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domingo, 20 de outubro de 2019

Memórias de coisas antigas [ II ]


Em Agosto de 1973, primavera marcelista, ao amparo do toldo da maralha na praia do Dragão Vermelho da Costa de Caparica (onde ainda não havia paredão nem pontões), espreguiçavam-se meninos maus de boas famílias e meninas boas de famílias más a ressacar a noitada do dia anterior. Entre outros, o Delmiro Andion e eu próprio.

Os altifalantes debitavam para o areal os apelos da cabine de som: “encontrou-se uma carteira que se entrega a quem comprovar pertencer-lhe” ou: “está aqui um menino perdido, de nome Marcelo, que será entregue aos pais devidamente documentados”, entrecortados com publicidade ao “OMO, lava mais branco”, com o hino da FNAT “Angola é Nossa” e interrompidos, às 15:00 horas, pela radionovela “Simplesmente Maria” que fazia a praia ficar em suspenso e nos proporcionava silêncio para uma sesta reparadora.

O toldo ao lado era o dos marrões que não tinham conseguido o 14 e que levavam para a praia os calhamaços para o Exame de Aptidão à Universidade e eram vigiados nos estudos por um encarregado de educação escondido atrás de “o Século” que deixava na cadeira de praia quando ia, com os seus marrões, almoçar a casa.
Quando me dava na bolha aproveitava a ausência e folheava o jornal.

Tanto o Delmiro como eu tínhamos ido às sortes na Avenida de Berna e as inspecções declararam-nos apurados “para todo o serviço”. Andávamos naquela vontade de continuar os estudos para depois, quando já estivéssemos fartos de os não ter deixado para antes.

Os adiamentos ao feijão-verde estavam postos de lado.

Nesse dia chamou-me a atenção um anúncio da FAP impresso na última página do matutino.
Já tinha dois irmãos na guerra em Moçambique, ambos pilotos – um de T6 e o outro de Alouette III - , achava que o hino que soava nos altifalantes era irritante e estúpido porque Angola não era nossa mas sim deles, dos que eram de lá oriundos e, quando muito, também dos outros que para lá foram.

Não me apetecia pegar numa canhota para andar no mato dos outros à espera que uma mina me mandasse pelos ares.

E, ares por ares, antes os ares por fora de um avião. Abanei o Delmiro, mostrei-lhe o anúncio e dois minutos depois estava decidido passar pela Andrade Corvo (e não Corco, como dizia no anúncio – até nisso a tropa era tropa) para ver o que dava.

E deu.

Exames físicos e psicotécnicos feitos, abalámos para a Granja do Marquês onde aprendemos a voar.

Curiosamente, não tenho qualquer foto dos dois fardados a não ser uma de conjunto na recruta depois de uma carecada e, curiosamente também, dali seguimos caminhos diferentes.


Eu, o da Ilha da Morte Lenta, entretanto morrida, e ele o de Tancos, onde quase meio século depois andaram a fanar uns mamarrachos que sobraram dessa época e que tem servido para a politiquice em 2019.

Também publicado no Penduras

LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.025/2019]

sábado, 19 de outubro de 2019

Memórias de coisas antigas [ I ]


Um dia soube que o "a República" estava a contratar gente.

Fui ter com o Raúl Rêgo e ele perguntou-me:
Então, Tito, o que é que sabes fazer?

Respondi-lhe: Tenho o sétimo ano...

O venerável mestre já não me deixou continuar:
Não te perguntei o que é que tinhas, perguntei o que é que sabias. (ler com pronúncia do norte, por favor)

Nesse dia perdi uma brilhante carreira como jornalista.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.024/2019]

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Lágrimas e suspiros

Lágrima
Este País num vale de lágrimas ao olhar para o recibo deste mês e a aperceber-se que ganha menos do que em Dezembro de 2016.

Um País a fazer de conta que não sabe que em Novembro/Dezembro deste ano de 2017 vai cair no recibo de vencimento + 50% de um subsídio de Natal que há uns anos foi diluído em duodécimos para fazer de conta que, aí sim, não tinha havido uma redução real do rendimento anual.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.016/2017]

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Livre

25/11
Com mãos se faz a paz se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema ─ e são de terra.
Com mãos se faz a guerra ─ e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre
LNT
[0.319/2014]

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Respeito pela memória

TumbaSou dos que respeitam a memória dos mortos, principalmente daqueles que, em vida, nos serviram de exemplo.

