Hoje, noite de Abril, sem lua,
A minha rua
É outra rua.
Talvez por ser mais que nenhuma escura
E bailar o vento leste
A noite de hoje veste
As coisas conhecidas de aventura.
Uma rua nova destruiu a rua do costume.
Como se sempre nela houvesse este perfume
De vento leste e Primavera,
A sombra dos muros espera
Alguém que ela conhece.
E às vezes, o silêncio estremece
Como se fosse a hora de passar alguém
Que só hoje não vem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
LNT
[0.139/2014]
Obra Poética I
LNT
[0.139/2014]
3 comentários:
pretty nice blog, following :)
"Testemunho dos filhos de Manuel Tito de Morais:
- E os amigos ainda hoje contam que nunca se servia do cartão de crédito da Assembleia.
- Foi convidado para ir para o Conselho de Administração da GALP, e o meu pai hesitou e perguntou o que é que ia fazer, e o que é que não ia, e depois de várias conversas, a última pergunta foi: “Mas então quanto é que ganha um presidente do C.A. da GALP?” Disseram-lhe um número – eu não tenho a certeza mas era uma enormidade!
- Ele achava que era imoral o que lhe davam como salário.
- E o meu pai disse: “Então assim eu não posso ir. Mas então agora eu vou ganhar um salário desses, quando o salário mínimo são 30 contos?”
- Pôs sempre os princípios à frente da sua vida privada.
Independentemente de cor política vale a pena ver o documentário passado hoje na RTP2, às 11h00."
Disse no Facebook, mas também fica bem aqui.
Um abraço Luís.
Parafraseou Jorge de Sena e publicou Sophia?
Como quer ficar a saber o que nem ele sabia?
" Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.
Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha."
Obras de Jorge de Sena
"40 anos de servidão"
Agora já sabe; é verde e vermelha.
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