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sexta-feira, 13 de março de 2015

Bolsas VIP

V.I.P.Quando um membro do Governo diz que não deu uma ordem mas que é possível que alguém nos serviços tenha feito alguma coisa, continuamos no âmbito do ódio que este Governo nutre pelos trabalhadores do Estado.

Primeiro foi o ataque indiscriminado aos funcionários e a tentativa de guetizar essa parte do mundo do trabalho. Depois foi o assalto aos seus vencimentos. Depois foi o congelar das carreiras. Depois, de muitos outros depois, chegou a insinuação de Passos Coelho não ter cumprido as suas obrigações contributivas por falha dos funcionários da SS que não o notificaram. Finalmente vem a sugestão de que, a haver a tal bolsa VIP de contribuintes, se deve a alguém da Administração que a quis fazer à revelia do Secretário de Estado.

Quem viveu tantos anos neste antro sabe que há inúmeras ordens (principalmente quando ilegais) dos gabinetes governamentais que não deixam rasto. Nada tem de invulgar um director-geral chamar um seu subordinado para lhe dar determinadas orientações, não reduzidas a escrito, que diz trazer de “despacho” com o membro do Governo.

Todos conhecemos esses métodos e todos sabemos como a maioria dos dirigentes intermédios reagem quando lhes são transmitidas orientações com o rótulo de “O Secretário de Estado disse, mandou, sugeriu, etc.”

À parte deste maldito hábito de não se respeitarem os trabalhadores da Administração existe, neste caso em concreto, uma fortíssima ignorância sobre a forma como se desenrolam os acessos informáticos, ignorância que provoca os maiores disparates na boca dos comentadores do costume.

Basta referir que não existem acessos a dados sem registo de quem acedeu para se ter uma ideia de que não é necessário qualquer “campainha”. A chave neste caso será o número de contribuinte e não há qualquer dificuldade em saber (por quem tem essa competência) quais os funcionários (que têm de estar autenticados na rede) que acederem às informações de determinado NIF.

Um Secretário de Estado não precisa de construir uma “bolsa de campainhas VIP”.

Basta-lhe um telefonema ao Director da Segurança informática (ou à Sub-directora-geral que o superentende) pedindo-lhe que saiba quem acedeu, no período X, aos dados do número fiscal Y.

Isto tanto serve para proteger um determinado cidadão (identificado com o Número Fiscal) como para o perseguir.

E mais não digo, pelo menos por enquanto.
LNT
[0.144/2015]

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Cedam o lugar

Gunter GrassOs despedimentos na Administração Pública serão tão eficazes para resolver as nossas questões como foi eficaz todo o tipo de anormalidades que se têm feito para continuar o descalabro crescente.

Não se trata de, como diz o sábio-experimentalista que está sentado na cadeira das finanças, saber quanto se quer pagar para se ter aquilo que se quer, porque cada vez se tem menos com o mais que se paga e começa a ser impossível sacar água de um poço que já tem o saibro à vista.

Trata-se, isso sim, de deixar de teorias empinados e de trabalhar a partir do conceito que nada é mais caro do que o desemprego, a emigração do conhecimento e o empobrecimento. É caro em todos os sentidos, principalmente numa sociedade onde já não reina o analfabetismo e a ignorância e que, por estar sujeita ao desgaste do miserabilismo, se retrai em felicidade, em natalidade, em investimento, em trabalho e em consumo.

Despedir na Administração Pública é pouco mais do que transferir as despesas de uma para outra rubrica do orçamento.

Sabemos ser terreno perigoso reformar refundar tendo por base a rentabilização das pessoas e a racionalização dos meios. Sabemos ser trabalhoso e difícil pegar numa multidão de pessoas que se tem tratado mal e devolver-lhe a dignidade pedindo em troca o que de melhor sabem fazer. Sabemos ser esforçado colocar gente capaz, com provas dadas, no comando das soluções.

Mas a vida é assim mesmo e se, por acaso, se tiver de chegar à conclusão que não basta ter habilitações e que é necessário haver know-how para se dirigir politicamente um País e um povo, então chegou o tempo de se reconhecerem as insuficiências dos experimentalistas e fazer tudo-o-que-for-preciso, custe-o-que-custar, para ir além da mediocridade resultante da impreparação.

Apelo à inteligência linear. Numa situação de emergência, como é aquela que estamos a viver, aponte-se para a produção dos tais quatro mil milhões em vez de se fazer mira de morte aos quatro mil milhões que se pretendem neutralizar. Soluções para o fazer não faltam, falta só inteligência e vontade para o fazer.

Como diz Seguro, esta questão é do Governo e é a ele que a compete solucionar. Se não sabem como, não são dignos de continuar à frente de Portugal.
LNT
[0.554/2012]

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

1712, o número milagreiro das pérolas

Frascos com PérolasSó duas coisitas porque estou cheio de trabalho mas não quero deixar a página de hoje em branco.

Relacionam-se com os fantásticos números ontem anunciados (e hoje já publicados) pelo nosso Primeiro referentes ao "corta", salvo erro qualquer coisa ligada à poupança resultante de extinção de 1712 chefias (gosto especialmente da particularidade das unidades) e de 162 entidades públicas (na verdade 137 e parece não ser ainda desta que extinguem a Presidência do Conselho).