Sou dos que nunca se deixam de espantar com os que desrespeitam os vivos, abandonando à sua sorte e sugando a sua vida até que a morte os leve, para depois usarem a sua memória como troféu.

Embora seja um desrespeitador da memória de Sebastião José, duma memória que só tenho por ser memória deste País, tenho como lição a frase que lhe é atribuída que mandava enterrar os mortos e cuidar dos vivos.

É em defesa da memória dos mortos que me serviram de exemplo enquanto vivos, que me revolta ver tantos mortos-vivos, de quem não rezará a memória, agarrarem-se às urnas na esperança de partilharem, com os que partem, alguma glória que esses mortos-vivos nunca conseguirão.
LNT
[0.008/2014]

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A nossa própria circunstância

Brevet FAPPara fazer concorrência à Joana Lopes, que de vez em quando nos brinda com peças de memória, aqui disponibilizo aos colecionadores o discurso do primeiro Juramento de Bandeira feito em Portugal depois do Vinte e Cinco de Abril.

Foi proferido no dia 1974.05.14 na Base Aérea nº1 aquando do Juramento de Bandeira dos alunos-piloto do Curso P1/74 (ao qual tive a honra de pertencer), pelo então Alferes Miliciano António Ferreira Pinto.
Camaradas recrutas,

Coube-me a honra e a responsabilidade de ser indicado para escrever e ler algumas palavras a vós destinadas, nesta cerimónia do vosso Juramento de Bandeira, coincidente com o Dia da Unidade; e, aquilo que poderia, a priori, ser como tácita aceitação de uma disposição superior, não o foi, na realidade, pela simples razão de que este ano, houve um 25 de Abril.

Já é do conhecimento geral os acontecimentos memoráveis desse dia, - de cuja extensão não temos ainda a noção exacta – em que um punhado de capitães desceu à rua, deu as mãos ao Povo e resolveu pôr cobro ao governo fascista, colonialista de Salazar e Caetano que, com mais ou menos repressões, com mais ou menos sorrisos demagógicos, com mais ou menos reformas revisionistas ia aniquilando o País, ia tornando Portugal numa Nação indesejável à luz do mundo, fazendo dele um dos recantos mais miseráveis do globo terrestre, para gáudio e enriquecimento de uma minoria, postada na exploração do próprio povo.

Terminou o fascismo e, graças ao Movimento das Forças Armadas / Povo, de imediato se lançaram as primeiras pedras na reconstrução de uma nação verdadeiramente livre, com respeito e defesa das liberdades individuais, sustentáculo inequívoco de um jogo em que as regras se resumem a FÓRMULAS DEMOCRÁTICAS DE EXISTÊNCIA.

Eis porque se tornou possível eu escrever, e mais ler, aqui, numa Unidade Militar de Portugal, qualquer coisa como isto que vos escrevi e estou lendo e que, ainda há bem pouco, me faria quase hesitar em pensá-lo. Ainda me lembro, sem saudade como é evidente, do discurso que há três meses o Alf. Magalhães proferiu, aqui, neste mesmo local, e das dificuldades por ele tidas, em escrever algo que não ferisse as “susceptibilidades governamentais”, nem colidisse com o seu esquema ideológico.

Por isso, e pelo facto de esta ser (creio eu) a primeira cerimónia de Juramento de Bandeira deste país de Abril, deste Portugal resgatado, desta Nação ressuscitada, eu reafirmo da honra e igualmente da responsabilidade maior que a liberdade de expressão me aufere, na designação desta missão, cujas linhas vos dedico.

Ao fazê-lo, o meu pensamento vai primeiramente para todos aqueles que sofreram na carne, a irracionalidade do governo de Salazar e Caetano, para os presos políticos que no Tarrafal, em Caxias, em Peniche foram expostos aos maiores vexames e torturas, jamais possíveis e passíveis de serem idealizados no mundo actual. E quantos sucumbiram às mãos dos algozes...

Vai, do mesmo modo, para o Povo que durante meio século foi sistematicamente explorado e espoliado dos seus haveres e da justiça; desse povo enlutado que tudo deu sem nada receber.

