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terça-feira, 3 de novembro de 2009

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Lisboa Rio


Tudo está bem. Daqui vejo mais do que a maior parte. Não por ser mais sapiente ou informado mas porque estou mais alto. Daqui vejo o Tejo da cor do céu e o céu da cor do chumbo. Daqui vejo o Marquês meio aparvalhado com o leão aos pés, vejo a ponte indecisa entre ser Salazar ou vinte-e-cinco-do-quatro, vejo os estuporados ratos com asas disfarçados de pombos, vejo a Ajuda de esguelha a espreitar das árvores de Monsanto, vejo o Castelo de São Jorge e a Sé vaidosos da sua patine, vejo o deserto do lado de lá cheio de dormitórios.

Desta janela em que me sento para lhe virar as costas, alcanço os absurdos que estranham um Partido feito Governo fazer da vontade sufragada o seu programa. Desta janela abro a outra que me trás notícias deste país de espertos onde todos se tentam desenrascar, onde a oposição é frouxa e não surpreende, onde a situação é surpreendentemente previsível, onde os poderosos são impunes, onde os remediados estão a ficar pobres e onde os miseráveis são quase humanos.

Tudo está bem desta janela a que dou as costas e de onde vejo mais do que a maior parte. Não por ser mais sabedor ou culto, mas por estar mais alto.
LNT
[0.699/2009]