho para projectos que nada tinham a ver com o propósito das eleições europeias.

Ainda assim, o contributo português reforçou a equipa nacional no S&D e foi um dos melhores resultados nacionais conseguidos nos 28 países que elegeram deputados europeus.

Esse reconhecimento, o da qualidade dos deputados portugueses e o da quantidade de deputados eleitos, acaba de ser reconhecido pela nova direcção do S&D e temos a honra de contar com uma Vice-presidente, Maria João Rodrigues, o que prestigia o Partido Socialista e reforça a voz portuguesa na Europa.

Quando no dia 1 de Julho se reunir, em Estrasburgo, o novo Parlamento Europeu, a direcção do maior Partido da oposição à linha liberal que tem governado a Europa na última década, passará a contar com uma voz de defesa dos direitos dos portugueses que contrabalançará as teorias de que só nos resta estar na Europa na condição de bons alunos.
"We must not delay a process which the people of Europe have voted on. Jean-Claude Juncker should be given a mandate to find a majority in the European Parliament, with a clear commitment from all democratic groups.

"However, our Group will only support a Commission president who is ready to take on the big challenges in the EU: ending austerity, tackling unemployment – especially among the young – curbing the rise in poverty and social exclusion, beating the tax cheats and making Europe competitive with more investment, modernised infrastructure and a more flexible interpretation of the Stability and Growth Pact."

“It is time to start working on the Europe of tomorrow we all need."
LNT
[0.263/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXXII ]

Enguias Murtosa
Enguias à Murtosa - Por aí - Portugal
LNT
[0.262/2014]

terça-feira, 24 de junho de 2014

Sonhos portugueses

TAP INEM
LNT
[0.261/2014]

Escolas

Tito de Morais, Luis Novaes TitoUma das minhas referências políticas sempre foi Manuel Tito de Morais. Homem prosseguido pelo anterior regime, preso, torturado, maltratado, exilado, resistente sempre.

Homem de convicções fortes, socialista de sempre, fundador na clandestinidade de diversos movimentos políticos, fundador da ASP e do Partido Socialista, fundador do Portugal Socialista, construtor do PS (por extenso) depois da liberdade, resistente sempre.

Foi seu parceiro sempre. No Partido que ajudei a implementar na sociedade portuguesa. Na Secretaria de Estado do Emprego, na Secretaria de Estado da População e Emprego, na Presidência da Assembleia da República, nas lutas ao lado e contra Mário Soares. Resistindo sempre.

E mesmo quando com ele não estive política e pontualmente, estive com ele sempre, com a sua escola de coerência a que Almeida Santos gosta de chamar teimosia.

Com Tito de Morais aprendi a resistir, mesmo – se necessário - com sofrimento físico, na defesa dos meus princípios. Com ele aprendi que um eleito que cumpre as suas promessas nunca se deve demitir porque tem obrigação de respeitar os votos que recebeu.

Com Tito de Morais reaprendi o que já tinha aprendido em casa com a minha Mãe, com os meus Avós, com uma família que é portuguesa há tanto tempo como aquele que a própria Nação tem.

Lá estarei no jantar do dia 30 para recordar mais uma vez o seu exemplo, a sua escola, a sua resistência.
LNT
[0.260/2014]

Barbering Books [ XVIII ]

Barbering BooksO homem abriu o envelope do Manuel e retirou de lá o passaporte falsificado e três camisas de vénus. Colocando estas à esquerda do copo, pensou: “Se o gajo tivesse feito trabalho duvidoso não se punha a gozar”. Guardou o passaporte no bolso interior direito do casaco. E nesse instante viu que um vulto se detinha em frente dele. Levantou a vista e deu com ela nas olheiras do Henrique.

“Tivarich Tchaikowsky”, disse-lhe o homem. “Sente-se. O que toma?” Continuava contente. O Henrique sentou-se, com os olhos ferrados nas camisas de vénus.