Não esqueço, ainda, os corajosos filhos da Pátria que se recusaram a alimentar, a colaborar com o fascismo, e no estrangeiro buscaram melhor vida, já que neste canto só encontravam o lento caminhar para uma morte inútil, a fome, a miséria, a injustiça, a corrupção, em contraste flagrante com as benesses concedidas a meia dúzia de monopólios.

Um desses exilados, o extraordinário Manuel Alegre, a personificação incontestada da Voz da Liberdade, gritava lancinante lá de longe:

Não mais Alcácer Quibir
É preciso voltar a ter uma raiz
Um chão para lavrar
Um chão para florir
É preciso um País
Não mais navios a partir
Para o país da ausência.
É Preciso voltar ao ponto de partida
É preciso ficar e descobrir
A pátria onde foi traída
Não só a independência
Mas a vida.

O Tempo é de esperança, e mais de certeza. Já temos um País, com chão para lavrar, para florir; é preciso voltar ao ponto de partida!

Temos homens capazes de o cultivar, de o construir, de o engrandecer, de o amar... é preciso inventar o amor nesta terra que já foi de ódio.

E ao ver-vos diante de mim, de armas na mão, eu vejo, como dizia o poeta, o povo em armas. É preciso não vos esquecerdes que a vossa responsabilidade está em assegurar a paz, defender as liberdades individuais tal como o afirmam os princípios do movimento das Forças Armadas de 25 de Abril.

Da união do Povo com as Forças Armadas dependerá o bem-estar social, a alegria de viver, a paz de Portugal.

No Povo sempre esteve e estará a razão de ser de um País.

Com uma farda vestida, um fato de macaco, uma batina, de qualquer modo que vos apresentardes, cabe-vos a responsabilidade e o dever de defesa total dos interesses da Nação.

Pela primeira vez neste País, o Juramento de Bandeira toma o significado e a projecção de uma defesa popular e verdadeiramente nacional.

Vós sois "os homens capazes duma flor, onde as flores não nascem", como dizia também o Manuel Alegre.

É forçoso que construamos, dentro da nossa especificidade, um País novo, o País de Abril, onde os homens estejam – como referia Paul Valéry – "prontos a enfrentar coisas que nunca existiram".

Sede dignos, igualmente das fardas que em 25 de Abril, de mangas arregaçadas, empunhando a raiva e o desejo de gritar bem alto BASTA, puseram fim ao governo cruel de Caetano, continuador do despotismo santacombadense.

Sede dignos desses homens e ajudai o País a aprender a soletrar palavras como LIBERDADE e AMOR.

Pilotos recrutas do curso P1/74 que os vossos aviões, e os conhecimentos aqui obtidos vos sirvam para estreitar as distâncias, na tal "Viagem do Homem para o Homem".
A todos Boa Viajem!
LNT
[0.583/2012]

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

As brumas da reacção e a memória

Maioria silenciosa
Associo-me à memória da Joana. Há que lembrar para avançar.
Nota: o cartaz publicado por mim fui uma das respostas que, na altura, se fizeram ao cartaz que a Joana publica.

LNT
[0.408/2011]

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Voltando à caserna

Aluno Piloto LNTSou daqueles que ainda fez tropa, daquela que se fazia para matar ou morrer. Não tropa macaca de feijão-verde, antes da outra que deixava escapar uma ou outra napalm proibida e que também servia para evacuar companheiros de bandeira, alguns em muito mau estado.

Não cheguei a fazer nada disso. Fiquei-me pela formação porque o meu curso de pilotos aviadores milicianos foi o último a ser iniciado em tempo de guerra e o primeiro a acabar a recruta com a previsão das tréguas.

Quer isto dizer que aprendi o que de bom se podia aprender com o serviço militar e safei-me de ter de matar ou morrer, apanhei pelo meio a revolução e só não fui um militar de Abril, embora nesse Abril fosse militar, porque a incorporação foi em Janeiro.

Na recruta aprendi a fazer a minha cama. Fiquei a saber que se a não fizesse bem feita iria dormir mal. Durante as inspecções só tive de a refazer uma vez.

Aluno Piloto LNTNo curso básico de pilotagem, na Granja do Marquês, aprendi a aterrar. Aquilo tinha os procedimentos para cumprir e tinha a alma que se queria manter junto ao corpinho laroca dos vinte anos. Rapidamente aprendi a fazer o palier que consistia em jogar com a sustentação da máquina que pilotava, numa combinação bem conseguida de velocidade, flaps e de gás necessário para que as rodas tocassem o chão sem partir o trem nem projectar a passarola para saltos tontos na pista.

