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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Missing Men


António Fernando Gomes de Almeida, o Pendura Pacaça ou Toni, juntou-se hoje aos nossos camaradas do Curso de Pilotos Milicianos da Força Aérea Portuguesa P1/74 que voam mais alto e dos céus guardam os que ainda por cá estão.

À Margarida, sua mulher, e aos filhos João e Marta deixo, com profunda tristeza, um grande abraço sentido pela perda.

Para todos os meus camaradas Penduras fica a amizade solidária neste momento forte em que mais um de nós deixa vazia a asa da formação que voamos há 48 anos.

Fica em paz, meu caro Toni.

Informações: 
5ª Feira - 16:30 h Velório na Igreja dos Navegantes no Parque das Nações em Lisboa 
6ª Feira - 15:00 h Missa de Corpo Presente seguida de cremação no Cemitério dos Olivais. 

LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.030/2022]

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Penduras 48


Eram tempos de guerra.

Eram tempos em que não se discutia vacinas, políticas, direitos. Aliás, eram tempos em que praticamente nada se discutia (pelo menos publicamente) porque a discussão podia acabar em cadeia.

Eram tempos de tostões, de salário mínimo inexistente, de imensa viagem quando se falava de ir de Lisboa ao Porto.

Eram tempos de analfabetismo onde já quase era doutor quem tinha o 5º ano dos liceus.

Eram tempos de canhota ao ombro para os jovens de dezoito anos que não seguiam estudos.

Há 48 anos eram esses os tempos. Era o que havia.

Nesses tempos, faz hoje 48 anos, um bando de 73 cábulas, uns porque o eram, outros porque não o sendo não tinham mais possibilidades de estudar, viu-se seleccionado, entre outras centenas de candidatos, para ganhar asas que lhes permitissem sobrevoar, transportar, proteger e evacuar todos os outros jovens a quem estava destinado pisar minas no meio do mato.

Esses eram tempos em que Abril ainda era o futuro que só a poucos se deixava adivinhar.

Foram tempos, faz hoje 48 anos, em que esse bando de jovens se apresentou na Granja do Marquês para constituírem um grupo de amigos improváveis a quem nem a morte separa.

Tinham por lema “ou vai, ou racha”. Não rachou.

LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.002/2022]

sábado, 13 de novembro de 2021

Penduras - Amizade que perdura

 
Quando, há quase 48 anos, o rolar era em ziguezagues e alinhávamos, o que emocionava não era o betão que no regresso nos retornaria homens mas o ronquido da descolagem que nos fazia Fénix.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.004/2021]

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os homens capazes duma flor, onde as flores não nascem

Penduras

Assim António Ferreira Pinto evocou Alegre no primeiro Juramento de Bandeira efectuado no Portugal democrático.

Toda a alocução fica aqui disponibilizada em memória do nosso Alferes de recruta que já cá não está para comemorar connosco, no próximo sábado, na Base Aérea nº 1, Granja do Marquês em Sintra, os 40 anos do primeiro curso de pilotos milicianos, P1/74, formado depois do Estado Novo.

Saudades de António Marques, António Guedes de Magalhães, Carlos Liberato, Jorge Rodrigues, e Rui Sarmento, (espero não ter esquecido algum) que estarão sempre presentes de cada vez que levantarmos os nossos copos para mais um Acção, acção, acção, aviação!

Uma comemoração que é um encontro de amigos, ex-instrutores e ex-alunos, homens já de vida cumprida, capazes de avaliar se as palavras finais proferidas no juramento que fizeram e as juras perfiladas de defesa da Pátria e dos cidadãos, foram só intenções.

"Sede dignos desses homens e ajudai o País a aprender a soletrar palavras como LIBERDADE e AMOR. Pilotos recrutas do curso P1/74 que os vossos aviões, e os conhecimentos aqui obtidos vos sirvam para estreitar as distâncias, na tal "Viagem do Homem para o Homem".
LNT
[0.143/2014]

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Rui Sarmento

Missing Men

Hoje tivemos a notícia de mais uma baixa na nossa asa do P1/74.

É assim a vida quando nos confrontamos com a verdade de que também ela é eterna até ao dia em que se faz temporária. A aerodinâmica do grupo adquirida no curso mantém-se embora a fuselagem já vá tendo uns rombos e remendos.

Se houver algo mais do que estes vai-e-vem em que andamos, fica de bem, Rui Sarmento
LNT
[0.132/2014]

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A nossa própria circunstância

Brevet FAPPara fazer concorrência à Joana Lopes, que de vez em quando nos brinda com peças de memória, aqui disponibilizo aos colecionadores o discurso do primeiro Juramento de Bandeira feito em Portugal depois do Vinte e Cinco de Abril.

Foi proferido no dia 1974.05.14 na Base Aérea nº1 aquando do Juramento de Bandeira dos alunos-piloto do Curso P1/74 (ao qual tive a honra de pertencer), pelo então Alferes Miliciano António Ferreira Pinto.
Camaradas recrutas,

Coube-me a honra e a responsabilidade de ser indicado para escrever e ler algumas palavras a vós destinadas, nesta cerimónia do vosso Juramento de Bandeira, coincidente com o Dia da Unidade; e, aquilo que poderia, a priori, ser como tácita aceitação de uma disposição superior, não o foi, na realidade, pela simples razão de que este ano, houve um 25 de Abril.

