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sábado, 27 de outubro de 2012

Da vida

ACIMEUma das grandes mentiras do Portugal de hoje é a de que os milhares de jovens licenciados que estão a emigrar, o estão a fazer para ocuparem, nos países de acolhimento, lugares compatíveis com o seu grau de habilitações.

Fazem-no para qualquer emprego, tal como o fizeram recentemente estrangeiros, no Portugal da imigração que, nessa altura, desenvolveu teorias xenófobas contra os que aqui vinham buscar sustento.

Londres está a abarrotar de licenciados portugueses que estão a aviar gelados e hamburgers.

Outras cidades e países também. Basta que essa função seja melhor paga do que uma licenciatura para conseguir um emprego de 500€ atrás do balcão numa loja de perfumes num qualquer centro comercial em Portugal.

Há pouco víamos cartazes xenófobos a atacar engenheiros croatas e ucranianos que acarretavam tijolos na nossa construção civil e hoje gostaria de saber onde anda essa gente que os afixava e que, certamente, terá de esconder as tatuagens de suásticas para guiar um táxi numa qualquer capital estrangeira.

Sei do que falo. Lembro-me de campanhas que ajudei a implementar quando trabalhei com o José Leitão, era ele Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas.

A vida ensina aqueles que não querem aprender com o conhecimento dos outros.
LNT
[0.536/2012]

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ortigas

OrtigaHouve um tempo em Portugal em que a exportação de portugueses foi um óptimo negócio. Desculpar-me-ão os leitores que continuam a achar que o Botas foi uma eminência e um imã de ouro (consta que parte dele desaguou da forja onde se derretiam as alianças retiradas dos dedos nos campos de concentração), mas continuo a entender que, mesmo no tempo dele, teria sido preferível criar condições para que essas pessoas tivessem ajudado a desenvolver a nosso País.

O negócio correu bem porque o Botas exportava portugueses sem nada ter investido o que fazia com que grande parte dessa gente tivesse tão pouca condição lá fora que se via obrigada a amealhar cá, na esperança de um dia poder voltar a sentir-se cidadã.

Eram outros tempos. Tínhamos um banco central que emitia a moeda que o Botas mandava e, para que ele pudesse continuar a guardar os lingotes na cave, havia que garantir divisa estrangeira que cobrisse o cunho da moeda nacional.

Tudo é diferente hoje em dia. As divisas estrangeiras não servem para garantir a moeda internacional que circula em Portugal, a malta nova vai para a escola, em grande parte paga pelo colectivo e os portugueses que se exportam já não se sentem imigrantes nos países de destino. Perdemos o investimento feito na preparação dessa malta e não há qualquer retorno porque o dinheiro é guardado nos bancos da emigração ou num qualquer paraíso a salvo do Ministério das Finanças português.

A irresponsabilidade do discurso da zona de conforto é esta mesma, já não falando no salto geracional que se está a dar e no atraso que as gerações futuras vão sentir quando forem confrontadas com o obsoleto português.
LNT
[0.106/2012]

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Porque é que eu não emigro

Homem atadoPudesse eu, tivesse vinte e poucos anos, não tivesse filhas nem netas, nem casa para sustentar, fosse licenciado a fazer de professor, não tivesse descontado mais de 2/3 da minha vida para garantir uma segurança na velhice que me anunciam não ir ter, não tivesse investido em Portugal, no bem dos portugueses, no ensino das minhas descendentes, na defesa do meu País, não tivesse deixado o couro (e literalmente o cabelo) na defesa da democracia, na oportunidade dada ao Primeiro-Ministro para se educar à minha custa e de ter sido tratado por médicos que eu ajudei a pagar e de usar as auto-estradas que ainda estou a pagar e que as minhas filhas e netas irão continuar a amortizar, não fossem todas essas razões e mais uma mão cheia que não direi aqui, entre elas as que inviabilizam a partida devido aos roubos na remuneração que me é devida e que servem para pagar todos os luxos de que os nossos governantes não abdicam, e faria como o Senhor Primeiro-Ministro sugere.

Emigrava
.

Não para os PALOPS ou outros de língua oficial portuguesa, mas para países onde os offshores fossem garantidos, tivesse, claro, tido oportunidade de ter poupado uma vida inteira porque não tinha criado portugueses novos, nem os tinha educado, porque não tinha descontado 2/3 de uma vida para um fundo que foi inúmeras vezes atacado pela ganância e pelo absurdo (como aquilo que agora pretendem fazer com os fundos de pensões dos bancários), não tivesse investido em Portugal e no bem dos portugueses, nem na defesa do meu País, nem tivesse pago os estudos de um homem que hoje é Primeiro-Ministro, nem as auto-estradas que ele usa, nem os médicos que o tratam nem o raio-que-o-parta, mais as meninas que já não vão receber prendinhas, a não ser a pequenina, nem os almoços no Forte de São Julião e as luzinhas de Natal com uma estrelinha que os guie.

Tivesse eu meios para emigrar, para não ter de ouvir estes tipos, não ter de me deprimir cada vez que anunciam que aquilo porque lutei uma vida inteira foi uma fantasia, embora tudo tenha feito e pago para que fosse uma realidade para mim, para as minhas filhas e netas, e já tinha emigrado ou pelo menos tinha emigrado o aforro para evitar que esta gente lhe deitasse a mão.
LNT
[0.606/2011]