“Não tomo nada”, disse o Henrique. “Você arranjou abrigo?”

Uma grande voz gritou perto da mesa deles:

“Ó patrão, não há direito que você sirva melhor a clientela bem arreada. Olha os tremoços que ele dá a quem veste fino”. Era um guarda-fios enorme, a suar em bica. Estacara à porta da Rua da Escola Politécnica e apontava as camisas de vénus a toda a tasca.

“É servido?”, perguntou o homem pegando num desses objectos.

“Não cabe nos postes”, disse o guarda-fios. “E a patroa trabalha sem rede. Bom proveito”.

“Por que raio é que você escolheu este sítio?” perguntou o Henrique. O homem guardou os preservativos no bolso exterior esquerdo do casaco coçado.

“Por causa dos lustres”, explicou, apontando os seres alados empunhando candelabros de três lâmpadas, um de cada lado da porta com bandeiras de vidro verde. “Esta é a única tasca de Lisboa que tem cúpidas. Pensei que isso talvez nos desse sorte”.

Nuno Bragança
Directa

LNT
[0.259/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXXI ]

Salsichas com couves lombarda
Salsichas com couve lombarda - Por aí - Portugal
LNT
[0.258/2014]

Chico


LNT
[0.257/2014]

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O barbeiro [ XI ]

O BarbeiroWalter, antes de se sentar, virou-se para o barbeiro com o sorriso humanista e atirou-lhe: - Sr. Luís, vou-me rir tanto se Costa for o candidato às próximas legislativas. Nunca me passou pela cabeça que o meu amigo chegasse a este fanatismo pelo "grande líder" Tózé.

- Bom dia, também para si, Prof. Seja bem-vindo a este meu estabelecimento e diga-me o que o trás por cá, para além dessas conversetas desalinhadas em que tem andado.

- Ora Sr. Luís, vim ao caldinho do costume. Ando aqui de cabeleira farta e desgrenhada e depois a malta pensa que isto é uma anarquia e apresenta-se aos exames de chanatos e bermudas pensando que a sala de aulas é o bar do Tamariz ou as Comissões nacionais onde o desrespeito pelas regras, anteriormente aceites por todos, pretende tornar um conclave legal num jogo de sueca.

- Então faça o favor de tomar o seu lugar que já o ponho fino.

Walter é um dos clientes antigos. Tinha uma sala de explicações de humanidades lá para o fundo da rua que deixou falir por falta de tempo e escassez de clientela. Todos o sabiam Professor, mas ninguém assim o tratava (com excepção dos alunos) porque nunca tinha conseguido ser comentador da quatro. Bom tipo, embora fundamentalista com tendências anárquicas.

Já de tesoura na mão, o barbeiro pediu ao cliente que se pusesse a jeito, o que bastou para que ele disparasse: - Hei-de lhe fazer chegar um volume com as maravilhosas e mui sensatas propostas que o meu santinho anda a cozinhar para tomar conta do pedaço e fazer o milagre da multiplicação dos peixes a partir da sardinha que os seus arregimentados deixaram ficar ao Tózé.

- Meu caro Prof., – iniciou o barbeiro enquanto que, com a mão esquerda, lhe segurava o crânio para evitar que a excitação nervosa de Walter o levasse a picar-se nos bicos da tesoura – a sardinha, como o senhor diz, foi deixada magra e seca por quem entregou este País ao actual poder. Volto a lembrar-lhe que foi o anterior governo que garantiu à direita um Presidente da República, uma maioria absoluta na Assembleia da República, um Governo inominável de incompetência e mentira, a grande maioria do poder local e a maioria da nossa representação da Europa.

