quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Divinas comédias

Cimissão BESClaro que as comissões de inquérito da Assembleia da República têm importância política e podem ser um meio complementar de apuramento da verdade para efeitos judiciais (uma vez que registam falas).

É assim em Portugal como na maioria dos países democráticos.

Também é verdade que, como diz Paulo Querido, “A comissão hoje tão badalada produziu mais ruído do que informação. É justamente vista pelos inquiridos como uma oportunidade de apresentarem narrativas elaboradas para estratégias de gestão de crise. Uma parte dos parlamentares usa o palco com evidente deleite mediático

Mas a questão da coisa não me parece ser tanto do palco mas mais dos comediantes residentes que nele actuam, sempre com o ouvido no ponto, sem capacidade para desmontar o guião e sem rasgo para desconstruir as narrativas e os enredos que as suas divas convidadas trabalharam à exaustão (com profissionais da pantomima) para levarem a representação à cena.
LNT
[0.334/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDLXII ]

Endless River
Pink Floyd - The Endless River - GB
LNT
[0.333/2014]

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Excelentíssimos

Ricardo Salgado na Comissão da AR

Pois, a presunção da inocência é o maior bem do estado de direito.

Já se sabe e também por aqui se acredita no chavão mesmo quando não passa disso e se faz tudo para que os “presumíveis” inocentes subam ao pelourinho na praça pública para serem imolados, sem dó nem piedade, numa qualquer fogueira inquisidora.

Mas essa presunção com os presumidos devido ao seu estatuto de nem todos serem iguais, porque um milhão não é o mesmo que um tostão, ser levada à reverência das “boas-maneiras” na prática queirosiana do chapelinho na mão reverendíssima a “vossas excelências” feita no local que julga sem juízes perante a populaça que ainda se interessa pelo que lhe vai sair do bolso é bem o reflexo dos políticos genuflectidos àquilo que hoje se chamam mercados, finança e quejandos.

Acho graça quando usam a expressão "antigo dono disto tudo" como se ele o tivesse deixado de ser. Basta ver os salamaleques que os nossos ilustres representantes na AR lhe fazem.

Não o ter recebido com a guarda a cavalo em sentido e o estandarte flectido...
LNT
[0.332/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDLXI ]

Praia Zavial
Zavial - Sagres - Portugal
LNT
[0.331/2014]

domingo, 7 de dezembro de 2014

Parabéns Pai Fundador

Mário Soares

Dizer, como se ouve por aí a muitos que só o podem dizer porque Soares se bateu para permitir que hoje o digam, que se peça a Mário Soares para se deixar reservado e se abster de comunicar o que pensa, a bem da sua imagem histórica futura, é uma imensa insanidade.

Pedir para que Soares cale é renegar a sua longa vida de luta para que ninguém possa ser calado.

É por essa vida em luta pela liberdade, que os seus 90 anos me calam fundo.

Muitos parabéns Mário Soares. (e obrigado)
LNT
[0.330/2014]

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Prender para: investigar, humilhar, vergar, extorquir, limitar, despersonalizar, calar

Detenção de Sócrates
Prende-se para melhor se investigar. Prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode "perturbar o inquérito". Mas prende-se, principalmente, para despersonalizar. Não, já não és um cidadão face às instituições; és um "recluso" que enfrenta as "autoridades": a tua palavra já não vale o mesmo que a nossa. Mais que tudo - prende-se para calar. E - suprema perfídia - invoca-se, para assim proceder, as regras do Direito, a legitimidade da democracia. "As instituições estão a funcionar."
O que me leva a borrifar para a carta de Sócrates não são as dezenas de verbos que ele usa para dar razão ao que escreve mas sim as centenas de vezes que as razões dele não foram consideradas durante os seis anos em que foi Primeiro-Ministro e nada fez para que essas razões deixassem de o ser.

O 44 de Évora tem razão. É inacreditável que a nossa justiça aja desta forma, mas só é hoje possível que o faça porque houve um PM que durante o tempo em que o foi (quatro dos quais com maioria absoluta) nunca fez o que quer que fosse para ser de forma diferente.

E, se adianta que seja verdade ser necessário sentir na pele o mal que acontece aos outros, não deixa de ser verdade que, quem é eleito para que os outros tenham os seus direitos protegidos, merece sentir na pele os efeitos das suas inconsequências.

É isto que distingue a pungência dos órfãos, da pungência dos eleitores que resulta da incapacidade dos lideres políticos que elegemos.
LNT
[0.328/2014]