A primeira coisita diz respeito às chefias. Só para lembrar que na Administração Central do Estado, grande parte das chefias, principalmente a nível de Chefe de Divisão, recebem pelos seus lugares de origem uma vez que o vencimento do topo de carreira é superior ao de Chefe de Divisão. Façam lá essas contas como deve ser, não vão ter uma grande surpresa quando fizerem as contas da poupança. E, já agora, espero que esses cortes não sejam do género de, ao eliminar o número de Chefes de Divisão e Directores de Serviços, fazer criar lugares com a fórmula mágica "com equivalência remuneratória a Chefe de Divisão, ou a Director de Serviços". É que essa já é velha e, p.e., já foi anteriormente utilizada em organismos que fizeram o milagre de diminuir as chefias em quase 80% (coisa que causa grande impacto na AR e na CS) mas, bem vistas as coisas, passaram a ter mais chefes (em termos remuneratórios) do que tinham antes da redução.

A segunda coisita, ainda aproveitando a hora do almoço, diz respeito à extinção de "entidades públicas" sem especificar o tipo de entidades. Não vale contabilizar aquelas que já só existem no papel, ou aquelas outras em que, p.e, ao fundir três entidades numa só se passa a ter um conselho directivo com mais dirigentes de topo do que os que havia antes da fusão.
LNT
[0.378/2011]

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Não tenho a culpa

Crocodilo e hipopótamos

Sim, eu sei. Sei que gostariam de nos ter mansos e controlados mas vão ter-nos rebeldes. Sei que, possivelmente, não haverá outra coisa a fazer senão aquilo que inventaram com o "crescimento negativo" dos vencimentos da função pública. Sei que espalharam aos sete ventos a ideia da inevitabilidade destas medidas.

Sei que a culpa é da Administração Pública. Digo "Administração Pública" e não "Funcionários Públicos".

A Administração Pública tem sido gerida danosamente. É um animal insaciável de muitas clientelas que constituem uma casta destinada a sacar para si os benefícios que resultam de uma Administração Pública descontrolada e ao Deus-dará. São esses (públicos e privados, com e sem cor – muitas vezes privados vindos do público) e não os funcionários públicos que contratam o que não tem de ser contratado, que compram o que não tem de ser comprado, que não gerem o que tem de ser gerido e que colocam nos lugares chave aqueles que asseguram a continuidade dos seus propósitos.

Essa gente fura tudo. Fura os concursos para chefias, o que lhes permite manter em situação provisória (chamam-lhes em substituição), anos a fio, as pessoas que lhes interessa, fura a intenção da Lei, fingindo que o PRACE serviu para reduzir os lugares de chefia quando afinal se destinou só a designar por outro nome esses mesmos lugares que renumera de forma igual, fura as medidas de contenção continuando a inundar os serviços de inutilidades caras em nome de um progresso que nunca deixa acontecer por imaturidade dos processos que implementa e fura o SIADAP adulterando o sentido de avaliação por mérito através de uma coisa a que chamam o “dividir o mal pelas aldeias” ou seja, esquecer que se trata de uma avaliação por mérito e aplicá-la por regras de igualitarismo.

É essa gente e o poder político que lhes permite continuar a agir impunemente que tem a culpa e que deverá ser chamada à pedra. Os segundos são avaliados, recompensados ou penalizados, nas eleições. Os primeiros estão bem e recomendam-se.

Volto a dizer:

Sou funcionário público e não tenho a culpa da situação a que chegámos. Desafio quem quer que seja, seja público ou privado, a demonstrar que trabalhou e produziu numa vida de trabalho, mais ou melhor do que eu.
LNT
[0.346/2010]

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Funcionários de 1ª

CogumeloSempre que se fala em dívida, em despesa pública e no seu controlo, aparecem os do costume (e hoje em dia já aparecem alguns que não era costume aparecerem) a dizer que há que cortar nos vencimentos dos funcionários públicos e que já não basta congelá-los, mas que se torna imprescindível amputá-los.

Raciocínio recorrente de quem pensa que despesa pública são vencimentos de funcionários e que faz esquecer com esta conversa os milhões esbanjados em serviços, consultorias e fornecimento de serviços com que anualmente se pagam mais uns milhares de funcionários públicos não-quadros da administração, mas de empresas privadas, que fazem do Orçamento do Estado, através de outsourcing e consultadorias, a sua única razão de vida.

Estes funcionários de 1º, os das empresas privadas parasitas do Estado, que auferem vencimentos e mordomias vedadas aos outros, estão na primeira linha dos que reclamam os cortes nos vencimentos e emprego dos funcionários de papel passado.

Percebe-se porquê, não percebe?
LNT
[0.063/2010]

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A fruta da época

Yes MinisterEnquanto se aguarda que o executivo seja apresentado publicamente e tome posse, reina o nervosismo na Administração onde os Yes Minister, que são mais e muito mais poderosos do que geralmente se pensa (por serem os detentores dos poderes médio/despesistas), se movimentam no intuito de garantir os seus lugares, lançando nomes e exercendo pressões para a escolha de quem os vai comandar.

É o tempo dos Yes Minister fazerem os seus lobbies.
É o tempo de sacarem do fundo das gavetas os planos que tinham tentado implementar em período pré-eleitoral, mas que o poder político mandou aguardar melhor oportunidade, aproveitando agora o desnorte de quem sai e o descuido dos novatos.

É o tempo de ouro do admirável mundo dos Yes Minister.
Gente que ocupa posições de nomeação política sem se ter comprometido nem se ter apresentado a escrutínio, que manobra os cordelinhos do mercado e ensaia furar os esquemas de protecção com que os poderes eleitos tentam blindar os controlos da despesa pública e/ou a transparência dos negócios da Administração.

É esta a fruta madura da época.
LNT
[0.669/2009]
(Em estéreo no – A regra do jogo e em surround no - Cão como tu)