segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Botão Barbearia[0.328/2007]
El hombre NO se calla?

No - VenezuelaSobre o NO da Venezuela só resta uma dúvida:
Quanto tempo correrá até que Chavéz apresente novo referendo sobre o mesmo assunto?

Qualquer coisa do género:

Vocês não perceberam bem o que estava em causa e por isso mudei aqui umas vírgulas.
Desta vez façam o favor de responder SI,
senão...
LNT

6 comentários:

Anónimo disse...

Será provavelmente o mesmo tempo que aqui levou a apresentar novo referendo sobre a despenalização do aborto

Anónimo disse...

E eu a lembrar-me que um tratado que foi chumbado por referendos na França e na Holanda ainda há dois anos vai agora ser assinado sem qualquer referendo...apesar das promessas em contrário!

Anónimo disse...

Comunicação ao País sobre o referendo francês ao Tratado Constitucional europeu

2005-05-29

O povo francês, no exercício da sua soberania, votou não. Tal resultado será naturalmente respeitado pelo povo francês, mas deve ser tido em conta pelos outros 24 membros da União Europeia, tanto mais que a diferença entre o não e o sim foi bastante expressiva. O não poderá ter resultado de problemas internos franceses, mas põe também problemas a todos os europeus.
O não francês suscita um obstáculo no processo de ratificação do projecto deste tratado, mas não abre uma crise na União Europeia e, muito menos, no projecto europeu - um projecto de paz, democracia e unidade no nosso Velho Continente, do qual a França faz parte e continuará a fazer parte.
A pergunta que todos os povos da Europa e também os respectivos governos fazem a si próprios, neste momento, é esta: que fazer agora com este não?
Uma coisa temos como certa: não há que desistir da Europa Unida, nem do projecto europeu. E quanto ao tratado em vias de ratificação? Pára tudo aqui, ou continua tudo como previsto nos restantes países?
A recusa francesa não impede, no plano jurídico, a ratificação do Tratado pelos outros países. No plano político, porém, as coisas são mais complexas e merecem uma serena meditação em toda a Europa.
A posição de Portugal – repetidamente expressa por diferentes órgãos de soberania tem sido sempre a de que devemos continuar com o nosso próprio processo e, portanto, devemos realizar o nosso referendo europeu.
Mas o não francês é um problema sério. Obriga a reflexão.
Faremos uma reflexão em Portugal. Mas é preciso fazê-la também em Bruxelas. Pensamos que o mais cedo possível (logo a seguir ao referendo da Holanda) deverá reunir o órgão próprio em Bruxelas a fim de debater com profundidade o rumo a seguir pela Europa – tão atractiva para os que estão de fora, mas, pelos vistos, tão atravessada por dúvidas e angústias para os que estão dentro. Portugal insistirá na necessidade desta reflexão.
A terminar, uma coisa pode o Governo assegurar a todos os Portugueses: nada será feito sem a vontade dos Portugueses, ou contra a vontade dos Portugueses, na escolha do modelo europeu do futuro.
Portugal ganhou muito nestes últimos vinte anos com a sua entrada na Europa Unida: os Portugueses dirão se querem uma Europa política e social, forte no contexto das nações, ou uma simples Europa económica e financeira, propícia ao comércio e aos negócios.
O debate começa hoje.
http://www.pcm.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Ministerios/MNE/Comunicacao/Intervencoes/20050529_MENE_Int_Referendo_Franca.htm

Luís Novaes Tito disse...

Em relação ao primeiro comentário há que lembrar que o referendo do aborto foi feito passadas duas eleições e com o acordo de praticamente todos os partidos.

Nem sempre valem só as meias verdades, porque quando elas são ditas por inteiro as coisas ficam mais claras.

Quanto ao comentário da Margarida há pouco a dizer. As realidades que aborda parecem ser diferentes. Entre um tratado constitucional e o de Lisboa há um inteiro leque de diferenças.
No entanto, como se sabe, a minha opinião sobre referendos é mais que conhecida. São actos inúteis e sem qualquer sentido, salvo se forem locais e para decidir coisas que afectam a vida dos locais envolvidos.
De resto considero que as matérias devem fazer parte dos programas eleitorais e depois serem concretizadas em conformidade.

