quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Filhas, Djavan e Direitos


Um dia, há 33 anos, a minha Mãe começou a ficar com a barriga grande e, desconfiada por ter engolido uma ervilha inteira, foi fazer uma coisa muito esquisita e inovadora a que chamavam “ecografia” para saber se era mesmo uma ervilha, e era. 

Só que a ervilha foi crescendo e no dia 29 de Dezembro de 1987 resolvi vir cá para fora para lhe dar cabo da passagem de ano. 

Ás 18:30 horas, cheia de pressa, subi para a balança para me certificar que tinha peso suficiente para a berraria e quando conferi ter 3,750 Kg enchi os pulmões para só me calar quando me deram de comer.


O tipo que estava a olhar para mim com baba a correr pelos queixos informou-me ser meu Pai e levou-me para o quarto 221. Pelo caminho disse-me que, em vez de ervilha, eu passaria a chamar-me Margarida Maria, mas como era um nome com muitas letras passou a tratar-me por Gugas, Guga, Gugu ou Guguinhas

Depois chegou uma outra miúda com um totó na cabeça, que depois vim a saber ser a minha irmã Catarina. Avisei-a logo que o seu reinado absoluto tinha terminado. 

Bem vi o olhar desconfiado da Catatau a espreitar-me como se eu fosse uma coisita esquisita que se preparava para dividir o espaço lá de casa e para partir-lhe os brinquedos de que mais gostava. 

O resto já sabem. 

Cresci, conheci o Martim, tive uma outra ervilha a que chamei Mariana e vivi até agora feliz para sempre. 

Muitos parabéns minha filhota fofa

Nota: O filme que montei tem como banda sonora uma pequena parte do "Nem um dia" do magnífico Djavan. A sua publicação no Facebook provocou uma infinidade de avisos sobre a proibição de reprodução em diversos Países (entre os quais não se encontra Portugal) devido aos direitos de autor.

Penso que Djavan não se teria oposto à colagem daquele trecho uma vez que não reproduzia a música completa e só serve para ilustrar uma montagem feita por um Pai confinado na pandemia que, por estar ausente no aniversário de uma das suas filhas, resolveu comemorar a data com um trabalho onde os acordes de Nem um dia faziam todo o sentido. 

Mas é o que é, e o que é não pretendeu ser outra coisa senão homenagear a Margarida usando alguns  acordes de um dos meus artistas de eleição sem beneficiar de quaisquer efeitos comerciais e só para uso privado. 

Como o trecho sonoro é curto vou ali ao YouTube buscar a faixa completa (com direitos licenciados para o YouTube) que deixo aqui para quem gosta de boa música.


Tenham um bom e feliz 2021 recheado de boa música.     
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.011/2020]

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Ninguém poderia querer ter melhor mandatária


Saber que Isabel Barroso Soares vai ser a mandatária da candidatura de Ana Gomes a Presidente da República só serve para reforçar a minha convicção de ter escolhido bem quando assinei a propositura da embaixadora para ser alternativa ao marasmo cordial e situacionista instalado no Páteo dos Bichos. 

Confesso que Marcelo Rebelo de Sousa não me criou quaisquer urticárias no mandato que está a terminar e que lhe serei sempre reconhecido por ter levado uma lufada de ar fresco ao ambiente bafiento que se instalou no Palácio de Belém com o seu antecessor.

Mas é tempo de Ana Gomes instaurar o tal “botão de pânico” no picadeiro real que possa ser accionado, entre outras coisas, sempre que alguém pretenda atafulhar papeis em processos para eternizar o desleixo da justiça ou agraciar qualquer bicho-careta ou pilha-galinhas com uma comenda.

Ninguém poderia querer ter melhor mandatária.

E não o digo por Isabel Soares se parecer física e moralmente com Maria Barroso, o que já seria uma referência de vulto.

Mas por ela própria, pela sua dignidade, pela sua competência humilde, pela sua sensibilidade e pelo seu culto sentido de justiça e de humanidade.


