quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A dois dias dos Fiéis Defuntos e a um do de Todos-os-Santos


À falta de Moções de Rejeição dos seis Grupos Parlamentares da Oposição e de uma Moção de Confiança do Governo Minoritário, temos Programa. (os três deputados únicos jogam a bolinha baixa nesta matéria)

Comparado com o frenesim de há 4 anos isto foi um marasmo (não confundir com pântano porque o nosso PM já disse que o pântano secou):

- O Presidente da Assembleia da República foi candidato único;

- Os Partidos quedaram-se em sossego perante o novo topete do nosso Primeiro sem que houvesse um só que o pretendesse despentear; e

- O Presidente da República avançou para um cateterismo tranquilo (felizmente bem sucedido) em vésperas do Dia do pão-por-Deus ao contrário do outro, que por ser personagem típica do Halloween, teve de dar posse a 2 Primeiro-ministros em meia dúzia de dias.

Um País tranquilo a dois dias dos Fiéis Defuntos e a um do de Todos-os-Santos.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.032/2019]

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Sem imagem

Como dizia um subdirector-geral que em tempos tive: “sempre que queira que alguém leia uma coisa importante nunca a expresse em mais do que um A4”.

Lição aprendida. Vivemos num País onde ler mais que um A4 é coisa para intelectuais, ou equivalentes, e a partir daí passei a fazer relatórios, pareceres, informações, projectos, etc. que me demoravam vários dias a construir e depois fazia, para os capear, um A4 resumo que quase sempre me obrigava a mais trabalho do que os documentos capeados.

Mais tarde passei a capear o A4 com um gráfico-boneco, o que ainda se demonstrou mais eficiente.

Como não entendiam o gráfico, liam o A4 e, por não o entenderem, acabavam por ler o trabalho.

Nem sempre foi útil, confesso, porque a meio do trabalho já andavam a ler os outros A4 que tinham em cima da mesa aconselhados pelo tal Subdirector-Geral, mas vamos em frente que ainda não cheguei ao tamanho A4 deste escrito e ainda há muitos caracteres para chegar ao que interessa.

Mais tarde vieram as redes sociais e o Twitter que rebentou de vez com a teoria do A4. Mais que meia dúzia de gatafunhos e um ou dois links (que a maioria não segue porque dá mais trabalho do que ler um A4) é uma enormidade.

Ainda aí está? A ler ou a dormir?

Acabada a provocação, passo ao que interessa.

O que hoje tem impacto, nesta era em que escrever um A10 é já de imensa soberba, é uma imagem (por alguma razão dizem valer por mil palavras) e dou dois exemplos simples em forma de questões para quem ainda não desistiu de ler:

O que é realmente impactante?

1 - Um calhamaço com um Programa de Governo ou uma imagem de dois autocarros movidos a gás para transportar uns setenta empossados?

2 - Uma eleita que não gagueja enquanto pensa e por isso tem muitos A4 para escrever ou um assalariado espampanante pago pelo Orçamento do Estado para a assessorar na concretização desses A4?

Pelos montes de A4, A5, A6, A7, A8, A9 e A10 que li nos últimos dias é sempre a imagem que prevalece, pouco importando se os setenta empossados vão usar no dia-a-dia um topo de gama poluente para se deslocarem ou se a eleita consiga, ou não, cumprir o seu mandato contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

A imagem parece prevalecer sobre o ser. Os estragos que se pouparam por não haver uma imagem de setenta bólides estacionados em frente do Palácio da Ajuda ou a entrada discreta de uma deputada pela porta grande da Assembleia da República enquanto o assalariado entrava pela porta dos funcionários.

Não quero abusar da vossa paciência só para provar que até um A4 já é esforço demais.

Se escrevesse mais uma linha iria estar a confirmar que o meu leitor(a) era um intelectual, ou equivalente.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.031/2019]

sábado, 26 de outubro de 2019

Patetices


Os apressados que nunca têm pressa de estudar antes de se pronunciarem publicamente dizendo as habituais baboseiras ignaras, deveriam saber que a Assembleia da República tem um Regimento no qual está determinado o seu modo de funcionamento.

