terça-feira, 13 de novembro de 2012

os livros

Como se desenha uma casaÉ então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?

É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo "eu" entre nós e nós?
Manuel António Pina
Como se desenha uma casa
LNT
[0.574/2012]

Linguagem de trapos

RabosAssim como se cresce para menos, também se decresce para mais, se sobe para baixo, se desce para cima, se arrecua para a frente e se avança para trás.

A linguagem da ciência mais "condicionada por elevada incerteza" é uma aberração da própria ciência incerta. Usa-se para que ninguém, incluindo os economistas, a entendam e acabará por ser usada por Marcelo Rebelo de Sousa nas suas homilias dominicais para nos explicar tudo e o seu contrário ou, em linguagem científica, nos explicar que nada = 0.

Diz-nos hoje o Banco de Portugal que, embora possamos não o saber, estamos todos mortos. A derrapagem colapsou por estampanço e a restritividade das condições monetárias e financeiras indicam ser possível não haver sobreviventes (presume-se que, sobreviventes vivos).

A notícia condicionada por elevada incerteza informa ainda que a capacidade de alisamento do consumo por parte dos agentes económicos poderá revelar-se "mais limitada".

Pum!
LNT
[0.573/2012]

Bílis descarregada, no pasa nada

Estação espacialE pronto!

A senhora foi-se embora debaixo do imenso buzinão ao atravessar a 2ª circular a caminho de Figo Maduro (que eu ouvi, em carne e osso, mas que não foi referido em parte alguma), a bílis foi descarregada sobre o "inimigo" externo para aliviar quem nos faz mal, o Presidente da República remeteu-se ao silêncio, para variar, o Primeiro-ministro mostrou-se dócil com a chanceleira e satisfeito com o serviço de catering de São Julião da Barra que lá despachou mais um cabrito, São Pedro cumpriu o seu papel em conjunto com São Martinho e os portugueses ficaram ocos de notícias e de dizeres, após tão grande agitação, como se sentissem o estômago vazio depois de uma valente diarreia.

Se não acreditam vejam as manchetes de hoje onde nem o fait-divers Vale e Azevedo consegue abrir o apetite para a distracção.

De resto estão por aí os fiscais da troica, a discussão na especialidade do OE 2013 e mais uma catrefada de coisas que pouco importam quando se está de ressaca.

Até o barbeiro ficou com falta de paleio. Preparem-se para amanhã, dia internacional de protesto que em Portugal tem a particularidade de ser comemorado com uma greve geral que não o é e com a adesão pessoal do Secretário-geral da UGT que já havia decretado a não adesão da sua central sindical.

Vou almoçar que se faz tarde.
LNT
[0.572/2012]

Já fui feliz aqui [ MCCXVII ]

Ghostbuster
Ghostbuster - USA
LNT
[0.571/2012]

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Vitamina B12, B6 e ácido fólico

Comprimidos
Recordar que a posição de Angela Merkel sobre a desnecessidade de recorrer a novo resgate da tróica não é novidade.

Ela já tinha dito isso a Sócrates, ainda antes do primeiro resgate.

Só Aníbal Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã é que não a ouviram nessa altura.
LNT
[0.570/2012]

Imagem do dia

Angela Merkel

Passos Coelho fez Angela Merkel falar num púlpito com os dizeres “GOVERNO de PORTUGAL

Diz-se que uma imagem vale por mil palavras e, neste caso, as mil palavras são conseguidas pela repetição da frase “Lá está ele a esconder-se atrás das saias de alguém”.

A imagem, que inexplicavelmente os protocolos de estado português e alemão deixaram passar, foi no entanto contrariada quando Merkel explicou que as políticas que estão a ser aplicadas decorrem dos governos dos respectivos países e não de uma imposição da Alemanha.

Uma imagem que vale mil palavras para justificar a cobardia do poder português ao não assumir que que as políticas que estão a ser impostas são aquelas que Passos Coelho e Paulo Portas entendem ser o cumprimento do programa deste Governo.
LNT
[0.569/2012]

Lindos de morrer

Cavaco e MerkelEle (para ela): Vais comer um cabritinho a São Julião?
Ela (para ele): Juliau? Was queres dizierr com Juliau?

Ele (para ela): Julião, não sabes, mas cabritinho não se te escapou.
Ela (para ele): Einsnibal! ainda no m’eixpliscaste que ser Juliau.

