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sábado, 19 de setembro de 2020

Isto não é o “novo normal” insanamente designado como tal por quem nos quer incutir que o é

Sei não ser o caso típico do drama/tragédia que vejo, oiço e leio por aí quando se fala do confinamento que vivemos. Estou aposentado, a minha mulher reparte-se entre o teletrabalho e o trabalho em espelho, não sou um tendencialmente deprimido solitário – aliás não me dou mal com o convívio reduzido nem com a falta de toque excessivo – e, por razões que pouco interessam para o caso, convivi permanentemente o confinamento com a minha mulher, uma das minhas filhas e duas das minhas netas.

Também é verdade que o confinamento não me foi especialmente doloroso por questões financeiras porque os rendimentos se mantiveram constantes e as despesas, embora na generalidade aumentadas por diversas razões que também pouco interessam para o caso, só foram drasticamente agravadas nas rubricas de hardware informático, comunicações, electricidade e água. Este parágrafo é indiferente para o texto e só ficou para o contextualizar

Faz-me muita confusão o drama/tragédia que vou lendo por aí resultante do confinamento como sendo coisa capaz de levar à demência por falta de beijos e abraços, carinhos, toques, conversas da treta e bisbilhotices como se, dois ou três meses sem isso, fosse o fim do Mundo. 

Muito mais grave do que isso foi o não confinamento cuidadoso e responsável de quem nunca passou por preparação para guerras ou nunca teve de anteriormente abdicar de regabofes e não se absteve no confinamento do seu trono narciso e provocou com isso o fim do Mundo para outros ou lhes causou consequências e mazelas para a vida. 

Nunca faltou água, electricidade, bens alimentares, comunicações, informação, bens “on-Line”, serviços de entregas de todo o tipo, nem politiquices e fofocas que não fossem capazes de nos manter ocupados e entretidos através de cliques, mensengers, tweets, sms, whatsapps (muitas vezes até em demasia e alheados da realidade de haver nos bastidores quem não tivesse tempo para dramas/tragédias para assegurar esses serviços em sobrecarga). 

Nunca faltou pó para limpar, camas para fazer, loiça e roupa para lavar, coisas sempre pendentes para consertar, redes sociais para irritar e ser irritado, mortes para lamentar, nascimentos para comemorar, anos para fazer, livros para ler, escritos para escrever, contas e impostos para pagar e afectos e carinhos para desenvolver. 

Não foi um estado calamitoso de angústia com balas a soprarem-nos ao ouvido e bombas a explodir, nem uma altura de guerras nas cidades ou nas estradas que são muito mais incapacitantes no chamado normal a que voltaremos daqui a pouco, mais mês, menos mês, mais ano, menos ano, para continuarmos o caminho da destruição do Planeta. 

E isto que vivemos não é o “novo normal” insanamente designado como tal por quem nos quer incutir que o é. 

Isto é o actual anormal que há-de ser ultrapassado para voltarmos ao normal que se espera mais consciente, mais reflectido, menos consumidor de recursos e mais eficaz na redução de desperdícios. Isto que vivemos não é normal, nem novo nem velho normal, como normal não foi termos de perder os beijos, afectos e selfies de Marcelo. 

Apeteceu-me isto, o desabafo, porque a minha liberdade continua intacta e a minha interactividade, quando a quero praticar, também.

LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.006/2020]