Já é do conhecimento geral os acontecimentos memoráveis desse dia, - de cuja extensão não temos ainda a noção exacta – em que um punhado de capitães desceu à rua, deu as mãos ao Povo e resolveu pôr cobro ao governo fascista, colonialista de Salazar e Caetano que, com mais ou menos repressões, com mais ou menos sorrisos demagógicos, com mais ou menos reformas revisionistas ia aniquilando o País, ia tornando Portugal numa Nação indesejável à luz do mundo, fazendo dele um dos recantos mais miseráveis do globo terrestre, para gáudio e enriquecimento de uma minoria, postada na exploração do próprio povo.

Terminou o fascismo e, graças ao Movimento das Forças Armadas / Povo, de imediato se lançaram as primeiras pedras na reconstrução de uma nação verdadeiramente livre, com respeito e defesa das liberdades individuais, sustentáculo inequívoco de um jogo em que as regras se resumem a FÓRMULAS DEMOCRÁTICAS DE EXISTÊNCIA.

Eis porque se tornou possível eu escrever, e mais ler, aqui, numa Unidade Militar de Portugal, qualquer coisa como isto que vos escrevi e estou lendo e que, ainda há bem pouco, me faria quase hesitar em pensá-lo. Ainda me lembro, sem saudade como é evidente, do discurso que há três meses o Alf. Magalhães proferiu, aqui, neste mesmo local, e das dificuldades por ele tidas, em escrever algo que não ferisse as “susceptibilidades governamentais”, nem colidisse com o seu esquema ideológico.

Por isso, e pelo facto de esta ser (creio eu) a primeira cerimónia de Juramento de Bandeira deste país de Abril, deste Portugal resgatado, desta Nação ressuscitada, eu reafirmo da honra e igualmente da responsabilidade maior que a liberdade de expressão me aufere, na designação desta missão, cujas linhas vos dedico.

Ao fazê-lo, o meu pensamento vai primeiramente para todos aqueles que sofreram na carne, a irracionalidade do governo de Salazar e Caetano, para os presos políticos que no Tarrafal, em Caxias, em Peniche foram expostos aos maiores vexames e torturas, jamais possíveis e passíveis de serem idealizados no mundo actual. E quantos sucumbiram às mãos dos algozes...

Vai, do mesmo modo, para o Povo que durante meio século foi sistematicamente explorado e espoliado dos seus haveres e da justiça; desse povo enlutado que tudo deu sem nada receber.

Não esqueço, ainda, os corajosos filhos da Pátria que se recusaram a alimentar, a colaborar com o fascismo, e no estrangeiro buscaram melhor vida, já que neste canto só encontravam o lento caminhar para uma morte inútil, a fome, a miséria, a injustiça, a corrupção, em contraste flagrante com as benesses concedidas a meia dúzia de monopólios.

Um desses exilados, o extraordinário Manuel Alegre, a personificação incontestada da Voz da Liberdade, gritava lancinante lá de longe:

Não mais Alcácer Quibir
É preciso voltar a ter uma raiz
Um chão para lavrar
Um chão para florir
É preciso um País
Não mais navios a partir
Para o país da ausência.
É Preciso voltar ao ponto de partida
É preciso ficar e descobrir
A pátria onde foi traída
Não só a independência
Mas a vida.

O Tempo é de esperança, e mais de certeza. Já temos um País, com chão para lavrar, para florir; é preciso voltar ao ponto de partida!

Temos homens capazes de o cultivar, de o construir, de o engrandecer, de o amar... é preciso inventar o amor nesta terra que já foi de ódio.

E ao ver-vos diante de mim, de armas na mão, eu vejo, como dizia o poeta, o povo em armas. É preciso não vos esquecerdes que a vossa responsabilidade está em assegurar a paz, defender as liberdades individuais tal como o afirmam os princípios do movimento das Forças Armadas de 25 de Abril.

Da união do Povo com as Forças Armadas dependerá o bem-estar social, a alegria de viver, a paz de Portugal.

No Povo sempre esteve e estará a razão de ser de um País.

Com uma farda vestida, um fato de macaco, uma batina, de qualquer modo que vos apresentardes, cabe-vos a responsabilidade e o dever de defesa total dos interesses da Nação.

Pela primeira vez neste País, o Juramento de Bandeira toma o significado e a projecção de uma defesa popular e verdadeiramente nacional.

Vós sois "os homens capazes duma flor, onde as flores não nascem", como dizia também o Manuel Alegre.

É forçoso que construamos, dentro da nossa especificidade, um País novo, o País de Abril, onde os homens estejam – como referia Paul Valéry – "prontos a enfrentar coisas que nunca existiram".

Sede dignos, igualmente das fardas que em 25 de Abril, de mangas arregaçadas, empunhando a raiva e o desejo de gritar bem alto BASTA, puseram fim ao governo cruel de Caetano, continuador do despotismo santacombadense.

Sede dignos desses homens e ajudai o País a aprender a soletrar palavras como LIBERDADE e AMOR.

Pilotos recrutas do curso P1/74 que os vossos aviões, e os conhecimentos aqui obtidos vos sirvam para estreitar as distâncias, na tal "Viagem do Homem para o Homem".
A todos Boa Viajem!
LNT
[0.583/2012]