Ele (para ela): Não te posso explicar, Angelinha. Se tu soubesses ias preferir comer o cabritinho na Cova da Onça.
Ela (para ele): Eixplica sim, Einsnibal, por favorr. Eu querrer saberr porrque estás já a pegarr nesse nako de bolo-rrei parra encherr a boca. Cheirra-me à marrosca.

Ele (para ela ainda com o naco de bolo-rei na mão): Se te disser não pões o Pedrito de castigo?
Ela (para ele): Disparrate. Punha lá o meu garina de castigo. Erra lá capaz de castigarr o benjamim que põe o povo a pão e água e põe a sua Reichskanzler ao pé da água a comerr cabrtita com sopas de cavalo-cansado da Bacalhôa 2009.

Ele (para ela): Então aqui vai. Mas se ele te perguntar como soubeste, dizes que foi a Manuela Ferreira Leite que te disse, combinado?
Ela (para ele): Combinada.

Ele (para ela já a mastigar o naco de bolo-rei): Antes de ti, o último chefe de estado que esteve em São Julião foi o Kadafi e dizem que a partir desse momento a vida lhe começou a correr menos bem. O Paulinho também viveu por lá uns tempos, quando foi Ministro dos não sei quê e do Mar, e quando deu por ele já estava despedido.
Ela (para ele): Ich no perrcebo nada do que tu me dizerr. Já chega desta converrsa de gatafunhas e vamos ao cabrrito e à vinhaça.
Nun, Herr Präsident Einsnibal, zunächst ganz einfach auf wiedersehen und danke.
LNT
[0.568/2012]

Das Hidras

Duas cabeçasConfesso que gostei de ver, na televisão, a Convenção Bloquista deste fim-de-semana.

Parecia estar a assistir à festa de um grande Partido satisfeito com os resultados obtidos nas últimas eleições.

Gostei de saber que a metade feminina do novo cérebro dirigente tem alternativas de financiar o País sem recurso à troika (embora me lembre que ajudou à sua vinda) e que está capaz de fazer no País aquilo que não conseguiu fazer no seu Partido, isto é, governar sozinha.

Deus os guarde, desenvolva e faça crescer na demagogia e que a virgindade do poder lhes dê muitos e muitos anos de discurso.
LNT
[0.567/2012]

SMS [ III ]

Parafuso

Cara Angela Doroteia,

Gosto de te saber no cantão da Lusitânia. É sempre com agrado que aqui recebemos os que nos são queridos e até os que não o são. Estando tu, minha querida líder, na primeira hipótese (dos que nos são queridos porque vão largando umas lecas para que aqui se viva maravilhosamente como poderás verificar nas instalações do Páteo dos Bichos, na almoçarada com vista para o mar que te será servida na fortaleza onde Kadhafi acantonou e, finalmente, entre os teus e aqueles com quem eles negoceiam nas fantásticas instalações do Centro Cultural que Cavaco mandou fazer para perpetuar o seu mandato de Primeiro-ministro) estranho que não pretendas dar uma volta pela Baixa para conheceres melhor o Palácio da Independência ou o dos Restauradores.

Estranho por duas razões essenciais:

1ª porque sei que te agradaria saber que afinal em Lisboa há gente que se não veste tão bem como aqueles que vais encontrar nos sítios onde serás recebida e que te agradaria também constatar que há uma data de gente que não tem motorista e que anda de Metro e de autocarro;

2ª porque penso que te deslumbraria o calor que nós e o nosso Sol gostamos de fazer sentir aqueles que nos visitam. Entre outras coisas, descobririas que há outros alemães a passear e a desfrutar de Portugal e que o consideram um País simpático e agradável onde os cidadãos estrangeiros não precisam de caças, lanchas ou de bloqueios de estradas para se sentirem seguros.

Espero que em breve voltes cá, minha querida Reichskanzler, e que tragas contigo Her Joachim e os enteados para um banho nas praias ou para uma cura de SPA numa das nossas muitas estâncias termais.

Deixo-te com a vénia geneflexiva devida
LNT
[0.566/2012]

Já fui feliz aqui [ MCCXVI ]

Willy Brandt
Willy Brandt - Alemanha
LNT
[0.565/2012]

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SMS [ II ]

Parafuso

Caro Pedro Manuel,

Sabendo que vais receber a tua patroa no próximo dia 12 estranho que não tenhas ainda mandado distribuir pelas escolas os bibes e as bandeirinhas pretas, vermelhas e amarelas que tanto te inspiram e que te fazem certamente lembrar o ladeamento das estradas entre Luanda e Silva Porto aquando das visitas feitas às colónias por Américo de Deus Rodrigues Thomaz (no tempo do "Angola é nossa").