LNT

#BarbeariaSrLuis #AnaGomes2021

[0.010/2020]

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Atracção fatal, €€€€€, vacinas, União Europeia e sopa fria

O pedido de casamento fez-se há uns meses na margem sul entre bólides a cheirarem a novo e acepipes engordurados de pasteis de bacalhau. A boda foi marcada ontem com juras de felicidade eterna e crocantes pastelinhos de Belém.



Todas as portuguesas e portugueses foram convidadas e convidados para a festança que terá por entrada um vibrante e picante gaspacho em substituição da habitual vichyssoise porque o tempo pandémico não está para nouvelles cuisines e os milhões europeus que se anunciam para o enlace estão destinados a uma noite de núpcias sem preliminares e em alta velocidade.

O repasto será servido no centro cultural do cavaquistão animado com a banda da presidência portuguesa europeia e terá por prato principal o xarope boticário anti-SarS-Cov2 servido em agulha fina, algodão de trufas e juice de proteína spike, regado com um albardado cirúrgico branco e azul, colheita reserva de 2020.

Terminada a cerimónia os nubentes partirão para a lua de mel de oito meses nos alicerces da barragem que fará o rio deixar de correr e hão-de saltitar de nenúfar em nenúfar na extensa albufeira a formar até que o guarda do caudal da quota máxima grite que chega.

As portuguesas e os portugueses irão embebecer-se com os afectos e ternuras demonstradas na praça pública e entusiasmar-se com as sensuais cenas onde serão exibidas mamocas por cada pica dada.

No divórcio litigioso que se seguirá Outono dentro todos os convivas rejubilarão com as revelações das diatribes e traições às juras de amor e confirmarão que todas as fábulas findam com a frase:

E viveram felizes para sempre até que uma facada nas costas os separou.


LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.009/2020]

sábado, 5 de dezembro de 2020

Está-lhe na massa do sangue



O taxista que há dentro de si

(Nota prévia: Este texto não é sobre Sá Carneiro, por quem nutro especial admiração pela sua coragem e valentia quando, na Assembleia Nacional, foi deputado da Acção Nacional Popular e fez frente a Marcello Caetano. Também não é sobre uma falha de motor à descolagem acabada em tragédia). 

Ontem no Expresso da Meia-noite, Marcelo, o Presidente da República (o depoimento foi feito a partir do Palácio de Belém) deixou que sobre ele pousasse a língua de fogo taxista e borrifou o fogo com gasolina velha de 40 anos no intuito de manter a chama acesa. 

Sobre o despenhamento de Camarate: 

“Formei uma convicção, como cidadão, que mantenho, de que não se tratou de um acidente, mas sim de um atentado…”

Ontem, Celinho, taxista pré-candidato que usa os meios disponibilizados pelo cargo de Presidente da República para poder fazer campanha fingindo não a fazer, voltou abjectamente ao método de criador de factos políticos em que é mestre. 

Não foi inocente, como aliás nunca o foi durante toda a sua vida pública e confirmou a convicção de Paulo Portas: 

"Deus deu-lhe a inteligência e o Diabo deu-lhe a maldade." 

Sá Carneiro, a caminho de uma derrota presidencial obtida há 40 anos apesar dos que imoralmente usaram a sua morte para fazerem da consternação nacional o maior acto de propaganda política alguma vez produzida em Portugal, tinha o slogan:

“Um Governo, uma maioria, um Presidente”

Marcelo mantém essa esperança para o seu segundo mandato embora invertendo a ordem. 
Conseguindo afastar Rui Rio, está na sua mente:

“Um Presidente, uma maioria, um Governo”.

Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro queria em Belém um António da Silva Osório Soares Carneiro para dele fazer um Américo de Deus Rodrigues Thomaz. 

Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa ambiciona ter em São Bento alguém a quem quererá transformar num Domingos Augusto Alves da Costa Oliveira.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.008/2020]