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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Livre

25/11
Com mãos se faz a paz se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema ─ e são de terra.
Com mãos se faz a guerra ─ e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre
LNT
[0.319/2014]

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Enquanto Portas dormia *

Paulo PortasNa movimentação dos espiões que circulavam livremente e passavam os saberes públicos aos privados que lhes pagavam favores e mordomia,
Portas dormia para fazer que não via.

Na movimentação dos estrangeiros que adquiriam as jóias da coroa a valor de saldo para depois empregar os que lhe davam guarida e outra simpatia,
Portas dormia para fazer que não sabia.

Na movimentação das copiadoras e dos dossiers que submergiam para que a História não contasse a conta pública que aparecia,
Portas dormia e fingia.

Na movimentação dos saques que se abatiam sobre os cidadãos para dar mais gordura ao gordo que no Estado se mexia,
Portas viajava e fingia que dormia para fazer que não via, nem sabia.

Enquanto Portas dormia,
Todos e tudo se espremia,
ele de conta fazia,
ele nada sentia e mentia,
ele de todos se escondia,
e mais do que qualquer outro, fingia.
* Título inspirado numa obra de Domingos Amaral
LNT
[0.415/2012]

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Mais além

Jogo sombrasEnquanto nos deixarem,
iremos sempre mais e mais além.

Além da troika, além do justo, além do necessário.

Iremos mais além,
não para dobrar o Bojador
mas para ir além da dor.

E enquanto nos deixarem,
mataremos os mortos de fome
porque os mortos não devem comer.
Mataremos os doentes velhos
porque os velhos doentes não devem viver.
Mataremos os mais fracos
porque os fracos não têm que sobreviver.

Além da troika, além do justo, além do necessário.

Iremos mais além,
não para dobrar o Bojador
mas para ir além da dor.
LNT
[0.083/2012]

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A vida inteira

Torquato da Luz - Espelho Íntimo
Quando a manhã chegar e tu voltares
com o intenso cheiro a maresia
que usas deixar em todos os lugares
por onde passas, pura poesia
ou perdida lembrança dos olhares
que surpresos trocámos algum dia,
vou apertar-te ao peito de maneira
que fiques a meu lado a vida inteira.

Torquato da Luz
Espelho Íntimo
Torquato da Luz lançou o seu último livro de poesia – Espelho Íntimo – no passado dia 26 de Maio, na Barata, em Lisboa. Foi-me impossível estar presente e agora que me preparava para o ir buscar para juntar aos outros livros que estão dentro do saco das férias, o estimado autor fê-lo chegar pelo correio com a assinatura da sua simpatia.

Torquato da Luz é lido no Ofício Diário, onde divide connosco a poesia que lhe escorre da caneta. Tem vasta obra publicada e um currículo invejável na comunicação social e na academia.

Mais uma honraria de um cliente ilustre a inscrever, com gratidão, nas paredes desta barbearia.
LNT
[0.258/2010]

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Queixa das almas jovens censuradas

AngocheDão-nos um lírio e um canivete / e uma alma para ir à escola / mais um letreiro que promete / raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário / que tem a forma de uma cidade / mais um relógio e um calendário / onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim / para dar corda à nossa ausência. / Dão-nos um prémio de ser assim / sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu / para tirarmos o retrato / Dão-nos bilhetes para o céu / levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos / com as cabeleiras das avós / para jamais nos parecermos / conosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história / da nossa historia sem enredo / e não nos soa na memória / outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados / que adormecemos no seu ombro / somos vazios despovoados / de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho / e um pacote de tabaco / dão-nos um pente e um espelho / pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça / e uma cabeça presa à cintura / para que o corpo não pareça / a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro / com embutidos de diamante / para organizar já o enterro / do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal / um avião e um violino / mas não nos dão o animal / que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão / com carimbo no passaporte / por isso a nossa dimensão / não é a vida, nem é a morte
Natália Correia
LNT
[0.055/2010]

quinta-feira, 5 de março de 2009

Botão Barbearia[0.182/2009]
BlogAfectosPor Amor e outros poemas
Talvez eu volte um dia. Ninguém sabe
que mistério se esconde atrás da porta
que para mim já se entreabre.
De resto, pouco importa se volto ou não. Interessa é que vivi
o mais intenso que consegui.
Amei e fui amado. E, se também
por vezes odiei ou houve alguém
que me tenha odiado, já esqueci.
Estou, assim, preparado para quando
a porta, enfim, se abrir e eu entrar
no mistério que, não voltando,
não terei de revelar.


A Porta, Torquato da Luz, Por Amor e Outros Poemas
O nosso vizinho Torquato da Luz fez-me chegar pelo correio, com dedicatória, o livro de poesia que a Papiro Editora publicou e ele lançou na Barata na semana passada. Foi uma amabilidade maior que revela bem a sua alma poeta.

Torquato da Luz foi jornalista e director dos vespertinos Jornal Novo e a Tarde e mantém o Blog Ofício Diário onde publica poesia enquadrada por fotografia com o mesmo nível de afecto usado nas letras.

Fica o agradecimento duplo pela sensibilidade que nos transmite em cada visita ao seu Blog e por cada poesia que dedica a Maria João e partilha connosco.
LNT
Rastos:
USB Link
-> Ofício Diário Torquato da Luz

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Botão Barbearia[0.130/2009]
PoesiaPor Amor e outros Poemas

O nosso cliente Torquato da Luz do Ofício Diário, fez a fineza de convidar o barbeiro e as suas colaboradoras para o lançamento do livro Por Amor e outros Poemas que se realizará na Barata da Av. de Roma, dia 28, às 17:30 horas.

Queiram os astros estar em conjunção e não faltarei.

A poesia de Torquato da Luz é suave como as fotografias que vai apresentando no seu Blog e nada poderá ser mais relaxante do que ouvir Inês Ramos a lê-la num fim de tarde de Sábado.
LNT
Rastos:
USB Link
-> Ofício Diário Torquato da Luz

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Botão Barbearia[0.090/2009]
Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
está gente a morrer e nós também.
Está gente a despedir-se sem saber que para sempre
este som já passou, este gesto também.

Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
tu próprio te despedes de ti próprio.
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
já estás diferente neste verso e vais com ele.

Os amantes agarram-se desesperadamente
eis como se beijam e mordem e por vezes choram.
Mais do que ninguém eles sabem que estão a despedir-se.

A Terra gira e nós também.
A Terra morre e nós também.
Não é possível parar o turbilhão
há um ciclone invisível em cada instante.

Os pássaros voam sobre a própria despedida,
as folhas vão-se e nós também.
Não é vento. É movimento fluir do tempo, amor e morte,
agora mesmo e para todo o sempre, Ámen.

Manuel Alegre (Chegar Aqui)

LNT