terça-feira, 23 de abril de 2013

À sombra dos encostos

EscorpiãoUma das teorias mais antigas dos gestores portugueses (principalmente dos público-políticos) é a de meter as víboras num cesto por baixo da cadeira onde se sentam. Defendem esses teóricos que, com as víboras à vista e à mão, controlam melhor os seus movimentos. Defendem também que se as passarem a alimentar elas ficam mais calmas e sem vontade de rasteirar.

Conheci um desses gestores, mais radical, que dizia que tinha metido um escorpião no bolso.

Para os que defendem tais teses olho sempre com desconfiança. Pelo método e pela eficácia.
Para as víboras e escorpiões que tenho visto deixarem-se assim aprisionar olho com o desdém que se tem por quem vende o veneno que a natureza lhe deu.

(Aproveito para informar que o gestor que falava do escorpião foi encontrado a estrebuchar quando, num dia de mais frio, meteu a mão no bolso para se aquecer)
LNT
[0.070/2013]

Ressacas

Vieira da SilvaJá decidi que este ano não vou escrever sobre o 25 de Abril.

Nem sequer escreverei "Viva o 25 de Abril!", embora ele sobreviva. Afinal já tudo foi escrito sobre o tema (menos aquilo que falta saber) e é graças ao dito cujo que temos o Passos Coelho formado, o Vítor Gaspar doutorado, o Relvas licenciado e dezenas de outros canudados a serem empossados todos os dias para as bandas da exposição da Joana dos tampões vaginais e dos vestidos berrantes.

Aliás, cada vez me apetece menos continuar a escrever sobre o que quer que seja num tempo em que somos esmagados pelos currículos de peso que tomam posse dos nossos destinos desde que se descobriu (outra consequência do 25 de Abril) que os Governos devem ser uma espécie de Reitoria de Universidade.

Em Portugal sempre se preferiu quem ensina a quem faz e os filhos de Abril (principalmente os enteados que dele tudo beneficiaram e muitos que renegam a paternidade) tomaram conta da coisa com o resultado que está à vista.

Este ano, em vez de escrever sobre o 25 de Abril vou só rever apontamentos sobre o 24 para não me esquecer que nessa altura ninguém podia escrever em liberdade, que o serviço militar e a guerra faziam parte do início de vida dos jovens que o deixavam de ser aos 21 anos, que a escola obrigatória andava um pouco acima da 4ª classe, que se morria frequentemente na infância, que a autoestrada de Lisboa ao Porto se eclipsava em Vila Franca e que isso dos mestrados e doutorados era coisa pouco mais que reservada a meia dúzia de privilegiados.
LNT
[0.069/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLIV ]

Vidigueira
Museu da Vidigueira - Alentejo - Portugal
LNT
[0.068/2013]

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Divórcios pelo Seguro

NavalhaPelo que leio no SOL, um grupo de "45 jovens turcos" (a expressão é lá usada) decidiu avançar com uma carta aberta a Seguro para o convencer da bondade de medidas que o próprio Partido Socialista recusou no último Congresso Nacional.

Nada contra "cartas abertas" nem contra os 45 jovens (isto de se ser jovem é cada vez mais a aplicação das teorias da esperança de vida aos conceitos de juventude – um destes dias os nossos netos já andam na faculdade e os seus pais ainda são jovens) até porque nutro por muitos deles amizade e simpatia. Tudo contra a tentativa de conseguir pela pressão mediática aquilo que se não consegue pela expressão eleitoral.

O Partido Socialista elegeu há meia-dúzia de dias os delegados ao Congresso Nacional para defesa das Moções Políticas que serão discutidas nesse Congresso. O teor desta "carta aberta" não foi apresentado a sufrágio dos militantes porque os seus subscritores não o quiseram fazer o que me parece que teria sido muito mais coerente com a ideia de “mostrarem preocupação crescente com o «acentuar do divórcio» entre os partidos e a sociedade” (como se os Partidos democráticos não fossem parte da própria sociedade e esse divórcio não se devesse começar a combater dentro dos Partidos para evitar o divórcio entre as suas elites e os seus militantes)
LNT
[0.067/2013]

Além da tróika

NauCom a rotativa de propaganda a trabalhar em alta rotação e com o anúncio, às pinguinhas, dos piegas que vão entrando para o Governo (não vá o Governo extinguir-se sem terem tido oportunidade de protagonismo curricular), Passos Coelho refugiou-se na toca, Gaspar anda de mão estendida por esse Mundo fora a tentar que alguém lha aperte e Paulo Portas persegue Álvaro por continentes longínquos com os intuitos de não o deixar falar do pastel de nata em que transformaram este País e com o de não se pronunciar sobre o assalto ao poder feito pelo PSD, escudado na máxima de que quando está lá fora não fala do que cá dentro se passa.

O problema de tudo isto (e vão agravá-lo em breve quando se voltarem a reunir para decidir novas formas de empobrecer o povo que dizem governar) é que esta gente pensa que os portugueses não os merecem. O problema é não terem a noção de que são eles que não merecem este povo. É por isso mesmo que Gaspar entende que nos está a pagar o que por ele fizemos quando nós, povo, agradecíamos que ele pagasse indo-se embora e com ele levasse as folhas de cálculo com formas mal paridas por gente que tem pouco jeito para a realidade e com elas levasse também as teorias de que os povos são felizes quando, depois de tudo se lhes retirar, se lhes atribui umas migalhas.