Depois aprendi muitas outras coisas. Desde fazer pontaria, a disparar, desde ajudar um camarada de armas, a praxar.

Fazer tropa era uma merda (a caserna tem a sua linguagem própria) mas era uma escola que nos dava lições de vida começando pela que nos fazia diferenciar um oficial de um sargento e acabando pela que nos fazia distinguir um oficial confiável de um filho-da-puta.

Não sei o que me deu para escrever este post, mas gostei de o ter escrito.
LNT
[0.179/2011]

segunda-feira, 28 de março de 2011

Do sótão

FuryQuando eu era miúdo vivia com uma matilha de irmãos numa moradia em São Domingos de Benfica. Na nossa rua só haviam mais duas casas, outras moradias iguais à nossa que se distinguiam pela cor dos frisos da fachada.

Na casa ao lado moravam uns refugiados alemães da segunda grande guerra, talvez um pouco mais velhos que a minha mãe. Ele, alto e reservado. Ela, que tinha um nome que não sei escrever mas que soava em português “Fiuri” (a quem nós chamávamos Madame Fury – o Cavalo Selvagem, como tínhamos aprendido na série que na altura passava na televisão), fazia-nos tremer de medo cada vez que uma bola mais alta passava o muro e aterrava no meio das rosas do outro lado. Quase sempre cabia-me ter de ir buscar a bola, coisa própria para um dos mais novos que, com mais ou menos resmungos alemães, de lá regressava com o rabo entre as pernas mas com o esférico debaixo do braço.

A Madame Fury – o Cavalo Selvagem, ficou-me guardada num qualquer recanto da memória e foi preciso passarem todos estes anos para a rever, embora mais peituda e anafada, na figura de mad. Dorothea a barafustar no seu melhor alemão contra as tretas portuguesas, a falta de tempo de Cavaco e a infantilidade de Coelho.
LNT
[0.102/2011]

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Onde andará a Wikileaks

DouradaIsto é como aquela outra coisa que se passa com os polícias. Sempre que é preciso um, nunca aparece.

Chovem encomendas anónimas nesta vossa casa de bem-estar e outros penteados.

A última, em vez de robalos, trazia douradas.

O tabuleiro de xadrez é bonito mas não serve para nada numa casa onde só se joga às damas. E já agora, por falar em xadrez, que tal estará o tempo em São Tomé? Por cá não vai mal, embora o processo BPN que hoje deve começar a ser julgado... (perdi-me no raciocínio. Esta minha memória anda pelas ruas da amargura).
LNT
[0.479/2010]

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Põe os corninhos ao Sol

CaracolEra assim que, em miúdo, tagarelava com os caracóis que insistiam em comer os jarros da casa onde vivia no meio de um bando de irmãos que nunca perdoavam a vida ranhosa que se desenvolvia no bolso da frente do meu bibe.

Sem o saber, promovia a baba dos animais e a mistela que resultava de um ou outro encontrão que algum dos maninhos fazia acontecer para que o esmagamento dos moluscos gastrópodes me provocassem uma lágrima de desalento e o raspanete da criada ao ver o estado deplorável em que o asseio da fardamenta ficava.

Era assim. Não havia caracol grande, pequeno, listado, ou liso que não fosse arrancado das folhas da planta de flor branca com um pirilau amarelo no meio para o recatado mundo que coabitava no tal bolso da frente do meu bibe. Dali eram retirados, com as enroladas cobras-de-café e os berlindes bichos-de-conta, para todo o tipo de brincadeiras, torturas e batalhas de morte travadas com as guardiãs do buraco das formigas gigantes da base do pinheiro existente no fim do quintal.

Caracol, caracol, põe os corninhos ao Sol, música que guardo para estes dias de início de Primavera chuvosa e ameaçada pelas cinzas do Katla islandês que fazem milhões de indígenas do velho continente esquecer voos rápidos e regressar aos pouca-terra.

Canto para dentro a musiqueta aguardando pacientemente vê-los, em manada e comprimidos em saquinhos rendados, para que lha cante de novo enquanto os instruo na brincadeira do estrafegamento pelo estrugido de orégãos e piripiri.
LNT
[0.147/2010]

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Auschwitz

Tatuagem número Campo Concentração

No a Regra do Jogo estou a publicar cinco clips de um documentário da BBC sobre Auschwitz.

