terça-feira, 10 de julho de 2012

Isto não é o que é

MagritteA moda mudou em Portugal. Agora sempre que se fala no presente vem alguém falar no passado para justificar a miséria do futuro.

Se alguém falar da inépcia deste Governo e do falhanço das políticas que estão a ser teimosamente impostas apesar de já ser evidente que são inapropriadas para atingir os objectivos anunciados (não os pretendidos), aparecem logo os defensores do empobrecimento e da miséria, evocando o passado para esconderem um caminho intencionalmente traçado mas que negam ser opção sua.

Dissimulam a agenda e passam a culpa para os que os antecederam, para a Troika, para a crise internacional (que anteriormente negavam), para a qualidade de vida acima das posses (dos outros, claro) e, sempre que possível, para coisas e coisos ainda mais antigos como o Mário Soares que entregou as colónias aos nativos ou aos bandidos milicianos que pegaram em armas há quase uma quarentena de anos para acabarem com a ditadura que os fazia marchar além-mar para matarem e morrerem em defesa de causas indefensáveis aos olhos do Mundo civilizado de então.

Pouco interessam as teorias da mágoa, mesmo que a mágoa seja real e que, por não ter sido enfrentada, nunca foi ultrapassada.

Embora a História seja irreversível e sirva para lá se ir beber a experiência, o futuro tem de ser construído na actualidade combatendo o faducho do saudosismo. Aos vindouros pouco importam as desculpas do passado, porque o nosso futuro será o seu presente.

Qualquer avaliador (e qualquer avaliado também, principalmente se os objectivos foram determinados por si) sabe que a avaliação se refere aos resultados atingidos no termo do prazo determinado para concretização do planeado. Ao avaliado compete monitorizar o seu desempenho no decurso, medir os resultados obtidos em cada etapa e replanear, repensar e corrigir a trajectória para dar cumprimento àquilo com que se comprometeu, no prazo estabelecido.

É inadmissível a mentira e a manipulação permanente para disfarçar as intenções fingindo sempre que os objectivos pretendidos não são os que resultam da sua determinação para os atingir, mas os que resultam de circunstâncias anteriores ou exteriores.

Esta gente prefere fingir-se incompetente a assumir as suas reais intenções.
LNT
[0.342/2012]

Já fui feliz aqui [ MCL ]

Magritte
Tugir em Português
LNT
[0.341/2012]

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Por portas travessas

Pedras sorrisosPelo que se sabe, na única declaração que Paulo Portas fez na China só referiu que o acórdão do Tribunal Constitucional é preocupante.

O desabafo sino de Portas feito em Macau é, tal como ele refere, preocupante.
Não tanto no sentido que Portas lhe quis atribuir (os maus do TC) mas por revelar que Portas e Coelho se julgam acima da Lei e de que entendem que tudo lhes é permitido para alcançarem os seus intentos.

Portas, não faz declarações quando está no exterior, o que quer dizer que nunca faz declarações. Sempre que há alguma bronca não está cá. Aliás, nunca está cá, mesmo quando as broncas estão em descanso. O que anda a fazer no exterior é tabu até para ele próprio. Sabe-se que adora viajar de Falcon (para o qual nunca se comprou um Kit de classe económica) porque, ao fazê-lo, não corre nem o risco de ser vaiado nem o de ter de responder a questões incómodas dos jornalistas.

O ausente PP passa pelos pingos da chuva como se fosse transparente e continua a fingir que nada é com ele deixando cozer em lume brando os seus colegas de executivo. Seria interessante conhecer o custo/benefício da sua vida de caixeiro viajante, seria interessante ter uma ideia de quanto custa cada descolagem do Falcon e qual o valor total das passeatas que já fez, bem como interessante seria saber de que negócios anda a tratar uma vez que já não há mais submarinos para comprar e não há conhecimento de qualquer posto de trabalho português criado por estrangeiros em território nacional.

Consta que estará no Parlamento daqui a dois dias para participar no debate sobre o Estado da Nação. Para já terá o Tribunal Constitucional para servir de bode expiatório aos insucessos do Governo. Quem sabe se a seguir não irá invocar a imunidade diplomática para dizer que, mesmo estando cá, está com a cabeça lá fora o que faz com que não possa prestar declarações.

