quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Foram a Belém

Cães Raposa

Eles andam por aí, disfarçados de faz-de-conta, a ver se nos levam no trenó do Pai Natal até ao covil onde guardam, bem guardados, os presentes com que nos querem papar.

Eles, todos os que estiveram (e mais os ausentes) em Belém para saudar o velho-menino que tarda em sair das palhinhas para ressuscitar duas, três vezes, até ficar como aquilo que diz ser, foram levar ouro, mirra e incenso tirados a ferro e fogo aos que nunca escapam e, entre juras de amor e carinho, agradecer as bênçãos do Deus protector prometendo-lhe mais sacrifícios, incluindo de morte e miséria, em troca do apaziguamento na irrevogabilidade mentida.

Eles todos, os que foram e o que lá está, falaram de gente que sofre e morre e vangloriaram-se com fantasias que lhes enchem a boca com sabores do bem e do mal sendo que o bem é sempre deles, todos.

Pois que eles, todos, tenham um Santo Natal. Bom seria que fosse o último em que lhes fosse servido o bacalhau da consoada tirado do prato dos sacrificados.
LNT
[0.505/2013]

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