Há coisas que convém nunca esquecer, principalmente por terem sido possíveis no Continente que gosta de ser considerado como o expoente máximo da civilização.
LNT
[0.048/2010]

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

If I were a rich man

Ritz ClubeJá não é a primeira vez que falo do Ritz Clube. Penso que as minhas melhores artes de barbearia foram aprendidas por lá, no meio das confusões da juventude, do fascismo, da revolução e dos desenfianços da Base Aérea da Granja do Marquês dentro de um qualquer porta-bagagens.

O Ritz Clube na época de setentas era um sítio mítico e místico onde se misturavam os impulsos dos vinte anos, a ideia de que se ia partir para a guerra, as frustrações do curso de pilotagem, o início da pilotagem da vida, as próprias vida e morte, a adrenalina, as mulheres mais feias de Lisboa, os mágicos mais decadentes, a arruaça mais viril, os chulecos e as cervejas que corriam a rodos pelo meio da matilha dos blusões de voo.

São recuerdos, são, e se fosse um excêntrico daqueles que a televisão anuncia, não deixava escapar a oportunidade de transformar esta escola de vida num local de perdição.

Sediava lá toda a barbearia e contratava novas colaboradoras de arromba, olaré!
LNT
[0.713/2009]

Rastos:
USB Link
->
o Público ≡ Ritz Clube está à venda por 1,5 milhões mas a freguesia promete lutar pela sala emblemática

domingo, 28 de setembro de 2008

Botão Barbearia[0.736/2008]
Forte de PenicheFortaleza de Peniche

O facto de ser classificado como Monumento Nacional e o de lá existir um Museu Municipal desde 1984 não lhe garantiu, como não garante em inúmeros outros espaços, a preservação que se impõe.

Alerta-me Joana Lopes para um texto de Irene Pimentel onde se anuncia a intenção de transformar a Fortaleza de Peniche em Pousada, o que à partida até poderá parecer uma boa ideia tendo em conta muitos outros exemplos de património recuperado e preservado pelo excelente trabalho que as Pousadas de Portugal têm feito.

No entanto acontece que a Fortaleza de Peniche encerra nas suas muralhas as masmorras de liberdade onde foram recentemente enclausurados e maltratados portugueses por delito de opinião. São memórias frescas com vítimas de primeira e segunda geração ainda vivas e que nos merecem todo o respeito.

Não conheço o processo de transformação do Forte de Peniche, não faço a mínima ideia dos planos para a preservação dos espaços que deverão ser locais de reflexão e de memória, nem das garantias de acessibilidade pública por parte dos não-clientes da futura pousada. É importante que seja divulgado o plano total do que ali se pretende fazer para que, a partir dessa informação, se possam tirar conclusões.

Para já fica o alerta.
LNT
Rastos:
USB Link-> Irene Pimentel ≡ Caminhos da Memória ≡ Peniche: de Prisão a Pousada?

-> Wikipédia ≡ Praça Forte de Peniche
-> IPAR ≡ Fortaleza de Peniche
-> Imagem ≡ Click Portugal

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Botão Barbearia[0.722/2008]
OutonoOutono

Parece que o Outono se apresentou com ar de quem veio para ficar. Chove a cântaros por aí, há trombas de água por toda a parte, incluindo pelos mercados financeiros e os analistas, principalmente os que ajudaram a eleger Cavaco, resmungam cobras e lagartos porque Sócrates resolveu dar um safanão na bolsa, esquecendo-se o que provocou, há uns anos, uma conversa em família com que Cavaco pôs o mercado de capitais em pantanas.

