Às vezes calha e ontem foi uma dessas vezes. Ouvi os comentários do Miguel Sousa Tavares no Jornal de um canal de televisão e o que ele disse da greve dos controladores espanhóis.
Primeiro disse que eles tinham feito uma greve, o que não é verdade.
Estiveram ausentes do trabalho (penso que em baixa ou coisa semelhante) mas não em greve (Isto serve de lição para quem passa a vida a atacar os sindicatos – Quando os trabalhadores actuam por conta própria ficam em acção descontrolada).
Depois disse que eles (os controladores) não deveriam ter consciência dos prejuízos que estavam a causar, o que é uma patetice porque é exactamente por eles terem essa consciência que o Miguel não morre cada vez que anda de avião.
E depois disse o que se espera que um português diga:
Que eles ganham não sei quanto, que trabalham não sei quantos dias por ano, etc.
O que ele não disse é quanto ele próprio ganha e quantos dias trabalha para produzir comentário ou texto e, mesmo que o tivesse dito, haveria de se esquecer de que aquilo que diz ou escreve não contribui para a nossa sobrevivência ao passo que um controlador, se cometer um erro, provocará centenas de mortos.
Este permanente luso-olhar para o lado, e sempre e só para parte desse lado, faz esquecer o que define uma profissão de elevado risco (como é a de controlador aéreo) e as razões que levam essa gente a ter de trabalhar menos horas/dias para poder aguentar, com níveis de segurança elevada, uma profissão da qual depende a vida de milhares de pessoas.
Pessoas que emitem opiniões, como faz o MST deveriam ter, no mínimo, preparação para o fazerem. Seria útil que o MST passasse umas horas enfiado num centro de controlo aéreo para entender do que fala. Seria útil que soubesse também os procedimentos de greve para não usar a palavra em vão. E tudo isto seria útil porque teria conseguido explicar, de forma credível, as razões que o levam a considerar o acto praticado pelos controladores, de selvagem, opinião com a qual concordo em absoluto mas que explicaria sem recurso ao apelo à inveja e à ignorância como ele fez.
LNT[0.457/2010]