Ana Bacalhau deixou-se de fadistices e atirou-lhes nas ventas, em fim de concerto, com a parvoice do mundo de hoje. Foi quanto bastou para que a intelectualidade visse ali um hino à revolta, jovens a tomar a rua, certamente para cantarem "que já não podem mais", que têm o carro por pagar e o marido por arranjar.
A letra já não tem muito mais espaço para crescer, senão incluiria também a prestação do telemóvel topo de gama, do último grito da consola de jogos, do software mais in e dos bilhetes dos espectáculos onde se canta que "para ser escravo é preciso estudar".
E se a gente é tão preparada, porque se alheia, porque espera que sejam aqueles que lhes proporcionaram a preparação que tenham também, depois de tudo isso, de continuar a lutar por eles?
LNT
[0.023/2011]
A letra já não tem muito mais espaço para crescer, senão incluiria também a prestação do telemóvel topo de gama, do último grito da consola de jogos, do software mais in e dos bilhetes dos espectáculos onde se canta que "para ser escravo é preciso estudar".
E se a gente é tão preparada, porque se alheia, porque espera que sejam aqueles que lhes proporcionaram a preparação que tenham também, depois de tudo isso, de continuar a lutar por eles?
LNT
[0.023/2011]
29 comentários:
Também já tinha reparado nesse estranho fenómeno do consumo dos jovens adultos portugueses. Explicaram-me que é o fenómeno recibos verdes: não chega para sair da casa dos pais e fazer a sua própria vida, de modo que os pais asseguram as despesas fixas e os recibos verdes servem de mesada.
Parece-me que chegámos a um ponto em que os jovens licenciados são desavergonhadamente explorados: recibo verde, estágios sucessivos, vínculos extremamente precários. Será que eles têm meios para lutar contra esta ordem de coisas? Não sei.
Mas sei como é que muitos deles estão a resolver o problema: emigrando.
O que não é a melhor solução para Portugal.
Ah, já me ia esquecendo: "a geração dos já não posso mais" é um óptimo achado!
Mas depois lembro-me também de uma amiga minha, cujos filhos (licenciados) não conseguiam arranjar emprego, tentaram tudo, sujeitaram-se a tudo, e andaram anos em empregos precários e mal pagos.
Mas vamos lá ver, Senhor Barbeiro, estamos ou não de acordo ... ser JOVEM hoje não é /está sendo fácil??? Nos outros tempos acabava-se o curso ( não interessa qual ) e havia um emprego à nossa espera. Melhor ou pior ... Mas nada funcionava com contractos, com currículos ... estudava quem podia, arranjava-se emprego melhor ou pior ... e em princípio era o emprego da nossa Vida. Hoje nada disto funciona assim ... toda a gente estuda ( acaba ou não acaba )e depois o primeiro trabalho/ emprego de acordo com o curso ... onde está ele? Portanto a letra não me choca assim tanto ... são muitas VERDADES ditas a cantar. Estamos de acordo? Um abraço
Cada vez gosto mais dessa Ana. Viva a Ana.
Se bem se lembra, comadre, ser jovem nunca foi fácil.
E se bem se lembra, dantes... não se acabava o curso. Na maior parte das vezes nem sequer se começava.
Isto para início de conversa porque, para avançar um pouco mais, então partia-se (depois de bater com os costados na guerra) para os biddon ville deste mundo onde se tinha de fazer o que hoje está longe do pensamento dos "já não posso mais".
Como muito bem diz a Helena, os recibos verdes de hoje são a substituição das mesadas. Servem para pagar os carros, os telemóveis e os outros gadjets que entretanto passaram a ser tão essenciais como dantes era o sustento e o ganhar a vida.
Tem muito que se lhe diga.
(como dizia na tag deste post, “estou a arranjar lenha para me queimar”)
Eu também gosto da Ana, Joshua.
Tem pinta e é um bom exemplo de que quando se tem garra, como ela tem, pode-se sempre mais.