Desta vez não foi Sua Excelência o nosso Primeiro, mas só Sua Excelência o nosso Primeiro travestido de SG Rosa numa festa gringa/obamaiana no berço de Portugal e nem sequer foi um apelo à debandada mas só um aviso à navegação.
LNT
Rastos:
USB Link
-> Jornal de Negócios On Line ≡ Sócrates fala da Bolsa como local onde se "joga"

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Botão Barbearia[0.699/2008]
September 11 NY

NY 11 de Setembro

Ah, perante esta única realidade, que é o mistério, perante esta única realidade terrível, a de haver uma realidade.
Perante este horrível ser que é haver ser.
Perante este abismo de existir um abismo, este abismo de a existência de tudo ser um abismo, ser um abismo por simplesmente ser, por poder ser, por haver ser!
Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem, tudo o que os homens dizem, tudo quanto constroem, desfazem ou se constrói ou desfaz através deles, se empequena!
Não, não se empequena... se transforma em outra coisa, numa só coisa tremenda e negra e impossível.
Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino.
Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino, aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres, aquilo que subsiste através de todas as formas, de todas as vidas, abstractas ou concretas, eternas ou contingentes, verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora, porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar por que é um tudo, por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa!
Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor, e é com minhas ideias que tremo, com a minha consciência de mim.
Com a substância essencial do meu ser abstracto que sufoco de incompreensível, que me esmago de ultratranscendente, e deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser, não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!
Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
Ah, não, nenhuma – nem morte, nem vida, nem Deus!
Nós, irmãos gémeos do Destino em ambos existirmos, nós, irmãos gémeos dos Deuses todos, de toda a espécie, em sermos o mesmo abismo, em sermos a mesma sombra, sombra sejamos, ou sejamos luz, sempre a mesma noite.
Ah, se afronto confiado a vida, a incerteza da sorte, sorridente, impensando, a possibilidade quotidiana de todos os males, inconsciente do mistério de todas as coisas e de todos os gestos, por que não afrontarei sorridente, inconsciente, a Morte?
Ignoro-a? Mas que é que eu não ignoro?
A pena em que pego, a letra que escrevo, o papel em que escrevo, são mistérios menores que a Morte? Como, se tudo é o mesmo mistério?
E eu escrevo, estou escrevendo, por uma necessidade sem nada.
Ah, afronte eu como um bicho a morte que ele não sabe que existe!
Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais, pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência, porque é preciso existir para se criar tudo, e existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser, e ser possível haver ser é maior que todos os Deuses.
Álvaro de Campos

LNT

terça-feira, 22 de julho de 2008

Botão Barbearia[0.607/2008]
Manuel Tito de Morais
Manuel Tito de Morais

Assunto a que voltarei mais tarde porque agora é o momento de se constituir a Comissão Executiva para a comemoração do centenário do seu nascimento (1910-2010).
LNT

terça-feira, 10 de junho de 2008

Botão Barbearia[0.509/2008]
O dia da raça

No dia da Raça e de Camões "exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias"
Conceição Meireles

Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas".
Cavaco Silva, Junho de 2008


No dia da Raça e de Camões "exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias"
Conceição Meireles

Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas".
Cavaco Silva, Junho de 2008


No dia da Raça e de Camões "exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias"
Conceição Meireles

Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas".
Cavaco Silva, Junho de 2008

A raça de lá irmos cantando e rindo, levados, levados, sim!

LNT

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Botão Barbearia[0.507/2008]
Ainda recordações
e porque amanhã é 10 de Junho
10 de Junho


A coisa passava-se a preto e branco, como era a TV da altura e, de resto, quase tudo o que havia em Portugal.

Companhias, pelotões e esquadras dos três ramos das Forças-Armadas, Comandos, Pára-quedistas, Fuzileiros e Rangers, (não me recordo se também) representantes dos Pupilos do Exército, do Colégio Militar e da Escola de Odivelas, a Tribuna das Altas-Patentes-do-Estado, os lugares de destaque para os Escudo Moçambiquecondecorados e para os familiares que iriam receber as medalhas a título póstumo, a Sagres e uma ou outra corveta ou draga-minas fundeados ao largo do Cais das Colunas para a salva de canhão, a passagem de uma formação de T6 e outra de Fiat.G e as vozes intercaladas de Pedro Moutinho, Fernando Pessa, Henrique Mendes ou Fialho Gouveia a relatar na Rádio o que se imaginava, ou a comentar na TV aquilo que se via.

António e depois Marcelo, o Almirante Américo, a 1ª dama Gertrudes, o Cardeal Cerejeira, os Henriques, os Rebelos, as Supicos e outros, distribuíam colares e medalhas, faziam por esquecer os mutilados, apelavam à Pátria una e indivisível, de aquém e além-mar, no dia da raça, de Portugal e das Colónias.

Soluços para Goa, Damão e Diu.

Tudo a preto e branco, tal como ficou na memória.
LNT