tag:blogger.com,1999:blog-825041108515668641.post5720931702932922003..comments2024-03-20T23:16:46.499+00:00Comments on A barbearia do senhor Luís: Pela fé e esperança que a confiança comportaLuís Novaes Titohttp://www.blogger.com/profile/11261783911851441634noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-825041108515668641.post-42955380703053453632015-10-04T16:08:52.106+01:002015-10-04T16:08:52.106+01:00Zegama, no alto da montanha de rádio colado ao ouv...Zegama, no alto da montanha de rádio colado ao ouvido e os olhos postos no rebanho comandado pelo cão Pelisco, não perdia pitada da campanha para como ele dizia, mudar o rumo do país e mudar a direcção do seu rebanho bem perto dos baixios, junto à estrada onde aí podia ver a carreira e assim alegrar a vistinha com as catraias, num vai e vem para a escola tão longe da terriola.<br />Foram quinze dias a aturar as arruadas e os discursos dos Costas, dos Passos e da Martins. <br />Como o seu pensamento era para as catraias da carreira vinte e cinco, a Martins e as amigas eram, quem ele dava mais atenção.<br />Só elas desviavam a vigilância do rebanho sempre alinhado pelo Pelisco na procura dos rebentos escassos, devido aos malvados incêndios, que devastavam as pastagens e enfureciam Zegama, obrigando a audíveis impropérios que entoavam montanha abaixo.<br />No caminho que levava da sua humilde casa ainda feita de pedra centenária, até à Junta para votar. Pensava nas palavras dos nossos políticos que nesta altura tudo prometem e depois levam Zegama de volta ao monte longínquo, sem sonhos nem optimismo.<br />Meia hora levava de sua casa à Junta e deixar o rebanho fechado por trancas manchadas com as turras dos pobres bichos, inquietos por iniciar a diária caminhada em direcção à erva fresca da madrugada. Levavam-no por vezes a interromper a marcha pensando se valia a pena perder o seu precioso tempo com um voto que não iria valer nada. Só serviria para na aldeia saberem em quem ele votava. E como estava com ideias de mudar o seu voto e tentar mudar este país, logo saberiam que Zegama votou nos inimigos do outro lado do rio.<br />Mas Zegama era um homem que pensava com a sua cabeça só virada para o seu rebanho e de micar bem do alto, duas vezes por dia, a carreira onde sentia o perfume das catraias.<br /> Desta vez era ponto assente, que chovesse ou caísse pedregulhos do cimo da custosa montanha, iria cumprir o seu dever cívico.<br />Bem cedo chegou à porta da Junta.<br /> Ainda se contavam os boletins pelos membros, sempre os mesmos, que tudo pesquisam naqueles olhos de lobo assanhado, prontos a devorar qualquer ovelha tresmalhada, que venha com intenções de alterar o costume da contagem.<br />Como a hora de abertura ainda dava tempo para o mata-bicho, Zegama foi à tasca perto da igreja e de um trago lá se foi um. <br />Mais outro e já aliviava as tremideiras para não ser descoberto na mudança de partido. E por fim outro, que alegrou a confiança em ser homem de uma palavra só.<br />Documentos na mão dirigiu-se à mesa onde o presidente da Junta de óculos na ponta do nariz, lê o seu nome (só aí se lembravam do Zegama), de cor e salteado, já que nos documentos incrustados de lã escurecida, nada se via.<br />Boletim na mão, entrou no cubículo montado para a ocasião e…. Alto lá, onde está….<br />Passou um minuto tempo mais que suficiente para os membros saberem que não haveria hesitações por parte do pastor.<br />Dois, três e nada!<br />Zegama continuava embrulhado na pesquisa do quadrado onde iria desenhar com força e determinação a mudança de pensamento eleitoral.<br />Cinco minutos e todos já sabiam que daquele pastor só iria vir voto nulo. Já que foi ensinado a votar no partido do Abade e do presidente da Junta.<br />De peito feito entregou o seu boletim dobrado como mandam as regras e esperou que o presidente o deixasse cair na urna negra, como o tempo lá fora.<br />Recebeu de volta os documentos e cumprimentando os presentes com aquelas mãos calejados pelo cajado que guia o rebanho e o ampara em sonecas rápidas. Saiu calmamente batendo os socos na madeira já comida pelo bicho entranhado.<br />A montanha esperava-o. O Pelisco aguardava-o como guarda de um rebanho onde todas as ovelhas e cabras têm nome de fadas.<br />Os políticos enganam-nos, os governantes enganam-nos.<br />Os automóveis enganam-nos, os euros enganam-nos.<br />Votem ao acordar! As mulheres amam-nos!<br />Cantarolava enquanto enrolava um cigarro de barba de milho!<br />Nuno Pereirahttps://www.blogger.com/profile/07078931330623679449noreply@blogger.com