quinta-feira, 7 de abril de 2016

São bengaladas, pá!

João Soares
(...) Nessa manhã ele mandara aos Olivais dois criados para arejar as salas, espanejar, encher tudo de flores. Agora ia lá, como um devoto, ver se estava bem enfeitado o sacrário da sua deusa... E era através destes deliciosos cuidados, em plena ventura, que lhe aparecia outra vez, suja e empanando o brilho do seu amor, a tagarelice do Dâmaso!

Até aos Olivais, não cessou de ruminar coisas vagas e violentas que faria para aniquilar o Dâmaso. No seu amor não haveria paz, enquanto aquele vilão o andasse comentando sordidamente pelas esquinas das ruas. Era necessário enxovalha-lho de tal modo, com tal publicidade, que ele não ousasse mais mostrar em Lisboa a face bochechuda, a face vil...

Quando o coupé parou à porta da quinta, Carlos decidira dar bengaladas no Dâmaso, uma tarde, no Chiado, com aparato (...)

(...) Mas depois, ao regressar da quinta, vinha já mais calmo. (...)

(...) No meio destas voluptuosidades magníficas, que lhe podia importar o Dâmaso, gorducho e reles, palrando em calão nos bilhares do Grémio! Quando chegou à rua de S. Francisco resolvera, se visse o Dâmaso, continuar a acenar-lhe, de leve, com a ponta dos dedos.Mas quando o Dâmaso parou defronte, no outro passeio, todo de costas para ele, ostentando rir alto com o Gouvarinho, não se conteve, atravessou a rua.

Foi breve, e foi cruel: sacudiu a mão do Gouvarinho, saudou de leve o Cohen: e sem baixar a voz, disse ao Dâmaso friamente:
- Ouve lá. Se continuas a falar de mim e de pessoas das minhas relações, do modo como tens falado, e que não me convém, arranco-te as orelhas.

O conde acudiu, metendo-se entre eles:
- Maia, por quem é! Aqui no Chiado...
- Não é nada, Gouvarinho, disse Carlos detendo-o, muito sério e muito sereno. É apenas um aviso a este imbecil. (...)
Eça de Queiroz
Os Maias
...
Em 1999 prometi-lhe publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que ainda não pude cumprir. Não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia. Ele tinha, então, bolçado sobre mim umas aleivosias e calunias. Agora volta a bolçar, no "Publico". É estória de "tempo velho" na cultura. Uma amiga escreveu: "vale o que vale, isto é: nada vale, pois o combustível que o faz escrever é o azedume, o álcool e a consequente degradação cerebral. Eis o verdadeiro vampiro, pois alimenta-se do trabalho (para ele sempre mau) dos outros."
Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente, para as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também.
João Soares
Facebook
E ai, aqui d’el rei! que o Ministro da Cultura, por não ter bengala e por já não ser hábito descalçar a luva para a passar pela cara de quem vetupera, nestes magníficos tempos de liberdade de expressão escrita, arreia uns tabefes (ou exprime a vontade de os enfardar) através do seu pessoalíssimo mural do Facebook.

Cai o Carmo e a Trindade e as bofetadas que João Soares promete a Augusto Seabra e a Pulido Valente são tanto para serem chapadas nas ventas dos cronistas das colunas de opinião em moda, com foram as bengaladas e o arrancar das orelhas que Carlos da Maia prometeu a Dâmaso.

Grita-se no reino por simpatia aos ameaçados, gente mansa a quem nunca faltam ofensas para alinhavar nas colunas que os sustentam, e a cultura dos cultos agiganta-se na defesa dos comentadores que descarregam os ódios do costume entre anónimos, apócrifos e nas almas sensíveis das elites sempre prontas para o ferrete agora travestido de punhos de renda e colarinhos a condizer.

Demita-se pois o coiso: pim, pam, pum!
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.026/2016]

4 comentários:

Unknown disse...

Grande barbeiro, culto, inteligente, assertivo. É reconfortante lê-lo. José Pinto

Rui disse...

Depois da desinformação a que se assistiu durante todo o dia na imprensa corporativa ler este texto é, no mínimo, reconfortante

C.C. disse...

E eu que tinha acabado de dizer que enquanto se passa da promessa aos factos, perde-se tempo!
Depois de ler isto fiquei reconfortada.
Bons cortes, que aos Barbeiros ninguém se arrisca

Janita disse...

Uma bengalada precisava ele, o tal, que é ministro, para ver se ganhava alguma noção da realidade.
Ah, que falta faz cá a mamã para lhe dar os sábios conselhos...

Não havia necessidade de tanta algazarra, mas se até o PM, não eleito, o aconselhou a não se pôs a jeito!

Se o pedido de desculpas saiu e nem houve bofetadas nem nada, imagine o Sr. Barbeiro se houvesse bengaladas...

Governar o dinheiro dos outros é tão bom, não é? Há que acalmar as hostes, pois claro! O quarto poder, pode muito, oh se pode.