- Note, meu caro Prof., que eu não caio nessa de dizer que a culpa foi só do Sócrates, porque ela foi de toda uma gente que deveria ter caído com ele quando o “Tózé”, como você diz para tentar diminuir o secretário-geral do nosso Partido, se bateu contra Francisco que na altura tinha à sua sombra todos os que agora estão à sombra do santinho. E digo-lhe em abono da verdade que, no meio de tudo isto, Sócrates foi o único que teve a hombridade de ceder o seu cargo ao reconhecer que lhe faltava legitimidade política, enquanto todos os seus apaniguados se acantonaram nas tribunas parlamentares para dali enfraquecerem as redes seguras que o “Tózé” foi deitando ao mar.

Agora que já se começa a ver novo cardume, são esses mesmos acantonados, que exigem que o paciente pescador abandone o barco porque, dizem, encontraram um ser divino para timoneiro, capaz de milagres de multiplicação dos peixes sem trabalho e que, com magias de perlimpimpim, garanta que a tripulação se mantenha a bordo.

Deu-me trabalho, meu caro Prof., mas deixei-lhe a nuca em ordem. Ainda havia que aparar mais uns cabelitos anarcas mas fica para a próxima, quando lhe der jeito e eu tiver cadeira vaga.
LNT
[0.256/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Barbering Books [ XVII ]

Barbering BooksMostrava-lhe as fotos na escrivaninha, seu trisavô com os reis da Bélgica, seu tetravô andando de costas em Londres, mas ele não queria saber de velharias.

Acompanhava-me aos sebos por benevolência, mas ficava parado do lado de fora com as mãos nos bolsos. Nem buço o moleque tinha, quando notei que se dedicava a espiar mulheres na avenida. E me arrepiei porque, de relance, num mero meneio de cabeça ele encarnou meu pai. Olhava as mulheres tal e qual meu pai, não de modo dissimulado, nem lascivo, muito menos suplicante, mas com solicitude, como quem atendesse a um chamado. Por isso as mulheres lhe eram gratas, e a seu tempo começaram a procurá-lo em casa, foi de tanto dormir no divã da sala que Maria Eulália ficou corcunda.

Ao som de sambas, rumbas, rock and roll, o Eulálio se entretinha no quarto com empregadinhas do bairro, caixas de supermercado, namorou até uma oriental, garçonete num sushi bar. Trazia também colegiais, um dia o vi entrar com uma menina muito branquinha, cheirosa, um andar gracioso.

Dessa vez colei o ouvido num copo contra a minha parede, curioso dos gemidos dela, queria saber que melodia tinham. Por baixo de uma batucada distingui sua cantilena triste, aguda, que subitamente deu lugar a gritos guturais, fode eu, negão!, enraba eu, negão!, e não sou homem que se melindre à toa. Mas assim que cruzei com ela, me vi compelido a lhe dizer, o negão aí é descendente de dom Eulálio Penalva d'Assumpção, conselheiro do marquês de Pombal.
Chico Buarque
Leite derramado

LNT
[0.255/2014]

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cock luche

CockForam a Florença buscar um homem cheio de atributos, canudos e pergaminhos, especialista em direito europeu e constitucional e em mais uma catrefada de coisas, um comendador por mérito agraciado por Sampaio, e fizeram dele um ministro que em nada sobressai daquilo que por aí vai e acrescenta incompetência à incompetência deste poder podre que só não cai porque cristalizou na mão de um arbusto fossilizado.

Assim se estraga o que é bom e se reafirma, uma vez mais, a sabedoria popular:
"Quem nunca comeu melado, quando come... se lambuza"

Provérbios populares à parte, e tendo no seu vasto currículo que até já foi ministro, fazia-nos um favor imenso se voltasse para a escola onde dava aulas para continuar a honrar Portugal, lá fora, com o seu saber.

