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quarta-feira, 11 de maio de 2016

Uma outra memória

Uma outra memória
Um livro que é uma longa declaração de amor. À escrita, aos amigos, a Portugal e à língua portuguesa.
(Este livro segue a grafia anterior ao novo acordo ortográfico)
De há muitos anos para cá, deixei para comprar um livro de Manuel Alegre na segunda edição.

Ainda bem que o fiz porque este já trás na capa o selo que o refere como “Prémio Vida Literária”, uma consagração de carreira que a SPA lhe entendeu atribuir e que o Presidente da República, neste último aniversário da Liberdade de Abril, fez questão de ser portador numa sessão plena de afectos - a que assisti a convite do laureado - como hoje soi dizer-se.

Sei ser suspeito e por isso não me atreverei a uma crítica, até por insignificante, mas não quero deixar de fazer o registo da boa leitura deste alinhavo de memória e de sentimento, na língua em que aprendi a pensar anteriormente à obrigatoriedade de se cogitar sem consoantes mudas, e de vos sugerir que leiam o mais traduzido de todos os escritores portugueses vivos o que, parecendo uma contradição ao autor que mais defende a língua de Camões como o elo fundamental da nossa grandeza, o faz uma referência de Portugal no Mundo.
Creio que o primeiro médico foi um poeta. E que a primeira receita deve ter sido um poema. Os povos primitivos não sabiam interpretar os fenómenos da natureza e tinham uma concepção mágica da vida.
É lê-lo, para saber o que mais teve para nos dizer.

Sempre agradecido a Alegre por me deixar compartilhar, com ele na sua amizade, o meu Portugal desde a inspiração do Canto e as Armas.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.031/2016]

terça-feira, 13 de novembro de 2012

os livros

Como se desenha uma casaÉ então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?

É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo "eu" entre nós e nós?
Manuel António Pina
Como se desenha uma casa
LNT
[0.574/2012]

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O olho do furacão

CicloneSabemos, penso que toda a gente sabe, que Manuel Alegre é escritor.
Sabemos, penso que toda a gente sabe, que os escritores, escrevem.
Sabemos, penso que toda a gente sabe, que os escritos dos escritores podem render-lhes dinheiro, principalmente se forem escritores mundialmente conhecidos, como é o caso de Manuel Alegre.

As livrarias estão cheias de livros, também penso que todos saibam, e os livros são escritos por escritores (alguns não) e vendem-se.

Os escritores escrevem muitas coisas. Todos sabem.

Manuel Alegre foi contratado para, na sua qualidade de escritor, escrever. É normal.
Manuel Alegre foi pago pelo seu trabalho de escritor. É normal.
Manuel Alegre quando soube que o que tinha escrito era para ser usado em publicidade, coisa vedada aos deputados, mandou que essa publicidade fosse retirada. Fez bem, agiu na normalidade.
Manuel Alegre diz que estava convencido que, para além de ter mandado retirar o seu texto literário do circuito publicitário, tinha devolvido o dinheiro que lhe pagaram. Não tinha de o fazer. Ele foi pago para escrever e escreveu. O que tinha que fazer (mandar retirar um seu texto literário do circuito publicitário), fez. Se o dinheiro que devolveu foi levantado ou não, veremos, mas, seja como for, não tinha que o devolver porque foi pago por um serviço que prestou.

Comparar isto com outras coisas de que se tem falado nos últimos tempos, é tentar distrair as atenções de quem tem de nascer duas vezes.
E os desonestos são os outros...
(também publicado aqui)
LNT
[0.006/2011]

terça-feira, 29 de abril de 2008

Botão Barbearia[0.389/2008]
Escritas, leituras e reescritas
Escrita
Recebi da Dom Quixote a carta com o recibo dos direitos de autor do ano passado. Coisa pouca neste universo curto de pouca coisa, que é Portugal. Mas foi algo que me remeteu uma vez mais para a releitura de uma comunicação feita num encontro internacional de Ciências da Comunicação, da autoria de Luís Filipe de Bragança Teixeira, com o título Figurações Maquínicas da Escrita I.O: Em torno da palavra digital e da escrita tipográfica.

Em determinado passo diz o autor que temos de repensar, com o aparecimento do conceito de biblioteca electrónica, as noções jurídicas (propriedade literária, direitos de autor e copyright); as noções regulamentares (depósito legal e conceito de bibliotecas nacionais); e as noções processuais (catalogação, classificação e discrição bibliográfica).

Não é só por uma questão do suporte onde reside a escrita pois, ao contrário do livro, o ecrã (substituto do codex) permite organizar, estruturar e alterar a consulta, o que transforma o objecto inicialmente criado.

Se um texto não só não é o que lemos nele, também não é só o que alguém nele escreveu. Um texto é uma série de produtos cruzados numa rede matricial – linguística, tecnológica e histórica – perceptível de forma diversa por quem o lê e que o interpreta com a aplicação dos conceitos e as técnicas que detém. Desta forma, poderemos dizer que muitos textos deixam de ter autor, no sentido tradicional do termo.

Os direitos perdem-se? Não sei, mas sei que no publicar electrónico muita da nossa inventiva aparece transcrita no multiplicar de outros autores que agarram a criatividade terceira para reconstruir, com outras letras e noutra estrutura, coisas que foram criadas para serem originais.
LNT
Rastos:
USB Link-> Figur@ções maquínicas da escrita 2.0 - Luís Filipe de Bragança Teixeira
-> Escritas mutantes - Luís Filipe de Bragança Teixeira
-> CECL