Basta ler para saber a diferença entre um grupo parlamentar e um deputado único ou um deputado não inscrito em grupo parlamentar.

Entre outros poderão consultar o art.º 71.

Deixo o link para se esclarecerem.

Isto interessa pouco, sei, porque o que realmente interessa é comentar a vestimenta com que um patetóide qualquer (que é um assalariado - nem sequer é um eleito) resolveu usar para provocar os 15 minutos de atenção nacional a que tem direito nesta nova-sociedade que entende que quem não tiver os focos a si apontados, não existe.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.030/2019]

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Hoje é um dia de festa que me faz sentir feliz

Diz-me, quem ainda se lembra, que em 1973 (há 46 anos, não passou tanto tempo como isso) a Acção Nacional Popular elegeu, com menos de um milhão e meio de votos, os 150 deputados que constituíram a última Assembleia Nacional.

A CDE havia desistido deste sufrágio por não reconhecer condições para eleições livres (neste aspecto não me precisam de mo dizer porque fui testemunha).

A Posse deu-se a 15 de Novembro.

Este ano, hoje, são poucos mais deputados (+ 80) que tomaram posse.

A Assembleia da República tem lá representadas dez forças políticas com sete Grupos Parlamentares.

Foram sufragados em eleições livres (quase cinco milhões de votos válidos) e os abstencionistas de agora são-no porque o querem ser e não por estarem impedidos de eleger.

Hoje é um dia de festa que me faz sentir feliz e faz-me muita confusão que seja o acessório que faz notícia deixando o essencial para o esquecimento.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.029/2019]

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Miren como sonríen

Miren cómo se viste / cabo y sargento / para teñir de rojo / los pavimentos

Recordando Machuca.

Milicos Culiaos, Váyanse a los cuarteles!
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.028/2019]

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Deixar andar como no Chile


O Chile é um bom exemplo do que resulta do "deixa andar" enquanto o que for importante forem as portas do Parlamento, as tricas sobre o que é a direita, o centro-direita, o centro-esquerda, a esquerda e a União das esquerda(s) (coisa inexistente desde sempre e impossível porque a esquerda-urbana tenta ocupar o espaço da esquerda-tradicional e estas duas chamam direita a uma esquerda-social-democrata).

É o "deixa andar" das quezílias enquanto os salários são muito abaixo do nível de vida, as rendas são muito acima dos salários, a saúde é muito menor que o tempo de espera para a voltar a ter, a justiça é inviável para os justos, os idosos são mais que as crianças e mesmo assim as creches não chegam, nem os lares, e a cultura de um povo se confunde com arte que esse povo não entende porque não tem cultura para a entender.

O Chile é a miséria do "deixa andar" que prefere o prestígio internacional, as guerras e os conflitos dos outros, as cimeiras nacionais, internacionais, continentais, intercontinentais, as selfies, as vaidades e invejas, o poder de ser poder e não o exercer para melhorar a vida e dar-lhe qualidade dos que delegam o poder no poder.

O Chile não é na Europa, mas podia ser.
O clima do Chile é semelhante ao nosso só que no hemisfério Sul. Basta ir ao supermercado para ver que as frutas são iguais, só variam na época do ano.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.027/2019]

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Memórias de coisas antigas [ III ]

1ª Fila: Almerindo Marques, Jaime Ramos, Tito de Morais, Felipe González, ?, Carlos Coelho e Fernando Condesso
2ª Fila: ?Adjunta de Felipe González, José Magalhães, ?, ?, Mimi, Luís Novaes Tito
3ª Fila: Helena Cidade Moura, ?, ?, ?Protocolo Espanhol, ?Adjunto das Cortes
4ª Fila: Paulo Barral, ?, Embaixador Sá Machado
Já que ando nisto de recuerdos españoles, enquanto não se calam com a Catalunya e a propósito de um reencontro que acabei de fazer no Facebook (Paulo Barral), dei mais um mergulho no baú e encontrei esta foto com Felipe González, na Moncloa.