É que as patacoadas já são tantas que ainda corre o risco de acrescentar aos seus dados biográficos o recorde mundial da velocidade de desmentido de asneiradas colossais.
LNT
[0.253/2014]

Barbering Books [ XVI ]

Barbering BooksÓ minha terra na planície rasa,
Branca de Sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas... a dormitar
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu
aonde a minha Mãe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz... truz... truz - Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada! ...
Florbela Espanca
Sonetos

LNT
[0.252/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIX ]

Cabidela
Cabidela - Por aí - Portugal
LNT
[0.251/2014]

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O barbeiro [ X ]

O Barbeiro- Boa tarde Sr. Luís, venho para um aparo de patilhas que está a chegar o tempo de praia e não quero sombras na cara.

- Ora viva, Sr. Jaime, faça a fineza de se acomodar que já lhe faço o serviço.

O Senhor Luis puxou do cabedal de afiar a navalha e deu-lhe duas, três, quatro, chanfalhadas. De seguida passou o papel a testar o corte, mergulhou o pincel na espuma e deu início à função.

- Mestre, não perca a razão por perder a cabeça no afio da navalha. Tenha cuidado com as minhas orelhas, que quem as fez já não está em condições de fazer umas novas.

Com um sorriso, o barbeiro (que adorava quando o tratavam por mestre) deixou a navalha valsar com ritmo e suavidade pela cara do seu cliente porque se apercebeu que se lhe fosse só às patilhas a barba ficaria por fazer. – Tenha calma, amigo! Fique sossegado que só no tempo do meu avô é que os barbeiros também eram sangradores. Aqui, ainda não se usam lâminas descartáveis, mas as navalhas são sempre objecto do maior asseio e de fio irrepreensível, assim como a minha mão que raramente tremelica.

- Sabe que desconfio sempre de tais precisões. É como aquela caldeirada que andam a cozinhar no PS. "Se eles transformarem esta luta numa vendetta, então, se ganharem o Partido (ou o que sobrar dele) perderão o País... Se perderem, seria bom que pudessem sair deste episódio de cabeça erguida e prontos a afirmarem-se como oposição interna, porque as derrotas de hoje são as vitórias de amanhã... Se eu não acredito de todo que AJS possa chegar a PM, não é de todo adquirido que Costa possa por sua vez ganhar as legislativas".

O barbeiro, sempre a sorrir, pegou no paninho quente para lhe acariciar a face e, em sussurro: - Sr. Jaime, Sr. Jaime. Então o senhor não sabe que para haver oposição interna é necessário haver moção, programa, linhas de orientação e os insurrectos ainda não conseguiram mostrar o que quer que seja que seja diferente das linhas de orientação aprovadas pelo poder instituído? É verdade que há muitos beijos, abraços, carinhos e multidões, espingardas e baionetas em riste, mas ideias...

- Acabámos. A sua carinha macia como o rabinho de um bébé. Volte sempre!
LNT
[0.250/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Por direito divino

Viva Filipe VI de España
Viva o Rei


Casa Real Espanhola

Costa Lisboa

(ops! desculpem, enganei-me no evento)


Agora sim, viva o Rei!

Viva Filipe VI!

Felipe VI
LNT
[0.249/2014]

O ritual da beatificação

Costa LisboaAssim por contas rápidas, umas 15 ou 16 freguesias de Lisboa a 20 pessoas cada, mais uma catrefada de gente das vereações e assembleia municipal e mais um molhinho de deputados rebeldes, adjuntos, assessores e tal, e prontus, não há Tivoli que chegue e não fosse a Avenida da Liberdade, o andor não tinha conseguido sair do adro.

Espero que, como se faz nas outras orações evangélicas modernas, tivessem tido ecrãs gigantes cá fora para que os crentes pudessem ouvir as homilias proferidas a tanto cristão-novo.

Certamente foi mais povo que na procissão da Igreja de Santo António, embora menos que na entronização de Filipe VI de Espanha.

Oremos, pois, o faducho:
Cá vai a marcha, mais o meu par
Se eu não o trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não me digas não
Negócios de amor são sempre o que são
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo num altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
LNT
[0.248/2014]

Barbering Books [ XV ]

Barbering BooksOra a verdadeira palavra do homem é a palavra escrita, pois só ella é immortal. Mas enquanto o ensino da palavra falada é o encanto das mães e filhos, o ensino da palavra escrita é o tormento de mestres e discipulos. Extranha diversidade em coisas tão irmãs!

