segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Toots Thielemans


Nunca alguém (nem Bob Dylan) retirou duma harmónica o som que Toots Thielemans tirou.

Se houver algum lugar depois da vida ele terá lá a viver, a partir de hoje, um dos meus músicos instrumentais de elite.

Quando morrer também quero ir para esse lugar.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.049/2016]

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Coisas sérias

LimãoAgora falando de coisas sérias. Coisas sérias, percebem, não de umas insignificâncias como pôr 19 gandulos à manjedoura da Caixa Geral de Depósitos, ou dos quatro mil milhões que a CGD precisa para recuperar dos gandulos que de lá saíram, ou de outras irrelevâncias como a de admitir que os não eleitos burocratas europeus se metam neste assunto e mandem estudar os candidatos ao acesso ao pote, ou do espiolhar das contas bancárias de quem ainda faz a asneira de depositar dinheiro nos bancos portugueses, ou do rasgar da Concordata sem negociar primeiro novo acordo com a Santa Sé, como fez Salgado Zenha com o divórcio num tempo em que ainda havia políticos com vergonha na cara.

Falando de coisas sérias, como dizia no início deste borrão, é falar de descanso depois das férias num tempo em que as férias são os únicos dias de missão do ano inteiro, com horas para tudo desde o levantar para ir à praia até à correria dos banhos depois da praia para poder ir para a fila de um qualquer restaurante esperar vaga para jantar. E falar de coisas sérias é também falar do ar sério com que na Noélia de Cabanas um jovem empertigado atrás do balcão se acha mais importante do que os clientes que se apresentam para fazer a marcação de um jantar, ou do senhor Zé da travessia da ria que retira, ao fim da tarde, dois dos seus três barcos porque já tem o dinheiro no bolso e pouco lhe interessa que no pontão do lado da praia os clientes esperem uma eternidade para regressarem. E isto para já não falar do restaurante que só está activo nos meses de Verão e anuncia na porta que estará encerrado em Agosto para descanso do pessoal, ou daquela coisa séria que foi ver o empregado de um café sacar do telemóvel para fotografar uma cadeira da esplanada onde um cliente tinha deixado areia, que ele não sacudiu, e dizer que estava a fazer um registo para memória futura do Verão de 2016 e das coisas sérias que o tinham incomodado.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.048/2016]

domingo, 7 de agosto de 2016

Manel

Manuel Seabra PereiraFoi preciso que o dia 25 de Julho já tivesse distância suficiente para te deixar publicamente estas palavras.

Foi preciso que me recordasse de ti mais vezes por dia do que recordava anteriormente para deixar umas linhas sobre a impossibilidade de registar uma vida de amizade fraterna que desde jovens sempre partilhámos, antes e depois do teu casamento com a minha irmã João que tive o grato prazer de apadrinhar.

Foi preciso percorrer a memória para lembrar momentos de grande cumplicidade e confiança que me fizeram ser padrinho, e à Luísa madrinha, da tua filha Filipa. Recordar os momentos em que, contigo e com a João, conheci o Tiago pequenino em Londres e depois, muito depois, a Teresa em Lisboa.

Manuel Frederico Oom de Seabra Pereira, meu cunhado irmão de sempre, a quem testemunhei a excelência académica e profissional desde a licenciatura em engenharia mecânica no Técnico, ao doutoramento em Londres, à agregação no IST, à cátedra, à vida de professor/investigador feita em Tucson e por esse mundo fora, à eleição como Vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, à passagem como consultor da REFER e finalmente na eleição, já doente, como Chairman do Conselho da EURNEX – The European Rail Research Network of Excellence.

Meu querido Manel confesso-me saudoso das nossas partilhas e confidências, dos esporádicos almoços no Martinho da Arcada, das idas ao Minho, das férias no Carvoeiro e em Moledo, da tua sempre presença nos momentos difíceis e principalmente nos de grande felicidade como o meu casamento, nos momentos marcantes da vida das minhas filhas Catarina e Margarida desde a maternidade até às suas licenciaturas, do nascimento das minhas netas, nos jantares de família, de Natal e dos 29 de Dezembro, nas festas no Gaio e na das flores do aniversário 40 do teu casamento.

Sinto-me saudoso e carente da tua afabilidade simples, que só os homens cultos expressam, quando agradeceste, há uns poucos meses, o livro que te dei com a dedicatória da sua autora, Ana Cristina e o registo da editora B.

Só algumas passagens, Manel. Só consigo citar breves passagens.

Guardo para sempre o teu sorriso crente daquele dia sem memória, porque só um crente aceitaria partir assim, sorrindo sem um ai.

E sei, mesmo não partilhando das tuas certezas, que aquilo em que acreditavas te era tão real como a ciência exacta que nunca deixaste de investigar e que por isso hás-de estar onde sempre pensaste que estarias depois de partir.

Olha por todos nós que ainda por cá andamos.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.047/2016]