Foram além da Troika e agora que finalmente reconhecem que ir além do Bojador nem sempre é mais do que ir além da dor, continuam a encher a nau com marujos que desconhecem a leitura das estrelas. Resta-lhes o naufrágio e a nós resta desejar-lhes que, antes de se afundarem, sofram do escorbuto com que nos contaminaram.
LNT
[0.066/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLIII ]

Família Tobias
Tobias, Mimi e família - Lisboa - Portugal
LNT
[0.065/2013]

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Parabéns PS

Aniversário PS

Foi com gente desta (gente que pensava desta forma) que há 40 anos a ASP se fez o Partido Socialista Português.

É uma honra ser militante de tal Organização.
"Não temos felizmente nem guias nem chefes, mas temos a enorme fortuna de possuir os valores de auto disciplina, da independência de juízo na fidelidade aos princípios que defendemos, da auto-critica e da consciência das nossas responsabilidades."
Tito Morais
(extracto de uma missiva de Manuel Tito de Morais a José Neves publicado no Blog Comemorativo do Centenário do nascimento de Tito de Morais)
LNT
[0.062/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCL ]

Moedas Euro
Subsídio de férias - s/acertos do IRS - Portugal
LNT
[0.061/2013]

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Briefing

Cupcake Laranja4 – homens – 4 de fatinho escuro, gravatas escuras e explicações escuras, sentaram-se de manhã, frente às câmaras de televisão e tendo por pano de fundo o azul da Europa que segura as estrelas amarelas e o verde e rubro que ostenta a esfera com os castelinhos e as moedas que não temos para reembolso.

Dos 4 – homens – 4 centrei a minha atenção no novo maduro para estudar a pose e tentar entender a missão de que vem incumbido. Julguei estar na fábrica dos pastéis de Belém, tal o cheiro a canela e a açúcar misturado com os aromas que transformam a nata em creme e o folhado em massa quebrada.

Não perdeu um momento nem uma questão para dizer da sua graça e a graça com que o dizia andava sempre à volta de entendimentos inexistentes e de intenções em aberto para fingir que não estavam fechadas as decisões ocultadas.

Eram 4 – homens – 4, 1 - em estreia – 1. Nada de novo tirando a relva.
LNT
[0.060/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCXLIX ]

Brinquinho
Brinquinho - Madeira - Portugal
LNT
[0.059/2013]

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Diálogos

CenouraDomingo
O provável futuro dirigente de um dos tentáculos da Troika recebe os funcionários que hão-de ser seus subordinados quando for corrido de Portugal, que lhe transmitem ter vindo à Lusitânia a mando de quem os mandou (o alemão nunca foi o meu forte) com o intuito de fingirem que impõem aquilo que o seu alegado futuro chefe quer impor à populaça.

Gaspar monta-se no Mercedes (ou Audi) e vai até São Bento dizer ao seu testa-de-ferro que tem de fazer um número de circo e chamar ao palácio o líder do maior Partido da oposição para que os jornalistas escrevam que ainda vivemos em democracia.

2ª Feira
Não se passa nada. A equipa Benetton aproveita o Sol e o vinho português e aguarda que o seu futuro chefe lhes mostre o plano que terão de validar como se fosse seu.

3ª Feira
Coelho mete no correio a carta que Gaspar lhe entregou para ser dactilografada em papel timbrado da Presidência do Conselho de Ministros e manda o recado à rapaziada dos jornais para fazerem escarcéu à volta do assunto.

4ª Feira
Seguro acede, uma vez mais, a tentar dialogar com o Primeiro-Ministro. Na sessão de esclarecimento é confrontado com um PowerPoint acabado de chegar via eMail contendo o plano B que sempre foi o plano A do "mais-para-além-da-troika".

O Conselho de Ministros, o Primeiro-Ministro, os Ministros, o líder do maior Partido da Oposição, a Troika, a Concertação Social e o diabo que os carregue são confrontados com a decisão irreversível de Gaspar.

Os portugueses hesitam entre emigrar ou desligar as televisões.

O Sol ainda brilha para todos e não tarda estaremos a comemorar mais um 25 de Abril (possivelmente com os dirigentes da República fechados num bunker não vá uma maluquinha começar a cantar uma área qualquer ou o valente e duro PCP ligar os megafones com os acordes da Vila Morena, contra o Pacto de Agressão e na defesa da Reforma Agrária)
LNT
[0.058/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCXLVIII ]

Cozido à portuguesa
Cozido à Portuguesa - Portugal
LNT
[0.057/2013]

terça-feira, 16 de abril de 2013

Foram ao Pingo Doce a Bogotá ou a Medellín?

BoteroÁlvaro tem dois dias na Colômbia para mostrar o que vale. Depois disso consta que o outro Ministro da Economia Estrangeira se irá juntar à comitiva. Já que Portas não o consegue demitir, há-de conseguir calá-lo nem que seja fazendo-o beber um chazinho tradicional.

Já o nosso Presidente anda numa roda-viva nas Américas latinas. Depois da Colômbia, que ontem um jornalista dizia ser o novo el-dourado (aquilo tem por lá uns chás que fazem os jornalistas dizerem destas coisas), virá o Peru onde terá certamente a oportunidade de observar o sorriso das Lamas.

A equipa Benetton da Troica, que está a passar férias em Lisboa, agradece. Cavaco fora, dia santo na loja e dois dos três ministros da economia ausentes do País e o outro a amadurecer, dão-lhes folga bastante para apanharem um solzinho luso e para se aconselharem, sem entraves, com o seu ministro das finanças.

Quando o Presidente voltar já deverá estar traçado o destino da sua parca reforma.
LNT
[0.056/2013]