Os dos bidonvilles encontraram lá uma realidade não muito diferente daquela donde saíram, mas com direito a um salário minimamente decente, que lhes permitia vir mostrar o carro alugado (o gadjet dos anos 60) em Agosto.
Aos de hoje foi-lhes prometida uma vida melhor se estudassem e na maior parte dos casos espera-os um emprego precário, mal pago e que não necessita das qualificações que obtiveram.
Os Deolinda são uma excepção ou o exemplo à escala doméstica do american dream.
Caro Luís Tito
Arranjar lenha para se queimar?
Não porque as lealdades tem por limite o amor pela verdade e o carácter. E esse tenho a certeza que são virtudes suas.
Sabe que o problema dos recibos verdes não é só um problema dos jovens de 20 ou trinta anos. Mas de maduros com 40 e 50.
E a situação que revolta o sr. secretário da S.S. é que se re-revoltou porque as contribuições para a S.S iriam diminuir e não aumentar.
Mentira, porque todos temos casos na família!
Recebe 1200 por 11 meses (sem direito a férias, doença, natal, mês de férias), paga 21,5% de retenção de IRS, paga 160€ de S.S. (e irá pagar 190 ou 200€), paga Seguro de trabalho obrigatório... é só fazer as contas!
Diz o sr. secretário da SS que se passar os 80 de rendimento obtido numa entidade, que a entidade tem de pagar uma parte.
Mentira! Porque a entidade já foi avisando que quem tiver mais de 80% ou diminui o tempo de trabalho ou sai. Como não tem emprego com 40 ou 50 nem subsídio o que faz o pobre recibo verde?
Talvez uma "revolução" à Egípcia ou à Tunisina para correr de vez com estes incompetentes energúmenos!
Luís,
a canção fala da situação dos que estudam e não arranjam emprego a seguir. É um fenómeno novo. Até agora (até fins do século passado), os licenciados arranjavam sempre bons empregos. Para não complicar o debate, é melhor não falar do caso dos jovens sem estudos nem formação profissional.
Será que estes jovens licenciados são demasiado comodistas? Esperam que a sociedade lhes resolva os problemas? (não serei eu a atirar a primeira pedra, porque a sociedade me resolveu o meu: na minha geração não havia economistas desempregados - nem era preciso concorrer aos lugares: vinham-nos buscar à Faculdade)
Ou será que os problemas são de tal dimensão que eles não têm como os resolver?
Maloud,
A maior parte deles, hoje, não tem qualificações. Tem habilitações literárias, o que é diferente.
O esquema não é muito diferente. Quando eu comecei a trabalhar tinha mais habilitações do que a grande maioria dos portugueses.
As coisas evoluem. O ensino obrigatório nessa altura andava pela 4ª classe.
Quando se massificaram os cursos superiores estavam à espera de quê?
Pensavam que iam saír das faculdades e serem todos administradores de empresas? Este deve ser o País com a pior classe empresarial da Europa e no entanto há milhares de gestores e economistas licenciados. Para gerirem o quê?
E os novos gestores estão à espera de quê para começarem a criar os seus próprios postos de trabalho?
Helena,
É como digo anteriormente. O nível de habilitações foi subindo sempre.
Quando a 2ª classe era o ensino obrigatório, quem tinha a quarta classe, tinha emprego. Quando passou a ser obrigatório ter a 4ª classe, quem tiha o 2º ano do liceu, tinha emprego. Quando passou e ser o 2ª ano... etc.
No entanto posso contar-lhe uma estória simples quando procurei o meu primeiro emprego.
Fui ao República ter com o Raúl Rêgo para saber se ele tinha trabalho para mim e ele perguntou-me o que é que eu sabia fazer.
Respondi-lhe que tinha o 7º ano do Liceu e ele mandou-me logo embora porque me tinha perguntado o que é que eu sabia fazer e não quais as minhas habilitações.
Fica a letra...
Sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar, já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração casinha dos pais, se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração vou queixar-me pra quê? Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração eu já não posso mais que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.
Luís,
cá para nós, faça-me um favor: não diga mais nada, porque falta pouco para eu começar a dar-lhe razão!
