segunda-feira, 15 de julho de 2013

Da imparcialidade dos árbitros

Gunter GrassO papel mais importante que um Presidente da República tem é o de moderador da sociedade e de mediador dos interesses que mantêm a sociedade em funcionamento regular.

Com a eleição da actual maioria, o Presidente da República teve essa mediação na mão, com tarefa simplificada tanto a nível dos parceiros sociais como a nível do maior Partido da oposição uma vez que se geraram consensos, inclusive à custa do sacrifício da imagem do líder da oposição que foi bastas vezes acusado de ser demasiado conciliador.

Cavaco Silva desprezou o seu papel de moderador e preferiu agir em conluio com uma das partes convencido de que o poder e a maioria dessa parte seriam suficientes para se impor ao País.

A coisa correu mal, muito mal. O seu juízo sobre a parte apoiada não o deixou entender os perigos resultantes do carácter dos líderes da coligação e a sua condição ideológica sobrepôs-se ao bom senso da negociação até ao momento em que tudo se desmoronou à sua volta.

Agora, com o País em ruínas devido aos erros que foram cometidos pela Tróika e pelo Governo do “além da Tróika”, o Presidente tentou salvar a face com o jogo do empurra e da inclusão de outros na responsabilidade das irresponsabilidades do seu Governo.

O Chefe de Estado continua convencido de que nunca se engana e de que raramente comete erros (ou vice-versa) e por isso recusa emendar a mão.

Seria normal que ouvisse a voz de quem o elegeu e que exigisse aos Partidos que se apresentassem a votos com programas eleitorais que os vinculassem a linhas orientadoras claras para resolver o imbróglio em que estamos metidos.Em vez disso, arrasta o País para o caos tentando impor a todos a sua visão.

Estamos a perder tempo. Espera-se que o Partido Socialista não ceda perante tal erro e que mantenha válido o seu compromisso com os portugueses para que não se anulem as expectativas de que “não somos todos iguais” e de que “os resultados eleitorais não são indiferentes” para as políticas que se seguem.
LNT
[0.233/2013]

Caça à fisga

CavacoSabe-se, porque a sua narrativa com mais de trinta anos faz com que se saiba, que Cavaco Silva não gosta de Partidos Políticos e que adora fingir que não é político sendo um dos principais e mais activos políticos desde que em Portugal foi reposto um regime democrático.

Também se sabe que, tirando o período em que ele foi líder do PPD-PSD, Cavaco nunca gostou em especial de qualquer outro líder do Partido fundado por Sá Carneiro e que por eles sempre mostrou uma sobranceria que culminou com a ordem de retirarem Coelhoa sua imagem de um cartaz de campanha eleitoral que Pedro Santana Lopes teve a ousadia de fazer afixar.

Cavaco, tirando o seu próprio reinado, nunca conseguiu ver gente sua a ascender ao trono laranja, pelo menos em alturas em que esses seus fiéis pudessem exercer o poder, melhor, esses seus fiéis pudessem, em seu nome e sobre as suas orientações, exercer o poder.

Marques Mendes e Ferreira Leite, por exemplo, andaram pela Buenos Aires mas nunca mandaram mais do que nas paredes onde se moveram. Já Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho chegaram à liderança de executivos portugueses sem que a mão do arbusto conseguisse apontar-lhes o caminho, até que agora, a dois anos e picos de Cavaco abandonar a Presidência da República deixando para a História a imagem do Presidente da República eleito democraticamente menos amado de sempre, exigiu a um seu sucessor que trilhasse o sentido por si apontado.

Sendo verdade que as pedradas catapultadas pela fisga que empunhou se destinavam a devolver o veneno que Portas lhe injectou com as setas disparadas quando andou barricado no Independente e que também tinham por objectivo acertar em cheio no lombo do Partido Socialista, Partido que ele sempre odiou, fazendo-o chafurdar no charco que as teorias “além-da-troika” escavaram, o seu alvo mais apetecível neste momento é o homem que derrotou a sua primeira escolha, Ferreira Leite, a quem pretende ultrajar devolvendo-lhe em dobro todos os ultrajes que Coelho lhe tem feito.