Que saudades do Paulinho dos mercados que tinha soluções para tudo e do tagarelar jovial que nas feiras tinha aprendido com os vendedores de banha da cobra.
LNT
[0.340/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLIX ]

Boiar
Praia de Carneiros - Brasil
LNT
[0.339/2012]

domingo, 8 de julho de 2012

Custe o que custar, mesmo para além de…

Passos CoelhoJá todos entendemos de que o “custe o que custar” pode ir para além da legalidade e do cumprimento dos próprios preceitos que definem a existência do actual Governo.

Já todos nos apercebemos de que a mil vezes evocada condição de economista do Presidente da República o faz confundir o juramento constitucional de cumprir, defender e fazer cumprir a Constituição, com a sobreposição dos seus interesses partidários e com o cumprimento, defesa e obrigatoriedade de cumprimento do Orçamento do Estado, mesmo que seja contra os interesses nacionais e contra a Constituição.

Já todos entendemos que o Presidente da República justifica os seus actos, nomeadamente este que revela uma quebra consciente e assumida do seu juramento constitucional – uma vez que tinha declarado, anterior e publicamente, estar consciente da violação da norma constitucional - com desculpas esfarrapadas como a de que nunca, anteriormente a ele, algum Presidente havia inviabilizado um OE e omitindo (como aliás é useiro e vezeiro em omitir no que lhe interessa (lembram-se da questão das pensões em que só falou de uma parte insignificante do que recebia?), que também nenhum dos seus antecessores tinha promulgado conscientemente uma Lei que contivesse clausulas inconstitucionais.

Já todos nos apercebemos de que Paulo Portas só aparece quando os actos estão consumados e que se faz sempre de vítima quando os escândalos de que é co-responsável já são do domínio público.

Já todos nos apercebemos de que este Governo exerce a política da chantagem e da ameaça e que só se prontifica a negociar depois de verificar que a sua chantagem não funciona (caso da greve dos médicos e da dos pilotos da TAP).

Já todos nos apercebemos de que a agenda é despedir 100.000 trabalhadores da Administração Pública e que a estratégia seguida está a caminho de concretizar esta agenda.

Já todos nos apercebemos de que o “ir mais além” é o ensaio para se saber até onde podem ir e que, se não lhes explicarmos que já foram longe demais, tentarão ir sempre ainda mais além.

Já todos nos apercebemos de que, quando a Troika tiver de admitir que as suas políticas são miseráveis e que não servem os seus próprios interesses (porque não é possível conseguir o reembolso de quem já nada mais tem para reembolsar), irá desculpar-se com “o mais além daquilo que tinham proposto” com que Passos Coelho e Paulo Portas entenderem empobrecer Portugal.

Já todos entendemos de que o “custe o que custar” está à beira de custar o próprio cumprimento dos nossos compromissos internacionais.

Já todos entendemos e parece que só o Governo não entendeu ainda, de que estamos no caminho errado e de que a determinação do actual poder mais não é do que uma teimosia na defesa dos interesses de muito poucos à custa do inadmissível sacrifício de todos os outros.
LNT
[0.338/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLVIII ]

Chaparro
Fuseta - Algarve - Portugal
LNT
[0.337/2012]

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Confiscos e Lei Fundamental. A culpa de Sócrates

Cravo BrancoTudo está normal. Claro que a culpa é do Sócrates e da actual “abstenção violenta”. Claro que a culpa é do PS.

O Governo Coelho/Portas saltou por cima da Constituição e fez aprovar na Assembleia da República, pelos Grupos Parlamentares do PSD e do CDS, uma Lei do Orçamento ferida de inconstitucionalidade.

O Presidente da República mandou às malvas o juramento que fez na Assembleia da República quando foi empossado e não defendeu, não cumpriu, nem fez cumprir a Constituição.

A comunicação social e os jornalistas tipo Crespo e os comentadores tipo Gomes Ferreira insistem na mentira de que os cortes dos subsídios dos trabalhadores do sector estado fazem parte do memorando.

Os comentadores em geral continuam a dizer que o memorando foi assinado pela Troika e por Sócrates e a omitir o papel fundamental do PSD e do CDS na escritura desse memorando. Omitem que só foi necessário pedir dinheiro à Troika porque o PSD/CDS/BE/PCP chumbaram um acordo que o Governo anterior tinha feito com os nossos parceiros da União Europeia. Esquecem que, ao contrário do PSD/CDS que contou com a chancela do Presidente da República, o PS tudo fez para que não fosse necessário chamar a guarda dos mercados – vulgo Troika – e fazem crer que o PEC IV era insuficiente para fazer face aos problemas nacionais que então existiam.