;-)
Se os próprios cidadãos não se mobilizam é porque não devemos estar assim tão mal. O nosso instinto de sobrevivência obriga-nos a lutar. Significará isso que os indivíduos não se sentem minimamente ameaçados por parecerem inertes?
Então eu posso considerar-me uma MULHER FELIZ ... acabei o curso de Germânicas, entrei numa Escola para ensinar ( e nessa altura quem lá estava queria mesmo aprender ), mal consegui saí da " casinha dos pais", não adiei Marido, organizei a Vida, não adiei Filhos, estagiei enquanto ensinava ... fui FELIZ! E hoje ainda o sou ... mas quando olho à minha volta reconheço que hoje DEOLINDA tem muita razão ... " que esta situação dura há tempo demais " ... " que mundo tão parvo " ... é tão complicado ser JOVEM e levar uma vida digna!!! E mais não digo ... um abraço
Aqui no meu trabalhinho o que eu vejo é que a "geração do não posso mais" é a mais subserviente! O que estão sempre prontos para fazer todas as vontadinhas ao chefe - fazer horas extarordinárias não pagas é normal...- e são aqueles que licham a vida a quem, ainda, pensa que há direitos laborais!
Se calhar eles apenas colhem o que resulta da sua incapacidade de... indignaçâo!
Será que esta situação é toda por culpa deles? Será que têm realmente poder para mudar alguma coisa? Pode-se esperar espírito de luta e solidariedade de alguém que aprendeu dos pais e professores a bater a bolinha baixa para poder sobreviver? O que é que os mais velhos têm andado a incutir aos seus filhos?
E que margem de manobra têm eles? Pode-se esperar de um recém-licenciado que tenha know-how para criar o seu próprio emprego? Quantas empresas mais de bijuteria(e t-shirts personalizadas, azulejos, etc.) por internet conseguirão sobreviver?
Não esqueçamos um dado fundamental: esta geração depara-se com um quadro de leis laborais como já não havia há quase quatro décadas. Não direi tanto na letra, mas na praxis.
Isso, e uma crise económica cada vez maior.
Por outro lado, compreendo o Luís: os jovens que se lamuriam de dentro do seu carrinho, de dentro da sua roupa de marca, com verniz chanel nas unhas que seguram displicentemente o i-phone, e tanto mais - é difícil levar a sério os queixumes dessas barrigas fartas.
É isso mesmo Helena. Há muito para pensar, debater a alterar.
Mas para que isso tenha algum efeito é necessário que sejam esses jovens a tomar em mãos a alteração daquilo que melhor lhes serve.
Começo a estar farto de lamúrias de luxo de quem nem sequer consegue ser solidário e que se alheia do futuro.
Portugal tem mais de 2 milhões de pobres (de gente que não atinge mínimos de subsistência e sem qualquer preparação). Entendo que esses tenham graves dificuldades para terem iniciativa. Os outros, os que têm prepração, têm de saltar das suas redomas e meter as mãos na massa. Não para fazerem bijuterias, mas para entrarem no tecido produtivo gerador de riqueza, de postos de trabalho e de valor. Foram essas ferramentas que eles foram buscar à escola e que a nossa geração se esmifrou para que eles as tivessem.
Não sou grande exemplo, porque isto de ser barbeiro não é grande coisa, mas lembro-me vagamente que quando casei tratei primeiro dos bifes e só depois (quando já podia) do aparelho de televisão.
E já agora Helena:
à sua questão:
"Pode-se esperar de um recém-licenciado que tenha know-how para criar o seu próprio emprego?"
respondo com nova questão:
e pode-se admitir que esse mesmo recém-licenciado entre numa empresa e tente arrumar a um canto os portadores de know-how convencido que é o detentor de toda a sabedoria?
Isto também é uma questão de parolice (lá está o barbeiro a falar). Há por aí uma camada de gente que está convencida que as habilitações literárias são garantia de qualificação. Já reparou que agora confunde-se curriculum com uma colecção de certificados? Que a experiência profissional passou a ser tábua raza. Que ninguém quer aprender com os mais experientes. Que preferem aprender por erro a perguntar a quem sabe?
