Tudo está bem. Daqui vejo mais do que a maior parte. Não por ser mais sapiente ou informado mas porque estou mais alto. Daqui vejo o Tejo da cor do céu e o céu da cor do chumbo. Daqui vejo o Marquês meio aparvalhado com o leão aos pés, vejo a ponte indecisa entre ser Salazar ou vinte-e-cinco-do-quatro, vejo os estuporados ratos com asas disfarçados de pombos, vejo a Ajuda de esguelha a espreitar das árvores de Monsanto, vejo o Castelo de São Jorge e a Sé vaidosos da sua patine, vejo o deserto do lado de lá cheio de dormitórios.
Desta janela em que me sento para lhe virar as costas, alcanço os absurdos que estranham um Partido feito Governo fazer da vontade sufragada o seu programa. Desta janela abro a outra que me trás notícias deste país de espertos onde todos se tentam desenrascar, onde a oposição é frouxa e não surpreende, onde a situação é surpreendentemente previsível, onde os poderosos são impunes, onde os remediados estão a ficar pobres e onde os miseráveis são quase humanos.
Tudo está bem desta janela a que dou as costas e de onde vejo mais do que a maior parte. Não por ser mais sabedor ou culto, mas por estar mais alto.
LNT
[0.699/2009]
Desta janela em que me sento para lhe virar as costas, alcanço os absurdos que estranham um Partido feito Governo fazer da vontade sufragada o seu programa. Desta janela abro a outra que me trás notícias deste país de espertos onde todos se tentam desenrascar, onde a oposição é frouxa e não surpreende, onde a situação é surpreendentemente previsível, onde os poderosos são impunes, onde os remediados estão a ficar pobres e onde os miseráveis são quase humanos.
Tudo está bem desta janela a que dou as costas e de onde vejo mais do que a maior parte. Não por ser mais sabedor ou culto, mas por estar mais alto.
LNT
[0.699/2009]
7 comentários:
Saudades
Obrigada pelo texto
jokas
Paula
Finalmente entro e sento-me na cadeira desta "barbearia"...
Não, não quero (des)fazer a barba ou cortar o cabelo.
É uma visita de cordialidade.
Há muito tempo que as visitas pelos blogues não acontecem, embora disso eu sinta algum desgosto. Não consigo produzir o tempo necessário - como faz sentido e é abordado nestes dias :
http://barbearialnt.blogspot.com/2009/10/dialogos-com-memoria-shamba-e-berlim.html
http://barbearialnt.blogspot.com/2009/10/repasto-urbano-em-final-de-epoca.html
Então o que me fez aparecer aqui ? e com alguma frequência voltar ?
Acerca da primeira questão, foram os artigos do Público acerca das eleições, e os links que por lá apareciam.
Sobre a segunda, será evidente. Gosto de ler o que o meu homónimo escreve. Pela forma e pelo sentido.
Por isso um abraço e votos de boa saúde para ir continuando.
Pois.. e sobre a escrita de hoje, já agora.
As janelas "altas" oferecem essa panorâmica. Ora invulgar, rica e bela. Ora miserável, pobre e absurda.
Importante o distinguir aquilo que permite esse olhar, sem esquecer o lado humano daqueles que estão mais (em) baixo.
Essa parece-me ser uma grande qualidade praticada nesta barbearia.
Apetece-me chamar-lhe : solidariedade.
Luis Manuel
(assino assim, por não me lembrar do acesso blogger - talvez na próxima apareça a refeência à página que em tempos ia alimentando e que por sinal se ficou pelo dia 25/04/2008... muito tempo... até para outras questões que muitos vão esquecendo)
O Senhor Barbeiro conseguiu escrever três parágrafos de escrita " alternativa " com tantas verdades! Às vezes é bom ter as costas " largas " ... bom resto de semana! Mantenha a porta da Barbearia sempre " aberta " e já agora nunca feche esta " Janela " ... até sempre : )
.. nostalgia. E não não é por sabermos mais, de facto. Se fosse por isso sem que nada fizessemos, seria quase "criminoso".
(Gostei muito, Caro LNT, deste seu registo) :)
Abraço
Desta janela do meu Windows P alcanço também quase tudo até os absurdos da vontade sufragada dos programas. Como suspiro, no entanto, por uma cadeirinha para perceber porque os poderosos são impunes e porque apesar dos programas sufragados, os remediados estão a ficar pobres e os miseráveis estão quase, quase, humanos. Desta janela também diviso os pobres pombinhos Portugueses, antes formiguinhas, expulsas pelas cigarrinhas em velha sina, em debandada para novos mundos!
Um texto benfazejo e inspirado, Luís.
Obrigado :)
Um abraço,
Ana Paula
Há janelas altas de onde se vê coisas que não se vê de outras, mesmo sendo muito mais altas ainda.
Um abraço agradecido pelos vossos comentários.
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