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domingo, 9 de dezembro de 2012

Mãe

Este blog é a forma que decidi ter para comunicar publicamente. Umas vezes é político, outras é sentimental, outras é brincadeira, outras é sério e, algumas poucas vezes, é também o local de transcrição de outras escritas públicas e de publicação de outras expressões (pintura, música, gravura, etc.) que me tocam em especial.

Não é um diário do autor mas pretende ser um caderno de apontamentos.

O João M. Vidal entendeu fazer uma homenagem pública, muito sentida, à minha Mãe. É um texto de coração nas mãos do qual pedi autorização para extrair o que realmente interessa e republicar no meu blog, exactamente nos termos em que o faço de seguida, ao que o João Vidal acedeu de imediato.

É um acto de intimidade mas o orgulho de ter tido uma Mãe assim descrita obriga-me a partilhar o texto convosco. Obrigado João.
Luís Novaes Tito


Maria José NovaesNa “viagem da vida” todos nós sempre encontramos obstáculos e perder alguém a quem muito se quer não será dos mais fáceis: A Senhora Dona Maria José de Bragança Souza e Mello Gomes d’Abreu Novaes partiu para o Além!

Os mais novos só se lembrarão de uma “velha ranzinza” que, a todo o custo, tentava endireitar as pessoas e o mundo. Pois não saberão quem acabam de perder!

Esta Grande Dama, nobre dos quatro costados, de sangue mais azul que um céu de Verão, de uma coragem moral ilimitada e de grande beleza mental e física, foi das maiores e melhores Pessoas que tive o privilégio de conhecer em toda a minha vida. Filha de Pais abastados que lhe providenciaram a melhor e mais sofisticada das educações, viajou meio mundo, conheceu e conviveu de igual forma com príncipes e pobres e nunca perdeu uma oportunidade de se cultivar. Mas a vida não lhe foi generosa! Grandes dramas foram transformando esta gentil Senhora numa Dama de aço: Ainda em tenra idade perdeu a Mana querida, vítima de doença e, muito nova ainda, viu o seu casamento fracassar. Muitos foram os pretendentes à sua mão, com as maiores e mais sinceras promessas de amor e conforto, mas todas rejeitou: apesar de muito jovem ainda, nunca deixou que os filhos a vissem com outro homem que não fosse o pai deles.

Não me lembro do tempo em que ainda a não conhecia. No Colégio Manuel Bernardes, quando vinha buscar os manos Tito, com a sua beleza de estrela de cinema, sempre elegantemente vestida, era conhecida, entre nós, como uma das “Mães Brasa”. E não me lembro de nenhuma que fosse mais bonita! Mas cedo descobri que a beleza interna era ainda muito maior: Na Rua Sousa Loureiro as portas estavam sempre abertas para toda a miudagem e raras seriam as refeições em que só estivessem os da casa. Como, entre os filhos mais velhos, frequentemente, a conversa era sobre aviação, poucos meses após a morte do meu irmão Frederico em 1964, tinha eu 14 anos, muito tipicamente, resolveu passar das palavras à acção: Organizou com o famoso Coronel Cerqueira e levou-nos aos três a Sintra para voarmos. E assim ajudou a inspirar a carreira de três pilotos da Força Aérea: O Pedro em 1967, eu em 1968 e o Zé em 1969.

Sempre cumpriu da melhor forma que sabia o recado da vida: Educou todos os Filhos nos melhores colégios de Portugal e nunca deixou que lhes faltasse nada. O que certamente nunca esperou foi que o maior desgosto que alguém possa ter na vida lhe viesse bater à porta e acabasse por a quebrar: O António, o seu “menino pequenino”, encontrou a morte da forma mais terrível e descabida. Os mais novos só se lembrarão da Pessoa que sobrou desta tragédia: Amarga, revoltada e a querer mudar o mundo e as pessoas que a rodeavam. Mas não caiu!

Desde muito novo sempre mantive contacto muito próximo com a Tia Maria José, a Tia Zé ou a minha “Querida Zezinha”, como eu, por brincadeira e carinho, por vezes, a tratava. Fosse como simples “amigo dos miúdos”, genro ou ex-genro, em momento algum deixou que as circunstâncias afectassem o nosso contacto e relacionamento: Sempre tive nela uma amiga e confidente com quem sobre qualquer assunto poderia falar ou desabafar. Se hoje choro não é por ela que, finalmente, dorme em paz: é por mim, que, na minha alma, acabei de ficar muito mais pobre!

Adeus Zezinha Querida. Até qualquer dia!
João M. Vidal

[0.609/2012]