Muita matéria para tratar...pouco tempo para o fazer.
Desta vez gostei, Senhor Barbeiro. Apesar de na maioria das vezes estar na outra margem, é caso para, desta vez, lhe dar os parabéns...
O Estado que temos, não tem, seguramente, condições para subsidiar tanta gente que nada fazendo,tem quase tudo... O porquê disso?... as mentes iluminadas que se pronunciem.
Luís
Estou aqui a aplaudir de pé.
Caro Sr Luis, cada geração tem os seus problemas, a nossa teve a guerra colonial, a ditadura, a emigração politica ou económica, como então se fazia a destrinça.
Aprendia-se os rios, e as estações de comboio do Minho a Timor, a História de Portugal á la Matoso , o pai.... não o filho, que era um conjunto de historietas, a modos do sr Hermano Saraiva, pouco rigor muito prosápia.
Se se tivesse a sorte , de ter um professor como o Romulo de Carvalho ou alguem da sua estirpe, podiam realmente aprender-se , as ciências a matematica, e sobretudo ferramentas para a vida.
Hoje os problemas são outros, massificou-se E BEM o ensino , mas as Universidades de vão de escada, que temos de agradecer ao sr Professor Cavaco Silva e a Sra D. Manuela Ferreira Leite, proliferam, cheias de lentes incompetentes, que abastardaram o ensino superior , com cursos da treta.
Milhares de jovens pagaram e pagam propinas altissimas, por cursos sem qualquer saida profissional.
O ensino profissional , os antigos cursos industrial e comercial foram erradamente abandonados, e isso tem hoje consequências.
Mas a realidade é que num país com uma grande taxa de desemprego, são os jovens que mais se ressentem com a falta de oportunidades.
E os melhores, os chamados craneos, seguem a sina dos seus antepassados, vão para os EUA, para Inglaterra, para França, ou preparam-se para ir para Alemanha, já não para a construção civil, e para as limpezas, mas para gerir empresas, fazer investigação em grandes universidades, ensinar em grandes colégios, ou simplesmente agarrar com as duas mãos , as oportunidades que Portugal, na sua cegueira lhes nega.
E não é como em quinhentos, ao cheiro da pimenta e da canela que se despovoa o país, e sim pela incompetência dos politicos que nos têm governado, e das suas politicas de terra queimada, que a geração dos Nem Nem , ou os melhores cerebros dessa geração, abandonam o País.
E saída desse valioso património humano, vai nos sair muito caro.....
Geração dos já não posso mais???
Nunca tinha ouvido tal coisa. Lol.
Augusto,
Concordando com muito do que diz, não posso concordar com o "comodismo" que leva uma geração ao luxo, ao superficial em detrimento da luta pela vida.
É fácil chorar de braços cruzados, de bolsos cheios de brinquedos novos e reluzentes, e ficar à espera que, uma vez mais, alguém faça por eles aquilo que a eles não apetece fazer.
Como já disse antes, a coisa não pode ser vista com superficialidade mas tem de se fazer um esforço para não embarcar no "coitadinhos". O Mundo mudou e se querem terem um Mundo melhor têm de o fazer melhor. Compete-lhes mais a eles do que a nós que já lhe demos as ferramentas para o fazerem.
E não é uma questão geracional. Se há coisa que a nossa geração tem culpa é de ter facilitado demais a vida desta geração "já não posso mais", nunca lhes explicando que a vida não é só facilidade e gozo.
Quanto à saída para o estrangeiro também não há aqui um drama por aí além. Sempre se saiu para o estrangeiro para se conseguir "bagagem" que muitas vezes acaba a ser usada depois na Pátria. Tenho muitos cientistas próximos que o fizeram.
Mas temos de fazer melhor. Temos de usar essa ciência, temos de deixar de ser só teoria e academia. Meter as mãos na massa, deixar os serviços, produzir, criar riqueza para darmos a volta a isto.
