domingo, 1 de fevereiro de 2009

Botão Barbearia[0.090/2009]
Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
está gente a morrer e nós também.
Está gente a despedir-se sem saber que para sempre
este som já passou, este gesto também.

Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
tu próprio te despedes de ti próprio.
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
já estás diferente neste verso e vais com ele.

Os amantes agarram-se desesperadamente
eis como se beijam e mordem e por vezes choram.
Mais do que ninguém eles sabem que estão a despedir-se.

A Terra gira e nós também.
A Terra morre e nós também.
Não é possível parar o turbilhão
há um ciclone invisível em cada instante.

Os pássaros voam sobre a própria despedida,
as folhas vão-se e nós também.
Não é vento. É movimento fluir do tempo, amor e morte,
agora mesmo e para todo o sempre, Ámen.

Manuel Alegre (Chegar Aqui)

LNT

6 comentários:

anamar disse...

Depois desta beleza que fiz questão de ler em alta voz, vou dormir feliz... porque nesta lojinha "também sou feliz!...

mdsol disse...

"Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
está gente a morrer e nós também."
Oh Sr. Luís da Barbearia acertou na mouche!

Anónimo disse...

Desde que nascemos que estamos a morrer, só que nem todos sabem. E ninguém o diria como Manuel Alegre.
Maria dos Alcatruzes

Anónimo disse...

... " Não é possível parar o turbilhão" ... O tempo não pára e temos que ir vivendo um dia de cada vez ... Poema lindo, mas com tantas verdades tristes ... Um bom fim-de-semana e até breve

Anónimo disse...

Lindíssimo poema.

CS disse...

Ainda existe alguma esperança. Já se esqueceram todos do Obama por causa do FreePort?
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/comercio-livre-comercio-justo-e.html
é uma ideia.