Todos fazem por esquecer que no tempo do Governo anterior a voz comum era a de que estávamos numa crise nacional e que depois, com Passos Coelho, passou a ser de que vivemos uma crise internacional.

Os impostos e o confisco nunca andaram sequer perto daquilo que se instalou de há um ano para cá. Os apoios sociais, a segurança social, a saúde, a justiça e a segurança nunca estiveram em fasquias tão miseráveis como aquelas em que este Governo as colocou.

Os direitos dos cidadãos, conseguidos por décadas de esforço, nunca foram tão maltratados. As garantias fundamentais, idem. O emprego e o trabalho ibidem.

O PSD e o CDS são Governo. Cavaco Silva é o Presidente da República. Eles são o poder, são eles que mandam e têm por filosofia política o empobrecimento, custe o que custar e para além da Troika.
O PS é oposição. A sua acção está condicionada por ser uma colossal minoria.
O PCP e o BE são oposição a tudo e só valem pelo que apregoam. Fogem do poder como o diabo de cruz.

Mas a culpa é do PS, melhor, é do Sócrates ou, em alternativa, é da actual direcção acusada de se “abster violentamente”.

Tudo normal, portanto. Normal, mas irreal.
LNT
[0.336/2012]

Já fui feliz aqui [ MCXLVII ]

Chaparro
Chaparro - Serpa - Portugal
LNT
[0.335/2012]

quinta-feira, 5 de julho de 2012

E agora, Senhor Presidente?

Cavaco Silva - FigosVossa Excelência disse publicamente que tinha dúvidas constitucionais sobre a equidade das medidas aprovadas pela maioria CDS/PSD na Assembleia da República.

Disse, mas esqueceu-se que, para as esclarecer antes da promulgação, tinha de consultar o Tribunal Constitucional e esqueceu-se também que tinha feito o juramento que a Constituição determina:
"Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa."
Estou ansioso por saber quais são as consequências da quebra de tão solene juramento.

Aproveitando, Senhor Presidente, peço-lhe que faça saber aos senhores jornalistas deste regime que o corte dos subsídios aos trabalhadores do Estado não decorre do memorando da Troika, mas sim do “mais além, custe o que custar” que este Governo entendeu aplicar para concretização da sua filosofia política.
É que eles enchem as televisões com a mesma propaganda que levou Vossa Excelência a promulgar uma Lei que admitia não estar conforme a CRP.
LNT
[0.334/2012]

O que nos desalenta

Sarko, Coelho e Merkel

Há coisas muito mais importantes do que andar por aqui a discutir se o Ministro Relvas é ou não equiparado a doutor da mula russa. O que não faltam são mulas dessas e também das outras que, tendo os anos, frequências e créditos todos, não o deixam de ser. (russas, pretas, ou brancas)

Passemos portanto a coisas muito mais importantes agora que já gastámos o subsídio de férias de 2012 num ápice e em inutilidades, antes mesmo de o termos recebido.

Reparei que o nosso Primeiro-ministro rapou o topete e perdeu aquele arzinho de menino manteigueiro que fazia com que Merkel tivesse ganas de o adoptar. Fez mal! Vê-se mais a careca, o que não é grande vantagem (por mim falo) e perdeu a metade da graça que tinha quando cumpria o tique de afastar a melena dos olhos.

Vivemos nesta angústia de o ver envelhecer a perder pêlo aos magotes sem termos recursos para lhe pagar uma viagem de ida para as lamas de rejuvenescimento na ex-Југославија, ou um transplante capilar.

É isto que nos arrelia e nos dá desalento.
LNT
[0.333/2012]

Já fui (in)feliz aqui [ MCXLVI ] (variante)

Passos Coelho
1 ano de Governo - Empobrecimento - Portugal
LNT
[0.332/2012]

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Porque fogem?

EstrelaCom meio País a discutir o caso da licenciatura de Relvas (manifesto exagero porque só a anda a discutir a meia–dúzia de pessoas do costume) neste portugalito de doutores e engenheiros, os governantes que ainda se atrevem a meter o seu longo nariz fora dos gabinetes fogem e fintam os seus governados que já não os aguardam de bibe e de bandeirinha, nem lhes dão vivas nem efeerreás.

A partir do dia em que Álvaro teve de mandar consertar a estrelinha que o guie, símbolo da potência europeia a que este governo presta vassalagem e a quem, em troca de uns beijinhos e do epíteto de bom aluno, se mordoma a sacrificar o bem-estar dos seus governados transformando-os numa subclasse europeia empobrecida, que os restantes governantes passaram a usar as portas das traseiras.

