Nambuangongo, meu amor
Canção com Lágrimas e Sol
Eu canto para ti um mês de giestas
um mês de morte e crescimento ó meu amigo
como um cristal partindo-se plangente
no fundo da memória perturbada.
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
e o coração poisado sobre a tua ausência
eu canto um mês com lágrimas e sol: o grave mês
em que os mortos amados batem à porta do poema.
Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa
quem me dera em Maio. Depois morreste
com Lisboa tão longe ó meu irmão de Maio
que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
teu nome escrito com ternura sobre as águas
e o teu retrato em cada rua onde não passas
trazendo no teu sorriso a flor do mês de Maio.
Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o Sol. Lisboa viúva (com lágrimas com lágrimas).
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.
Manuel Alegre (ao Manuel Ortigão que morreu na guerra)
Ontem, no Palácio Galveias, houve coisas que dão outro sentir. Ouvir Lídia Jorge apresentar Nambuangongo, perceber Manuel Alegre a explicá-lo, entender Paulo de Carvalho a cantá-lo e interiorizar a Canção com Lágrimas e Sol declamada por Rui Mendes, marcam sempre, fazem-nos melhores.
LNT