quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fortíssimo

BoteroIa-se concentrando com o objectivo de não deixar escapar a mensagem que tinha para transmitir. Convencia-se que aquilo era coisa que muitos observariam, que poderia influenciar alguém, que poderia ser objecto de análise nas conversas entre o café e o pastel de nata. Tinha a certeza de que limparia o nome.

Suava como se sua sempre que há coisa tão importante para fazer. As palmas das mãos estavam em estado deplorável para o cumprimento e não havia por ali um copo de gin tónico para as arrefecer. Salvava-se na concentração e na ideia de saber as respostas correctas. Tinha esquematizado todas as questões possíveis, estava pronto e como lhe cabia abrir a conversa sabia por onde seguir para alinhar o que queria que viesse ao seu encontro.

Sentou-se na cadeira com os holofotes apontados, a menina dos pós passou-lhe o pincel dos abafa-reflexos na cara, fizeram-lhe o sinal combinado e fixou os olhos na objectiva conforme tinha antes planeado para dar a ideia de que comunicava com quem estivesse do lado de lá mesmo não sabendo se falava para pessoas saudáveis, doentes, pedrados ou detidos.

E ficou por ali mesmo. Afónico, inexpressivo, sem reacção. Foi uma morte em directo. Nem nas suas melhores previsões lhe tinha passado pela ideia que o impacto da sua actuação seria tão forte.
LNT
[0.266/2010]

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