Um dos momentos de férias na minha juventude que mais me incomodava era aquele em que se executava o ritual da matança do porco. A guincharia do animal e a alarvidade dos carrascos era incompatível com os ensinamentos que a minha encarregada de educação fazia por me incutir e com as matérias diversas que me eram ministradas na formação que me preparava para a vida e que mais tarde seriam complementadas com o serviço militar obrigatório, verdadeiro momento de iniciação como homem.
Se o bicho gritava no ritual da morte matada, a malta da festa que o sangrava guinchava ainda mais a cada estrebuchar do animal e por cada golfada que garantia que o cadáver ficaria em boa condição para o consumo verde e para o fumeiro.
Era um ritual da condição omnívora a que os bons costumes citadinos davam o mesmo tratamento que davam a todas as outras realidades que praticavam, fingindo inocência.
Manda hoje, quem manda que haja mais educação, que o porco se cale no estrebuchar.
Afinal, se vai morrer na mesma, para quê fazer barulho e perder tempo com aquilo que os mercados, os mercados secundários, estão a fazer?
LNT
[0.408/2010]
Se o bicho gritava no ritual da morte matada, a malta da festa que o sangrava guinchava ainda mais a cada estrebuchar do animal e por cada golfada que garantia que o cadáver ficaria em boa condição para o consumo verde e para o fumeiro.
Era um ritual da condição omnívora a que os bons costumes citadinos davam o mesmo tratamento que davam a todas as outras realidades que praticavam, fingindo inocência.
Manda hoje, quem manda que haja mais educação, que o porco se cale no estrebuchar.
Afinal, se vai morrer na mesma, para quê fazer barulho e perder tempo com aquilo que os mercados, os mercados secundários, estão a fazer?
LNT
[0.408/2010]