quinta-feira, 12 de junho de 2014

Barbering Books [ XI ]

Barbering Books«Nem lei nem lei, nem paz nem guerra», recitava o juiz. E a terminar, já com soluços na voz:
«Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora».

Fez uma pausa, voltou-se, como sempre, para o Marquês e disse: Eu sou um sebastianista, sou um sebastianista e não tenho rei, mas é a Hora, ó meus amigos, é a Hora de rasgar o nevoeiro e de voltar a ter um rei.

E já fora de si, saltou para cima da cadeira e começou a gritar; Real, real, viva a Monarquia, viva El-Rei de Portugal.

Gonçalo Pena não se conteve. Levantou-se, fez uma vénia ao Marquês, ergeu o copo e replicou: Talvez eu seja um republicano sem República, por acaso, disse, olhando o copo, até sou um bebedor com pouco vinho, mas há uma coisa que vos garanto, se alguém me dá um viva à Monarquia, eu tenho de gritar, com vossa licença, viva a República.

E gritou mesmo. No que foi acompanhado pelo Dr. Felismino que, para grande admiração minha, até se levantou, ele que era sempre tão calado e tão discreto.

O juiz, que apesar da solenidade do cargo tinha fama de frequentemente substituir a sentença pela porrada, atirou-se a Gonçalo Pena. Que não se ficou. Só o meu Pai os conseguiu separar, não sem levar de um e de outro, o que o irritou, a ponto de dizer: Mau, se é assim, também dou.
Manuel Alegre
Alma

LNT
[0.232/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIV ]

Chaputa de cebolada
Cebolada de filetes de chaputa - Por aí (imagem e receita daqui) - Portugal
LNT
[0.231/2014]

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Nada mais vil que a tristeza dissimulada

CucosChocante, verdadeiramente chocante, é verificar que há gente partidária que se arroga da ética e do bem quando agora vê serem esgrimidas as competências do seu apoiado e que, a meia dúzia de dias de os portugueses escolherem os seus deputados ao Parlamento Europeu, não se coibiram de fazer propaganda contra as listas que deviam apoiar para reforçar o único grupo parlamentar europeu capaz de enfrentar o neo-liberalismo que grassa por essa Europa fora e faz dos “bons alunos” portugueses as suas cobaias.

Mais vil ainda foi que, quando nessa altura souberam evocar a falta de competência política para justificar tal absurdo, preferiram a política da terra queimada que lhes permitisse agora colher os cereais que já estavam semeados e só aguardavam um regadio mais esforçado.
LNT
[0.230/2014]

O barbeiro [ VII ]

O BarbeiroPedro sentou-se no trono, puxou do Ipad, e pediu ao barbeiro que lhe desse o código WiFi.

O Senhor Luís, obediente e em processo de cativação da clientela que lhe escapa por falta de recursos, acedeu ao pedido, atou o lençol ao pescoço de Pedro e desferiu-lhe as primeiras tesouradas com a tesoura de desbaste para ver se a trunfa perdia volume.

- Sôr Luís! Estou aqui no meu Facebook e olhe que o “i ónelaine” afirma que só vinte e um deputados do coiso estão com o seu Secretário-geral.

O Senhor Luís encolheu os ombros sem dar grande importância à novidade e, como o que lhe interessava era a satisfação da clientela, continuou na função com o afinco de sempre, sem dizer palavra.

- É obra, Sôr Luís. Aquela malta toda já virou o bico ao prego! – Voltou à carga o tosquiado tentando picar quem o tosquiava.

- Oh, meu amigo - retorquiu finalmente o barbeiro já de escova na mão a retirar os pelos e a caspa que tinham ficado nos ombros do casaco de Pedro – vossemecê tem cada novidade! Então não sabe que o homem teve de gramar a malta que lhe foi deixada em herança?

Tratassem esses deputados de cuidar de mim e dos meus filhos, que os metemos lá para o fazer, em vez de andarem a guerrear-se para se segurarem por mais uma volta, que eu já dava algum valor à converseta.

Bem, prontinho! São 12 euros saxa vôr, e volte sempre.
LNT
[0.229/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Fanicos

 A notícia, à falta de outras porque as novidades rareiam nos discursos de Cavaco Silva, foi a de que o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas ao proferir um discurso perante as forças em parada, ao ser confrontado com a gritaria de quem não respeita a instituição de defesa nacional, teve um fanico.

O que daqui interessa retirar, independentemente da humanidade que manda respeitar os mais débeis, é se o Prof. Cavaco Silva está doente, ou se a sua personalidade não aguenta a adversidade.

No primeiro caso, estar doente ou enfraquecido, a Nação terá de olhar para a condição física do seu representante máximo e saber se foi realmente uma síncope vasovagal, temporária e circunstancial, ou se se é uma patologia mais grave que o diminua para o exercício da função.

No segundo caso, uma personalidade débil atreita a chiliques perante as adversidades, a Nação pouco mais poderá fazer do que o registo, uma vez que vivemos em democracia e Sua Excelência, a quem se deseja rápido restabelecimento e muito repouso e afastamento das preocupações do poder, exerce o mandato que lhe foi destinado pela maioria menor que se dirigiu às urnas para decidir, em sufrágio universal e secreto.

Duas notas:

1- Uma manifestação efectuada, no decurso de uma parada militar, onde é exigida a demissão do Governo é um apelo claro à insurreição armada;

2- Chamar Pinochet, como vi por aí, ao General CEMFA, por ele se ter dirigido aos manifestantes pedindo respeito pelas Forças Armadas do seu País é uma alarvidade que não tem nome num regime democrático.
LNT
[0.228/2014]

Barbering Books [ X ]

Barbering Books- O melhor é virem para a sala – disse a mulher.

Aí estavam três homens e cinco mulheres sentados. Não era preciso ser feiticeiro para adivinhar de que casa se tratava. Sara fez esforço para calar um gesto de recuo. Preconceitos pequeno-burgueses, são mulheres como as outras. E ajudaram-nos. Sorriu para a que lhes tinha aberto a porta, de meia idade e com problemas nos dentes.
- Obrigada.

- Se os chuis aparecerem, metam-se num quarto. Sem cerimónias. A esta hora estão todos vazios, o negócio começa mais tarde. Estes senhores também fugiram da manifestação.

Os homens tinham ficado encabulados ao verem entrar Sara, que decididamente não tinha estilo de puta. Mas agora riram todos, solidários. Um deles, o mais velho e com vestuário de operário, disse:
- Esta casa eu não conhecia. Mas como foram tão porreiras, vou passar a frequentá-la. Se a minha patroa deixar…

Os outros riram. A mulher que lhes tinha aberto a porta sentou-se ao lado dele. Segurou-lhe a mão.
- Tens de pedir autorização à tua patroa, queridinho?
- Ela é que guarda o dinheiro. E é muito semítica…
Pepetela
A geração da utopia

LNT
[0.227/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIII ]

Escabeche de enguias
Enguias de escabeche - Por aí - Portugal
LNT
[0.226/2014]

terça-feira, 10 de junho de 2014

Barbering Books [ IX ]

Barbering Books
Ao entrar em casa da minha irmã, vejo o Simão sentado, à mesa da cozinha, a fazer os trabalhos de casa. Pergunto:

- Então, como é que vai essa vida?

E, ele, desanimado:

- A vida vai bem. O que dá cabo de mim são estes trabalhos de casa!
Sofia Bragança Buchholz
Simão o fantástico

LNT
[0.225/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXII ]

Iscas com elas
Iscas com elas - Por aí - Portugal
LNT
[0.224/2014]