Quanto ao 3º comentário, tenho estranhado que nesta barbearia ainda não tivesse sido aplicada a técnica do copy/paste na caixa de comentários. Como quase sempre leio, mas não comento.

Anónimo disse...

Não comenta mas percebeu, presumo.

Anónimo disse...

Derrotado! E agora, quê?
segunda-feira 3 de dezembro de 2007
Caso passassem as reformas, a Venezuela daria um gigantesco passo na direção da Reforma Agrária, do direito dos informais, das melhorias para os trabalhadores empregados, de uma segurança previdenciária justa, artigos insuportáveis para os donos do capital.
Elaine Tavares

Enfim aconteceu. Depois de mais de dez anos e dezenas de eleições, finalmente, Hugo Chávez foi derrotado. O louco, o ditador, o intempestivo, o “negro”, o insuportável populista. Desde Atlanta, o braço armado da comunicação capitalista, foram disparados todos os torpedos midiáticos possíveis e não foi pouco o dinheiro derramado para financiar a campanha do não às reformas constitucionais. Junte-se a isso toda a mesma velha e já conhecida conspiração envolvendo a tão velha e conhecida CIA (Central de Inteligência dos Estados Unidos). Assim, com praticamente o mundo todo fazendo torcida contra (inclusive a Rede Globo, fiel representante da classe dominante brasileira) e com alguns erros estratégicos, Chávez perdeu pela primeira vez. 50,7% a 49,29.

Uma diferença apertada que bem mostra a dureza da luta de classe na Venezuela. No início da noite, tão logo saíram os resultados, o presidente foi à televisão, reconheceu a derrota e disse que a Venezuela vai seguir seu caminho respeitando a decisão das urnas. E agora, o que mais vão dizer de Chávez?

O “ditador” reconhece o resultado, diz que a vida segue? Mas como? Ele não é um louco, um anti-democrático? Que se vai fazer agora? Que mensagem será distribuída pelos canais da CNN, pelas agências estadunidenses, pelos porta-vozes do poder? Certamente vão se acirrar as notícias de que o povo da Venezuela voltou a recuperar o juízo, que “os bons” venceram, que a queda de Chávez está próxima e toda a sorte de maledicências. Não é preciso ir muito longe no tempo histórico e vamos ver como foi que os Estados Unidos fez para ocupar o Panamá, Granada, Chile, Afeganistão, Iraque, Haiti, enfim, qualquer lugar que se arvore querer caminhar com os próprios pés.

Durante a semana do referendo, várias foram as denúncias sobre as ações da CIA na Venezuela, financiando estudantes das universidades privadas, buscando apoio de alguns grupos de esquerda e sindicalistas que estão contra Chávez. Esse processo foi desvelado como “Operation Pincer” e mostra que a proposta dos Estados Unidos é criar um ponto fixo de oposição a Chávez envolvendo inclusive, os militares dissidentes. A idéia é iniciar um foco insurrecional com o já roto bordão de “busca da democracia”. Claro que a democracia de que falam é a mesma que estão impondo ao Afeganistão e ao Iraque.

Outro ponto de grande oposição foi a da golpista FEDECAMARAS, de atuação conhecida no episódio do paro petroleiro e no golpe de 2002. Como uma das propostas de mudança constitucional instituía a jornada de seis horas para os trabalhadores, os comerciantes e o empresariado estavam em pânico. Redução de jornada significaria redução de lucros e isso ninguém poderia admitir. Com isso, a mídia (que nunca sofreu censura por parte do governo bolivariano) foi pródiga nas campanhas e na divulgação de mentiras.

Chávez, por sua vez não é um santo, e nem poderia sê-lo. É apenas um político humano, demasiado humano, com toda a sua carga de erros e desacertos. Ele acredita piamente que pela via democrática, com a cada vez maior participação popular, é possível ir mudando os rumos da Venezuela. Ele acredita no seu povo, crê no processo protagônico dos pobres, dos desvalidos. E foi por acreditar que a população poderia reconhecer a importância das mudanças que estão acontecendo no país que ele cometeu alguns erros. Um deles foi não ter feito a consulta ponto por ponto como bem analisa o teórico Heinz Dieterich. Havia muita gente que não estava concordando com alguns dos artigos e isso pode ter levado a grande abstenção que se registrou. Afinal, mais de 44% da população decidiu não votar. Pode ter pesado esse aspecto. As pessoas não queriam votar em bloco, sem poder deliberar artigo por artigo.

