sexta-feira, 31 de maio de 2013

Olheiras

CaveiraO grande problema dos viciados da estatística é que perdem a faculdade de perceberem que cada décima da percentagem pode conter muito sofrimento, embora seja difícil quantifica-lo.

Deve ser por isso (pela perda das faculdades) que Gaspar tem os olhos tão encavados.

Mergulha na álgebra mal parida sem perceber que há vida para além das fórmulas idealizadas nas sebentas de quem sempre nada criou e que essa vida viva não admite ensaios que a extingam.

Deve ser também pelos pesadelos que atormentam Gaspar cada vez que recebe notícias de que as suas teorias são um falhanço que a cara lhe está tão marcada.

Ser-lhe-ia fácil entender se ele, os que o seguem e os que o norteiam, viessem à rua perceber que, depois de mortos, os portugueses (e não só) dificilmente conseguem ressuscitar.

(Sim, sei que a rua não lhes é agradável e que por isso se refugiam nos bunkers que os protegem, não vá o diabo tecê-las).
LNT
[0.144/2013]

Com papas e bolos

CenourasA cenoura do Conselho de Ministros de ontem foi o anúncio de que baixava em 1/3 o montante a partir do qual era possível atingir, em sede de IRS, o valor tecto da dedução para quem exija a inscrição do número de contribuinte em facturas de cafés, penteados e bate-chapas.

Seria pouco normal considerar que a medida é errada, porque o não é, ou que seria deslocada da realidade, porque ela contém a intenção importante de consciencializar os contribuintes portugueses para o facto de que a evasão fiscal é um crime contra todos os cidadãos que pagam impostos.

Logo, a cenoura posta à frente das orelhas de quem puxa a carroça até tem as vitaminas anunciadas mas continua a ser, sobretudo, mais uma técnica de propaganda destinada a desviar as atenções de todas as malfeitorias contidas nos restantes itens do Orçamento Rectificativo (agora, ainda por cima, sem almofada que evite mais um assalto aos trabalhadores lá para o fim do ano).

A comunicação social, principalmente a que adora cenouras, divulga mais este xarope até à exaustão, dando mais relevo à propaganda do que à notícia.

Esquece-se de que continuamos a falar de coisas absurdas (continua a ser necessário ter gastos naqueles três sectores na ordem dos 700 euros/mês para poder atingir o tal tecto de dedução) enquanto distrai dos cortes brutais que conduzirão a uma redução generalizada da qualidade de vida dos portugueses.
LNT
[0.143/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLXXVII ]

Banco Alimentar
e voltarei a ser este fim-de-semana - Banco Alimentar - Portugal
LNT
[0.142/2013]

quinta-feira, 30 de maio de 2013

As sandálias do governador

SapatosSe Juan Carlos tivesse ouvido hoje o governador do Banco de Portugal ter-lhe-ia, certamente, perguntado: "por qué no te callas?"

E teria tido razão para o questionar porque a barriga cheia e os sapatinhos engraxados de um homem que ocupa um lugar público não lhe dão o direito de evocar as sapatarias da Rua Augusta para explicar que elas não existem para calçar todos os descalços, mas sim para cederem o calçado a quem tem dinheiro para o comprar.

É este o verdadeiro estado da nação.

O Governador do Banco de Portugal entende que só se calça quem pode, ficando subentendido que também só comerá quem pode e que a obediência é para quem deve.

É o espírito desta gente que se anichou na manjedoura do Orçamento (ou abancou no pote, como diria Passos Coelho) e faz chalaça com quem põe a palha na manjedoura para que eles se banqueteiem enquanto troçam dos que os sustentam.

A teoria é velha. Já o Botas a usava até ao dia em que escorregou na banheira e descobriu que, calçados ou não, a todos espera marchar com os pés para a frente.

Estes selvagens só conhecem a lei da selva.
LNT
[0.141/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLXXVI ]

Murtosa
Murtosa - Aveiro - Portugal
LNT
[0.140/2013]

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Gatilho

Canos de armaMais claro não poderia ser o Ministro das Finanças na comissão, esta manhã.

Aquilo que Gaspar e Álvaro anunciaram na passada semana foi um gatilho. Pena que não explicasse melhor, para que melhor se entendesse, que a arma disparada continha um cartucho sem bala e de pólvora seca.

Ainda assim, um tiro é um tiro, mesmo que seja só de fulminante e a lentidão da narrativa foi-nos útil por permitir acompanhar a velocidade do disparo do seu pensamento e ainda os artifícios cadentes contidos na linguagem de trapos com que disfarça.

Quanto ao alvo estamos esclarecidos. Sempre os mesmos e sempre mais do mesmo na senda deste túnel em que nos meteram e a quem teimam acrescentar, em cada réstia de esperança, mais um segmento de túnel no lugar onde devia haver uma luz, por muito baça que fosse.
LNT
[0.139/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLXXV ]

Jacarandá
Jacarandá - Lisboa - Potugal
LNT
[0.138/2013]

terça-feira, 28 de maio de 2013

Gasparalhices

Cão Coelho
O que será que leva um homem que não tem qualquer pejo em ser deselegante com a humanidade existente em cada ser humano a quem tira a dignidade quando decreta que a sua felicidade reside no empobrecimento, a exigir elegância a quem questiona outros sobre as matérias que, quando lhe são questionadas, recebem em troca uma falsidade, uma meia-verdade, um erro de cálculo, ou um linguajar economicês incompreensível e desajustado da realidade?
LNT
[0.137/2013]

28 de Maio

ColaboradoraHaveria alguma possibilidade de hoje se repetir um golpe de estado que nos levasse a um regime autoritário? Teoricamente não, dado que embora estejam reunidas as condições de descrédito do regime actual que incluem o descrédito dos próprios órgãos de soberania (Tribunais, Governo, Assembleia da República e Presidente da República), não está reunido o consenso nacional para que a solução dos nossos problemas passe pelo fim da liberdade e pela suspensão da democracia.

A nossa integração na Europa e na zona euro (interessante verificar que cada vez mais aparecem vozes a pedir que se repense essa integração), a nossa instrução (interessante verificar que se queira limitar o acesso generalizado à instrução) e a nossa percepção de sermos “gentes do mundo” (interessante verificar que cada vez mais se incentiva a que as “gentes do mundo” abandonem as fronteiras nacionais) dificilmente permitiriam que nos fechássemos no rectângulo de forma albanesa.

Talvez só a questão da independência e do orgulho nacional pudessem servir de mola, mas o orgulho anda pelas ruas da amargura e a independência nacional já não é coisa geográfica.

Não duvido que em breve se irá exigir a alteração de muito.

As instituições terão de voltar a ser credíveis, os tribunais terão de voltar a ser justos (a celeridade e o fim da impunidade são medidas essenciais para essa nova justiça), a política e os políticos terão de voltar a revelar-se fiáveis e o Estado terá de voltar a ser pessoa de bem e de direito. O confisco terá de terminar.

Isto terá de se conseguir pela sociedade até porque já nem existem corpos militares para fazer revoluções, nem tão pouco armamentos capazes de submeter os cidadãos por muito tempo.
LNT
[0.136/2013]