' Turno, aquilo que nenhum Deus ousaria prometer-te, o acaso oferece-te hoje. Eneias, tendo abandonado o seu exército, o seu campo, a sua esquadra, dirige-se ao monte Palatino para chegar à cidade do rei Evandro e avança até à fronteira da Etrúria. Aí alista soldados lídios e dá armas aos habitantes campestres. Porque hesitas? Chegou o momento de fazeres marchar os teus cavalos e os teus carros. Apressa-te e leva ao campo inimigo o tumulto e a desordem. ' A Eneida - Euríalo e Niso
Acontece que há tempos de guerra e outros de paz (assim como há combatentes que não são mercenários) e que terão de haver, sempre, espaços para os litigantes repousarem na sua condição de humanos, embora adversários. Mal estava que assim não fosse se até na vida real, longe das nossas letras e dos bits em que se transformam, há espaço para sermos gente.
Acontece que há quem não veja porque se limita a espreitar e não consiga olhar para além da forma. Esses estão tão enquistados nos seus formatos que não entendem que escrever não é só relatar, implica estilo e linguagem e que fazê-lo publicamente pode ser também um acto privado desde que seja só canal de expressão sem intenção de influenciar ou debater.
É a mescla da liberdade de pensamento e de expressão com o policiamento do pensamento alheio, dos juizos intolerantes, da iliteracia e da incultura. Se escrever não é só relatar, ler tem de ser interpretar.
Acabo com retorno ao começo: As conversas podem ser velhas mas o objecto é novo. Antes, sem saudosismo, chamar de filho-da-puta a alguém não significava que a mãe do nosso interlocutor o fosse. LNT [0.684/2009]
Era assim que de longe se via o Palácio da Ajuda. Depois do nevoeiro, a bruma.
Lá dentro havia menos calor que noutros tempos e desta vez ninguém teve fanicos.
O deputado da mota e o jornalista que se espantava com ela, com a mota, e com mais um monte de questões do mesmo teor, apontamentos de interesse e coisa e tal.
Safou-se o Benfas. Pronto, está feito um post para fazer de conta. LNT [0.683/2009]
Há muito boas razões para um barbeiro poder passar um fim-de-semana sem tosquiar.
Mas há razões mais fortes do que outras, por exemplo, por ter dedicado o tempo livre a trabalhos de casa em favor de determinada comunidade ou por preferir reflectir sobre o que os outros escrevem e como escrevem do que despejar um saco de pedras esquecendo as razões que levam cada um a ter o seu espaço de partilha pública.
A Blogos(fera) já foi muito mais Blogos e menos Fera. Já foi muito mais humana do que politicamente correcta. Já foi muito mais diário do que enfeite. Já foi muito mais vida do que fingimento. As coisas evoluem, sabe-se e deseja-se, mas era bom que evoluíssem para melhor, pelo menos que evoluíssem no sentido de ler os outros imaginando a pessoa que se lê e não o teclado com que escreve.
Há coisas supremas no ser humano e uma delas é a capacidade, mesmo que aprendida, de saber tirar dum teclado mais que o martelar da vida. Uma frustração minha, coisa de barbeiro, de quem nem castanholas sabe castanholar.
Das expulsões da aula de canto coral até aos fins de dia em fuga na sala maior da Gulbenkian a gozar as cadernetas de temporada que Ismael Silva Santos me passava no meio da pasta do despacho, vai a inabilidade para fazer acorde e o prazer de sentir os sons a sacar de mim uma alma que na normalidade esqueço ter.
Só por isso, e relembrando tantos outros saraus, já valeu a pena ser português para ter uma ministra pianista, independentemente de toda a gestão que ela poderá fazer.
Há muitas simbologias de que gosto mas esta foi das que mais me calou. Podia ter sido um actor, um palhaço, um qualquer escritor.
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda gira, a entreter a razão, esse comboio de corda que se chama coração.
LNTacompanhado ao piano por Gabriela Canavilhas, na pena de Fernando Pessoa [0.679/2009]
Não deixou de ser curioso observar os milhentos comentários ontem proferidos nas televisões sobre a composição do novo Governo. Politicamente o interesse recaiu sobre as declarações de todos os Partidos com representação parlamentar que pareciam alheados do facto de se terem realizado eleições em Portugal e dos eleitores terem escolhido o PS para governar com o programa eleitoral com que se apresentou. As expressões mais interessantes relacionaram-se com a estranheza manifestada por se ter mantido o núcleo duro político do Governo e de que se pretendesse dar continuidade às políticas anteriores do, imagine-se, partido mais votado. Como se os projectos não tivessem sido validados pelos eleitores, como se os resultados eleitorais não obrigassem ao cumprimento do programa eleitoral. O que diriam/dirão caso alguma das cláusulas do Programa não venha a ser implementada? Fica-me de memória a patética expressão de censura por este Governo não se apresentar com um corpo que indicie ruptura com a política do último Governo.
Politologamente o interesse recaiu sobre a chusma de comentadores polivalentes que tudo sabem desde a gestão das polícias até à navegação aérea, passando pela engenharia informática e pelo cálculo científico. Esses espantavam-se pela quantidade de socialistas, ou independentes mas da área socialista, que tinham sido recrutados para Ministros. Para eles parecia que as eleições legislativas tinham sido para escolher a cor dos sapatos da cinderela e que o normal seria que um Governo do Partido Socialista integrasse os seus adversários políticos e se regesse pelos programas eleitorais derrotados. LNT [0.677/2009]
Com o prefácio de Manuel Alegre e posfácio de Henrique Neto vai dar ao prelo, em meados do próximo mês de Novembro, o livro que agrega os cadernos das primeiras quatro revistas Ops! e que incluirá o conteúdo total de cada número em suporte electrónico (CD).
Trata-se de satisfazer o pedido de um grande número de leitores que têm sugerido uma edição mista de papel e electrónica que facilite a consulta e ao mesmo tempo lhes proporcione a inclusão de extractos e referências em trabalhos e estudos.
Dado o universo a quem se dirige preferencialmente (academia), a edição será limitada e de preço reduzido (5 Euros Livro+CD+embalagem+portes de correio+IVA).
As encomendas já são possíveis através de correio electrónico para a editora Campo da Comunicação, cc-cont@netcabo.pt, com cópia para ops@opiniaosocialista.org, indicando os seguintes dados: nome, nif e morada de envio. O livro irá estar também disponível nas principais livrarias.
De solidéu enterrado na caixa que devia conter um cérebro o eurodeputado português Mário David(temos sempre de ter vergonha de alguns dos que nos representam além-Olivença) abriu a boca na casa da democracia do velho continente para reclamar contra a liberdade de pensamento e de expressão.
Outro que tal, Sousa Lara, não só reincidiu na imbecilidade como ainda aproveitou para "malhar" indirectamente nos muçulmanos.
Enquanto isto, a promoção de Saramago agradece.
Cada patacoada alarve desta gente é mais um milhar de livros vendidos, mais um milhar de pedradas em Abel. LNT [0.673/2009]
Cada um tem o Hayek que merece, ou melhor, deveria ter.
A tanta teoria, tanta economia, tanta idiossincrasia (quem não souber pronunciar esta palavra sem gaguejar não pode ser político em Portugal e eu não havia de morrer sem a publicar num Blog em que escrevesse) do Frederico Augusto, prefiro o caminho da servidão de Salma. Não só desenvolve a teoria global como a aplica de forma thatcheriana-multiplicadora (reparem no jogo de espelhos que se reproduz na imagem superior).
Liberalizemos, pois então, ou libertinemos, ou lá o que é. LNT [0.672/2009]