Para grande parte dos trabalhadores e dos camponeses a derrota do sim significa um grande travo nas conquistas populares. Como bem lembra o analista estadunidense James Petras, um dos artigos da mudança constitucional acelerava ainda mais o processo de reforma agrária tornando mais ágil a expropriação das terras. Segundo Petras, Chávez já assentou mais de 150 mil trabalhadores sem-terra sobre 2 milhões de acres [809,4 mil hectares). E tudo isso num país que até pouco tempo importava tudo o que consumia. Além disso, uma outra emenda garantia a cobertura universal de segurança social a todos os trabalhadores do sector informal (vendedores de rua, trabalhadores domésticos, auto-empregados) que representa hoje 40% da força de trabalho na Venezuela.

Não bastasse isso, entre as mudanças havia a que garantia admissão aberta e universal à educação superior, abrindo as universidades para os mais pobres e outras que aumentavam o poder o orçamento dos conselhos de moradores para que pudessem actuar e investir directamente nas suas comunidades. Tudo isso eram mudanças insuportáveis para a classe que sempre esteve no comando e que ainda detém o poder econômico na Venezuela. Não foi à toa que a luta se deu de forma renhida.

Grande parte dos analistas é unânime em dizer que o ponto que mais pesou para a abstenção foi o que garantia ao então presidente a possibilidade de se apresentar de forma ininterrupta para as eleições.

Essa possibilidade de a Venezuela ter Chávez como presidente por anos a fio foi a gota de água que fez com que o capital usasse de todas as suas armas para derrotar o venezuelano. Modestamente colocada na minha condição de mera “olheira” dos fatos, me permito discordar. Esse foi talvez o ponto mais discutido, o que garantia aos poderosos do mundo disseminar o preconceito através da palavra “ditador”. Mas, uma olhada no conteúdo das mudanças, e a gente já pode ver que a questão foi bem outra. Caso passassem as reformas, a Venezuela daria um gigantesco passo na direcção da Reforma Agrária, do direito dos informais, das melhorias para os trabalhadores empregados, de uma segurança previdenciária justa e muito mais. Esses artigos, independentemente de quem estivesse no governo, seriam por si só, insuportáveis para os donos do capital. Então, Chávez estar ou não na presidência não teria importância alguma. Os direitos estariam garantidos e seriam defendidos pelos conselhos populares, também fortalecidos pelas mudanças.

Assim, o que estava em jogo na Venezuela era sim o poder popular. A garantia dos direitos dos trabalhadores, dos empobrecidos, das gentes organizadas. É nesse sentido que o erro de Chávez assume uma dimensão desalentadora. Porque, ao tentar garantir uma possibilidade de reeleição, votando em bloco todas as mudanças, acabou perdida - nesse momento - a possibilidade de um avanço concreto nas conquistas do povo. Então, talvez seja hora de o governo venezuelano perceber que as elites não estão mortas, que o poder econômico é forte, que a classe média é assustadiça e escorregadia e que muita mais gente do que se pode imaginar tem medo de ver o povo no poder. Às vezes, gente do próprio povo que não consegue se libertar de sua condição de escravo. Os servos voluntários, sempre prontos a tremular a bandeira de seus opressores.


Mas, passado o momento de perplexidade das gentes em luta, sempre é tempo de retomar o caminho. As conquistas podem ser recuperadas pontualmente, uma a uma. Não é hora de esmorecer. Muito pelo contrário. O resultado das eleições só prova que a luta de classes segue acirrada e que ainda há muito por fazer. Não é fácil, nunca foi, lutar contra o império. A história mostra que, nestes embates, os mais fracos sempre acabam acossados, esmagados, dizimados. Na Venezuela, nos próximos meses, saberemos, enfim, quem são os fracos. Não deu agora. O tempo dará as respostas...

http://www.ciranda.net/spip/article1911.html