Deus na sua providencia não o podia determinar assim. Ha-de haver meio facillimo, grato, universalmente acessivel, de espalhar essa arte, ou antes faculdade, sem a qual o homem não passa de um selvagem.

Este meio ou esse methodo encantador pelo qual as mães ensinam a falar, que é falando, ensinando-nos palavras vivas, que entreteem o espirito, e não letras e syllabas mortas, como fazem os mestres. Pois apressemo-nos tambem nós a ensinar palavras; e acharemos a mesma amenidade.
João de Deus
Cartilha maternal

LNT
[0.247/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVIII ]

Arrosada de caralhosos
Arrosada de caralhosos - Por aí - Portugal
LNT
[0.246/2014]

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O barbeiro [ IX ]

O BarbeiroRui entra de repelão e abanca na cadeira vaga.

Nem bom dia, nem boa tarde, que o corte tinha de ser rápido e curto porque o dia era de festividade e havia horas para o encontro na sala de cinema transformada em Igreja Evangélica.

- Luís, rápido! Tenho pressa. Ando nesta fona do santinho e não descanso enquanto não o vir no trono com a caixa das esmolas cheia, a abarrotar.
Logo de seguida dispara: - "Pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro fez orelhas moucas e preparou-o para a função: - O meu amigo quer à máquina, à tesoura de desbaste, ou à navalha?

-Como queiras desde que me deixes uma poupinha à Ronaldo, mas despacha-te e "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano" - respondeu o cliente visivelmente bem-disposto e convencido de que organizações credíveis se regem pelos mesmos parâmetros do que as associações de bairro que se formam para umas sardinhadas e se extinguem quando os santos terminam.

-Amigo Rui, como o meu caro bem sabe, não é o facto de ter um topete à Ronaldo que o faz ser um goleador. O tipo desenvolve muito trabalho para poder parecer que aquilo que faz não precisa de trabalho algum, mas como o tempo é de espuma e de imagem, farei a poupa que me pede para que pareça um Ronaldo- respondeu-lhe o Sr. Luís.

- Lá, estás tu, barbeiro. É como te digo, tenho pressa e embora saiba que quem tem pressa come cru, volto à minha - "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro remata: - Rui, meu amigo. Isto está quase pronto. Falta um pouco de gel e, para fim de conversa, fica a saber que se existe um pântano é porque alguém o anda a escavar e a estagnar as águas que deviam estar agitadas e em crescendo para desassorear o pântano do cavaquistão em que nos meteram. Como é evidente, não me compete pedir a alguém que está de pleno direito, sufragado pelos seus pares e pela Nação, que se demita só porque alguém resolveu criar um mar de espumoso cheio de sombras e espectros. Aliás, nem sequer é bem essa imagem que a coisa tem porque, para quem vê de fora, a imagem é de um ninho feito com esforço e afinco por um pássaro trabalhador e de um cuco que agora, sem esforço, quer pôr lá os ovos.

Prontinho, poupa afinada, vai-te, e dá cumprimentos meus à assistência que hoje vai à homilia da capital para canonização do seu padroeiro.
LNT
[0.245/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

E depois de nós

CanasEsta nódoa negra que se está a espalhar faz antever um derrame muito mais profundo do que a mancha que se vê.

As organizações políticas são maiores do que a soma das partes que as compõem e só fazem sentido quando essas partes respeitam as regras de funcionamento em vigor e se centram nos princípios comuns que definem os pressupostos, objectivos e as metas a atingir.

Se o carisma dos líderes escolhidos para levar a bom porto os objectivos em conformidade com as metas desenhadas é um dos requisitos exigidos, porque o poder, em democracia, só é exercido por quem a ele acede, a agregação de vontades decorrente da contagem dos votos que atribui esse poder exige que todas as partes contribuam para a afirmação dos escolhidos.