Os jovens têm de se deixar de lamúrias e ir à vida. Tem de se deixar de "já não posso mais" para irem ao "vamos fazer mais", terem arrojo, deixarem-se de molezas, serem inovadores, correrem risco.
Deixar de recorrer aos bancos para comprarem os carrinhos da moda sem que antes tenham ido a esses mesmos bancos buscar dinheiro para o investimento que as qualificações que têm os habilitam a fazer.
Isto é chover no molhado? Pela minha parte tenho a consciência tranquila. Dei às minhas filhas as ferramentas para que elas tenham uma vida pelo menos igual à minha. Dei-lhes a noção de que a vida conquista-se e não é feita de lamúrias. E elas safam-se. Com recibos verdes, com a minha ajuda, com o esforço delas e com a insatisfação própria da juventude.
São lutadoras e tenho muito orgulho nelas.
Deixo o meu exemplo: 35 anos, curso de eng. química da UC em 2001. Saí por um ano para fazer um estágio (Leonardo da Vinci, uma espécie de Erasmus para estagiários) na Alemanha. Regressado (a crise de 2002 tinha eclodido e a empresa não pôde ficar comigo) arranjei emprego numa "empresa familiar" com cerca de 50 empregados no centro do país. Salário? Cerca de mil euros líquidos por mês. Nada mau, certo?
O problema é que uma pessoa inteligente (e não tenho pruridos em me assumir como tal) tem dificuldades em ter como patrão dois homens com a 4a que aprenderam o negócio a trabalhar na fábrica do pai e que não sabem a diferença entre física e química. Quando propunha que se avaliasse a possibilidade de mudar o processo para poupar dinheiro e melhorar a qualidade recebia um paternalista "deixe lá isso engenheiro", como quem diz "lá vem vpcê com essas manias de quem estudou...".
Perante este cenário, e apesar de ter um bom emprego, estável, com um bom salário, decidi ir para fora, à procura de algo que me desafiasse. Optei pelo doutoramento na Holanda. Isto no final de 2003. Agora, uns anos mais tarde, depois de trabalhar numa empresa holandesa durante uns tempos, estou na Alemanha, novamente sob a direcção do meu orientador de doutoramento que me convidou para me juntar à equipa quando recebeu um prémio para iniciar o seu grupo de investigação aqui.
Feliz? Estou, sem dúvida. Pelo menos com o trabalho. Sair de casa não é tão fácil quanto se pensa, apesar de tudo. Não devo voltar, contudo, embora não me importasse de o fazer. Aquilo que me revolta é outra coisa: não a falta de dinheiro ou sequer de segurança, porque no resto da Europa não se está muito melhor. Antes a impossibilidade de esta geração, a mais bem preparada de sempre, poder ser desafiada profissionalmente por um sistema de empresas que não a sabe aproveitar.
E para quem diga que devemos começar as nossas empresas, respondo simplesmente que nem toda a gente o quererá fazer e que isso é uma porta para as dívidas (inclusivamente de toda a família, por causa dos fiadores), uma vez que muitos negócios não resultam e os bancos não arriscam nada: querem o seu dinheiro de volta.
Lutar? Talvez, mas só com armas iguais. Talvez isso faça de mim cobarde. Ou comodista. Sinceramente não sei.
O Carlos lá em cima está a aplaudir de pé, mas ele sabe que eu sei e mais o paleio todo da outra, que nunca tivemos dificuldades. Podíamos ir à luta, e ele foi, ou fazer os maiores disparates, e eu fiz, que tínhamos sempre a rectaguarda coberta.
E também eu tenho a consciência tranquila. Têm as ferramentas e, com pequenas ajudas parentais, mas sem cunhas explícitas ou implícitas, já saíram de casa, trabalham para os bifes e dispensam o verniz Chanel, a roupa de griffe, os plasmas e toda a parafrenália "indispensável" ao estatuto de filhos de uma certa burguesia. Só não dispensam as festas de anos que a mãe prepara e amanhã cá os terei a comemorar os 35 da mais velha ;)
Parabéns à mãe e à filha.
Obrigada, Luís ;)
Bravo João Sousa André.. Está tudo dito..
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