Agora foi a vez de Passos Coelho que, para se deslocar a uma multinacional alemã, usou a camuflagem e ordenou ao seu motorista que procurasse no GPS um caminho escuro para aparecer onde estavam as câmaras de televisão sem ter de se cruzar com aqueles que lhe pagam o carro, o motorista, o Google Maps, a gasolina e os disfarces matreiros. Não foi um Cavacal António Arroio, mas andou por lá perto.

Porque se esconde esta gente? Porque vive esta gente só na zona de conforto que aconselha os jovens a abandonar? Porque fogem ao povo os que anunciam que o povo está consigo? Do que (de quem) terão medo?
LNT
[0.331/2012]

segunda-feira, 2 de julho de 2012

As canas da barbearia

CanasA Barbearia fez-se canavial para que, com essas canas, se proteja dos patos bravos que sacaneiam este povo.

Como se sabe, todos os patos bravos são protegidos em Portugal.

Partindo dessa premissa e sabendo que os patos bravos se escondem nos canaviais e sabendo também que é voz popular de que a melhor protecção é a que mantém os inimigos debaixo de olho e à mão de semear, dispuseram-se as canas e afinaram-se os cartuchos.

A clientela habitual há-de ser bafejada, um destes dias, com uma arrozada.

Até lá recostem-se e fiquem a vê-los voar.
LNT
[0.329/2012]

Mais além

Escher Mobius
“O ir mais além é uma forma que Passos Coelho e Paulo Portas arranjaram para verem até onde podem ir.
Começa a ser tempo dos portugueses lhes dizerem que já foram longe demais.”
Moi même in FB
Enquanto que na Europa já quase todos entenderam que as medidas de austeridade impostas aos países mais frágeis têm de ser revistas por estarem a destruir o próprio conceito da Europa, em Portugal Passos Coelho e Paulo Portas consideram que o empobrecimento do seu povo é o desígnio nacional e que as medidas que nos foram impostas são curtas, insistindo em ir mais além do que internacionalmente nos é exigido.

O “além de” é um programa de retrocesso civilizacional, é uma obsessão pelo passado, é um aquém daquilo que a nossa História admite, é uma atitude política escondida cobardemente num memorando de resgate exigido pelos que agora o apregoam como herança para esconderem aquilo que pretenderam para Portugal quando inviabilizaram soluções alternativas.

Recebo pedidos de esclarecimento para o texto que aqui publiquei. Estranho, porque não vejo nele qualquer dúvida ou contradição. Nós, portugueses, vivemos em democracia há quase 40 anos. Não é muito, porque o período que a antecedeu formou gerações de conformados com a miséria e com a falta de liberdade. Fez-nos mansos, carne para canhão, submissos e “bons alunos”. Mas trinta e seis anos já é tempo suficiente para que entendamos que, sendo o voto o poder que temos na mão, ao abdicarmos de o exercer sujeitamo-nos a ser submetidos por minorias.

Nas últimas presidenciais e nas últimas legislativas o direito e o dever de voto não foram exercidos. Muitos dos que não se revêem no “mais além, custe o que custar” entregaram, por omissão, o poder a quem hoje o exerce e reclamam medidas. Alguns outros que se apressaram a provocar que Portugal tenha hoje o Presidente e o Governo que tem, organizam “esperas espontâneas” onde apupam os poderes que ajudaram a instalar, tentando manipular com as suas bandeiras um povo levado ao limite por quem entende, custe o que custar, que esse povo terá de pagar com a fome a fartura de quem o rouba.

Tal como disse no meu texto anterior este povo gosta de chorar sobre o leite derramado mas o leite já rareia e, à sua falta, as lágrimas irão secar. Os que continuam a não entender que já foram além demais e os que até agora orquestraram os apupos para tirarem proveito da terra queimada vão acabar por perder o controlo.

A Constituição que determina que o poder reside no Povo através do voto é a mesma que institui o direito de resistência quando não há poder público que defenda os direitos liberdades e garantias que essa Constituição consagra.

Foi isto que quis dizer anteriormente e espero ter-me feito agora entender.

É necessário que os poderes instituídos se façam ouvir e que impeçam a continuidade pela obsessão do miserabilismo que se prevê com o novo pacote de austeridade que já se anuncia (só falta dizer quando). A todos nós compete assumir, se necessário resistindo ao confisco e exigindo justiça e equidade, as responsabilidades que a liberdade determina para que continuemos a ser um povo digno, não espoliado nem manipulado.
LNT
[0.328/2012]