Estranho por duas razões essenciais:

1ª porque sei que te agradaria lembrar esse tempo em que as crianças escondiam, com os bibes, os remendos que usavam nos joelhos e no rabo das calças (e que tu estás apostado em voltar a fazer usar);
2ª porque penso que quererás engalanar o percurso do cortejo com muita cor e movimento de forma a fazer crer que todos vivemos humilde mas benzinho, graças a Deus, e muito satisfeitos e resignados com a penitência que nos redime do pecado da luxúria que permitiu que tu e o Gaspar tivessem feito estudos caríssimos para nos poderem governar.

Manda lá tratar disso e, se não poder ser no percurso todo, porque não deve haver papel para tanta bandeira, que seja pelo menos na IT19 entre Lisboa e Massamá quando a senhora for beber um copo de jeropiga à tua singela casinha.

Dá muitos cumprimentos a Dona Laura e às meninas.
Deixo-te com o respeito e a admiração que podes imaginar que por ti nutro
LNT
[0.564/2012]

Já fui feliz aqui [ MCCXV ]

Magalhães
Magalhães - Ensino - Portugal
LNT
[0.563/2012]

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

SMS [ I ]

Parafuso

Caro António José,

Sabendo que não és amigo do peito de Cavaco e que, mesmo que o sejas de Coelho, não reúnes com eles para jogar a bisca lambida nem para falar das namoradas da praia, estranho sempre que, quando questionado, refiras que não divulgas as conversas que com eles manténs.

Estranho por duas razões essenciais:

porque aposto em ti e sou teu apoiante desde o início tendo em ti depositado a minha confiança de representação sempre que foi necessário escrevê-la num boletim de voto;
porque penso que reunirás com os dirigentes deste País para falares de mim, dos meus e dos nossos. Logo, gostaria de saber o que de mim, da vida dos meus e da nossa vida é tratado nessas reuniões.

Sei que fazes saber o teu pensamento e que deverá ser isso que te leva a Belém e a São Bento, mas gostaria de o ver confirmado quando te questionam.

De resto, do teu querer saber como está a Dona Maria, a Dona Laura ou as suas proles, pouco me interessa.

Abraço-te com o respeito e a admiração de sempre
LNT
[0.562/2012]

Pólvora seca

português suaveSei que isto de remar contra a maré é cansativo, mas lá vão mais umas remadelas.

A senhora alemã vem cá visitar os seus empregados. Faz bem e espero que seja bem recebida, como é da tradição portuguesa. Devíamos servir-lhe um bom caldo verde, umas migas alentejanas feitas com todos os preparos e um sarrabulho de a fazer chorar por mais. À sobremesa, e seguindo o conselho alvarinho, ficava-lhe bem um pastel de Belém e até poderia levar para a sua terra outros pastéis que por lá mumificaram devidamente conservados na canela e no açúcar em pó.

Em compensação ela poderia trazer-nos um delicioso chocolate de ouro igual a um que, em tempos, uma sua súbdita me trouxe e que confirmo ser delicioso.

A senhora alemã e os senhores norueguês, inglês, holandês, belga, austríaco, dinamarquês e todos os outros, serão sempre bem-vindos neste país de Sol e sombra.

Temos um dos melhores climas do Mundo, bom vinho e petiscos de arromba. Temos também, para seu prazer, estradas como ninguém tem, aeroportos confortáveis e muitas espreguiçadeiras nos nossos SPAS com óptimo(a)s profissionais para a(o)s fazer relaxar das agruras e frustrações de viverem em países de céu cinzento.

Para além de tudo isso temos também refugo suficiente para exportação, no mesmo lote daquele de onde levaram o Presidente da Comissão Europeia, disponíveis a cumprir todas as orientações que achem por bem impor.

O nosso problema não são os nossos visitantes, nem os nossos credores.

Tal como em qualquer empresa, os nossos problemas residem nos seus contabilistas e nos gestores que não sabem satisfazer, com qualidade, os requisitos dos seus clientes e subordinam o interesse dessas empresas aos interesses de quem as financia em vez de gerarem riqueza para os reembolsar, para produzirem e para proporcionar aos seus colaboradores meios sustentáveis de boa qualidade de vida.
LNT
[0.561/2012]