Assim não foi e a hemorragia espalha-se.

O derrame tem de ser estancado antes que seja necessário uma flebotomia. Sabe-se que o sangramento enfraquece e já lá vai o tempo em que se acreditava que era através dele que se fortalecia, renovando o sangue.

Se a vitória não bastava, por curta, havia que acrescentar, nunca diminuir.

E depois de nós, como dizia a senha para a liberdade, o adeus, o ficarmos sós.
LNT
[0.244/2014]

Barbering Books [ XIV ]

Barbering BooksNormalizada a situação, com a posse do VII Governo Constitucional, presidido por Francisco Pinto Balsemão, compreendi que Balsemão e eu eramos aliados objectivos, sobretudo no que tocava ao projecto de revisão constitucional, que acabou com o Conselho da Revolução e, portanto, com a tutela militar sobre o poder civil, legitimado pelo voto popular.

A facção eanista dentro do PS (Zenha, Guterres, Sampaio, Arnaut, António Reis, Constâncio, Fernando Vale, Candal e Filipe Madeira, além, curiosamente dos meus velhos amigos Ramos da Costa e José Magalhães Godinho) entrou em ruptura comigo. Alguns por pouco tempo. Contudo, talvez por razões tácticas, não queriam destituir-me de secretário-geral. Só pretendiam esvaziar as minhas funções de poderes efectivos. Como se eu pudesse aceitar tal coisa. Tinham aliás uma maioria quase absoluta no antigo secretariado (que eu escolhera e fiz votar) e, numa proporção menor, no Grupo Parlamentar. O Congresso do PS estava marcado para os dias 8, 9 e 10 de Maio de 1981...
Mário Soares
Um político assume-se

LNT
[0.243/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVII ]

Bucho recheado
Bucho Recheado - Por aí - Portugal
LNT
[0.242/2014]

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sem ética me confesso

BerbigãoSei que não devia pensar isto, e ainda menos escrevê-lo, porque os guardiões dos bons costumes e da solidariedade socialista, ou seja, os sublevados que ética e fraternalmente insultam violentamente, todos os dias e a todas as horas, o meu (e seu) secretário-geral e restantes dirigentes eleitos e validados por eleições nacionais, hão-de apontar-me acusações, com ar grave e sério, de divisão, subtração e desunião.

Mas vou escrever "isto", sendo que o isto, é que se andam a encher, pelo menos para criar os melhores planos fotográficos e televisivos, salas alegadamente grandes e repletas, com alguns, poucos, locais e com o séquito autárquico da capital formado pela vereação (inclui assessores e adjuntos), pela assembleia municipal do cinema Roma e pelos executivos e assembleias das freguesias alfacinhas.

Provavelmente, a vaga fundamentalista costista transportada por machibombo da capital, bastaria para "preencher" espaços alegadamente populosos, como cinemas de província com duzentos lugares. Bastaria que aos quarenta auto-transportados se associassem os deputados revoltosos perfumados com o perfume filosófico mais feroz de sempre e alguns outros incensados com cortiça.

Setembro continua longe, infelizmente longe, infelizmente distante daquilo que Portugal reclama para evitar que, tal como dizia Zorrinho, se andasse nos intervalos da bola, a discutir o que já deveria estar a fazer o futuro Primeiro-ministro em vez de se discutir o que o actual e o seu vice andam a fazer.

Sei que não devia ter escrito isto, porque a solidariedade e a fraternidade socialista me deveriam ter condicionado na desmistificação da claque insurrecta.

Espero que a comissão de conflitos do meu Partido não venha a julgar-me por ter furado os princípios de solidariedade e fraternidade com os meus camaradas alevantadiços que estão, fraternalmente, a promover a rebelião contra os poderes internos democraticamente instituídos.
LNT
[0.241/2014]