Muitos ainda estão vivos, felizmente.

Tratou-se de uma visita que uma delegação portuguesa da Assembleia da República fez às Cortes Espanholas no âmbito da nossa (então) futura Adesão à CEE.

O Presidente da Assembleia da República era Manuel Tito de Morais.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.026/2019]

domingo, 20 de outubro de 2019

Memórias de coisas antigas [ II ]


Em Agosto de 1973, primavera marcelista, ao amparo do toldo da maralha na praia do Dragão Vermelho da Costa de Caparica (onde ainda não havia paredão nem pontões), espreguiçavam-se meninos maus de boas famílias e meninas boas de famílias más a ressacar a noitada do dia anterior. Entre outros, o Delmiro Andion e eu próprio.

Os altifalantes debitavam para o areal os apelos da cabine de som: “encontrou-se uma carteira que se entrega a quem comprovar pertencer-lhe” ou: “está aqui um menino perdido, de nome Marcelo, que será entregue aos pais devidamente documentados”, entrecortados com publicidade ao “OMO, lava mais branco”, com o hino da FNAT “Angola é Nossa” e interrompidos, às 15:00 horas, pela radionovela “Simplesmente Maria” que fazia a praia ficar em suspenso e nos proporcionava silêncio para uma sesta reparadora.

O toldo ao lado era o dos marrões que não tinham conseguido o 14 e que levavam para a praia os calhamaços para o Exame de Aptidão à Universidade e eram vigiados nos estudos por um encarregado de educação escondido atrás de “o Século” que deixava na cadeira de praia quando ia, com os seus marrões, almoçar a casa.
Quando me dava na bolha aproveitava a ausência e folheava o jornal.

Tanto o Delmiro como eu tínhamos ido às sortes na Avenida de Berna e as inspecções declararam-nos apurados “para todo o serviço”. Andávamos naquela vontade de continuar os estudos para depois, quando já estivéssemos fartos de os não ter deixado para antes.

Os adiamentos ao feijão-verde estavam postos de lado.

Nesse dia chamou-me a atenção um anúncio da FAP impresso na última página do matutino.
Já tinha dois irmãos na guerra em Moçambique, ambos pilotos – um de T6 e o outro de Alouette III - , achava que o hino que soava nos altifalantes era irritante e estúpido porque Angola não era nossa mas sim deles, dos que eram de lá oriundos e, quando muito, também dos outros que para lá foram.

Não me apetecia pegar numa canhota para andar no mato dos outros à espera que uma mina me mandasse pelos ares.

E, ares por ares, antes os ares por fora de um avião. Abanei o Delmiro, mostrei-lhe o anúncio e dois minutos depois estava decidido passar pela Andrade Corvo (e não Corco, como dizia no anúncio – até nisso a tropa era tropa) para ver o que dava.

E deu.

Exames físicos e psicotécnicos feitos, abalámos para a Granja do Marquês onde aprendemos a voar.

Curiosamente, não tenho qualquer foto dos dois fardados a não ser uma de conjunto na recruta depois de uma carecada e, curiosamente também, dali seguimos caminhos diferentes.


Eu, o da Ilha da Morte Lenta, entretanto morrida, e ele o de Tancos, onde quase meio século depois andaram a fanar uns mamarrachos que sobraram dessa época e que tem servido para a politiquice em 2019.

Também publicado no Penduras

LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.025/2019]

sábado, 19 de outubro de 2019

Memórias de coisas antigas [ I ]


Um dia soube que o "a República" estava a contratar gente.

Fui ter com o Raúl Rêgo e ele perguntou-me:
Então, Tito, o que é que sabes fazer?

Respondi-lhe: Tenho o sétimo ano...

O venerável mestre já não me deixou continuar:
Não te perguntei o que é que tinhas, perguntei o que é que sabias. (ler com pronúncia do norte, por favor)

Nesse dia perdi uma brilhante carreira como jornalista.
LNT
#BarbeariaSrLuis
[0.024/2019]