sábado, 27 de fevereiro de 2016

Palonços, toca a dividir

DividirRio-me com as palavras caídas em desuso, ou só ouvidas quando saímos para os locais em desuso, assim como me dá vontade de chorar quando oiço algumas palavras em uso, ou ouvidas frequentemente nos locais de uso corrente dos dias que correm.

“Não calquem o desgraçadinho” ouvido em tempos numa arruada nortenha ou “estamos perante um caso cuja repetição já ultrapassa os dois dígitos” ouvido todos os dias numa qualquer televisão ou conferência de gente esperta, são alguns desses exemplos sendo que calcar é coisa de pisar e o segundo é coisa digital.

Isto para não falar na linguagem gestual que complementa a novilíngua, como o inconseguir, acompanhada com os dedinhos das duas mãos a esgatanhar a representação dumas aspas.

Mas esta converseta vinda do nada, que parece irrelevante num tempo bué do africânder yá, em que se torna normal dizer na despedida: «continuação», em vez de simplesmente se desejar um bom dia, ou tarde, ou mesmo um: «até já», foi só um motivo para usar a palavra que inscrevo no título do post, no dia em que continua a dar controvérsia a forma idiota de dividir por crenças e descrenças o que é transversalmente aceite, ou recusado, independente das fés.

Palonços, só isso.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.011/2016]

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Countdown

Adeus Cavaco

Não, isto não é uma coisa irracional ou, sequer, uma coisa de ódio.

Antes pelo contrário, desejar que, quem tão mal fez a Portugal, se retire com a dignidade que impossivelmente não lhe foi possível embora tudo se tenha feito para que assim fosse é quase um acto de amor, embora de um amor masoquista.

Faltam exactamente para que os portugueses possam finalmente, ao fim de décadas, verem-se livres do sectarismo, amuo, tabu e pesporrência de alguém que evocou, como primeira qualidade para ser eleito, o facto de ser economista mas que não deixou de ter no seu mandato um pedido de auxílio externo por iminência de banca rota.

Às nove horas do dia nove do terceiro mês de dois mil e dezasseis voltaremos a ter um Presidente de todos os portugueses.

Viva! Urra!

LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.010/2016]

domingo, 14 de fevereiro de 2016

E porque hoje é dia dos namorados consumidores

Pepe Le PewTodas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, in "Poemas"
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.009/2016]

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Dá com uma, tira com a outra

Deve e HaverContinuamos a ouvir os fazedores de opinião a inventar a roda mesmo depois de milhares de anos após a descoberta da roda redonda.

Sabemos agora, e estranhamente isso faz parangonas, que o Governo dá com uma mão e tira com a outra quando desenha um orçamento, mesmo tendo a noção de que não há orçamentos sem duas colunas: a do deve e a do haver.

Podia fazer aqui um boneco das duas colunas para mais fácil compreensão mas prefiro deixar à inteligência de cada um o esforço de imaginar a folha em branco dividida verticalmente por uma linha e, em cada metade, os respectivos valores das receitas e das despesas, onde as receitas, depois de se ter espoliado o Estado de todas as empresas rentáveis, terão de ser o resultado de contribuição dos cidadãos e as despesas serão a distribuição das receitas de forma a criar serviços que todos sirvam, a pagar os calotes e a garantir que os mais desprotegidos passem a ter mínimos de subsistência.

Não parece grande exercício de inteligência, mas nota-se ser um exercício que continua a proporcionar flores e dificuldades de entendimento, principalmente a quem se recusa a perceber que nas receitas o mais lógico é ir a quem mais tem, a quem mais sobra, para compensar a quem mais falta depois de garantir a todos e em regime de gratuitidade tendencial os serviços que a Constituição garante.

Por isso é verdade que qualquer orçamento tira com uma mão e dá com a outra, mas um orçamento equilibrado tirará sempre com uma mão direita a quem mais tem, para dar com a mão esquerda a quem mais precisa garantindo pelo meio, saúde, educação e segurança a todos a quem tira e todos a quem dá.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.008/2016]