Andamos nisto, e enquanto a mesquinhez tem o seu curso, vamos levando com as pedras perdidas como se os danos colaterais não nos estivessem a matar matados.
LNT
[0.232/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLVII ]

Bairro Alto
Bairro Alto - Lisboa - Portugal
LNT
[0.231/2013]

domingo, 14 de julho de 2013

A Barbearia agradece o obséquio da sua preferência

BarbeiroE como o tempo é incontornável, fica a nota de que se perfazem hoje seis anitos que as cadeiras desta casa se abriram para desfazer barbas e cabelos.

O barbeiro já antes tinha ensaiado as artes noutros estabelecimentos e deles tinha trazido clientela, gente selecta que passou palavra sobre os serviços aqui prestados tendo resultado num crescendo que, contado a números de hoje, já perfaz 657.000 acessos.

É obra que se agradece, porque sem clientes não há trabalho.
LNT
[0.230/2013]

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Cantando e rindo

CanoagemDiz-se por aí que o alegado Vice-Primeiro Ministro do alegadamente Governo em pleno exercício de funções já tinha embalado a trouxa para zarpar dos negócios estrangeiros.

Já para não falar no custo que as habituais fotocópias devem ter importado e no esforço feito pelas digressões à procura de um palacete ou forte que desse dignidade de Estado à função alegadamente relevante de coordenador da economia interna e externa, da finança lado-a-lado no que respeita à troika e de outras minudências relativas a alegados interesses ligados à gestão pública da Administração Central, basta que nos concentremos na presumível frustração que irrevogavelmente condicionará o estado anímico do retornado Ministro dos Negócios Estrangeiros para termos um panorama da vontade que anima o actual executivo.

Logo agora que tudo parecia ir para melhor, uma vez que estava aberta a janela de oportunidades para que Álvaro levasse consigo, para Vancôver, o alto interesse da Nação que consistia na substituição das exportações de faiança fina das Caldas pelas natas dos pastéis de Belém, e também devido ao facto do sector cervejeiro português passar a ter na economia um mandante de peso, ainda que coordenado à maneira portuguesa (uma canoa com inúmeros timoneiros e um só remador) que trocasse o interesse estratégico da fermentação das uvas pela fermentação da cevada, o País foi surpreendido com uma nova série do filme “a Múmia volta à vida” com o intuito de se demonstrar que continua a ser verdade que as vinganças frias e os guiões complexos fazem parte da marca nacional.

Continuamos a navegar à bolina e com ventos soprados por um Adamastor escondido num rochedo de tabus.

Mais tarde há-de surgir um Roteiro que aponte os culpados e os desleais que provocaram um segundo resgate, esquecendo que já o primeiro fez parte da mesma estratégia e teve por principal actor o autor desses mesmos Roteiros.

Voltando à trouxa do MNE, espera-se que a não desfaça, para que se não perca tudo. Já não faltará muito para que os eleitores lhe confirmem que chegou a hora de partir.
LNT
[0.229/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLVI ]

Albufeira
XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura (1983) - Lisboa - Portugal
LNT
[0.228/2013]

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Implosão

BiomboNão pode ser uma questão de surdez, aquela que levou o Presidente da República a fazer a alocução que ontem fez.

Cavaco ignorou que o seu Governo lhe apresentou uma proposta de solução, ignorou que o Partido Socialista há muito tomou a decisão de só se envolver após eleições e ignorou que o poder reside no povo português e não nos Partidos.

Cavaco arredondou as arestas do seu pensamento com palavras bem medidas mas que deixam clara a sua interpretação dos conceitos da democracia e do regular funcionamento das instituições.

Cavaco apelou a um consenso de exclusão ao dirigir-se só aos Partidos signatários do memorando. Para além do mais foi redundante e desajustado porque nenhum desses três Partidos repudiou, até hoje, a sua responsabilidade no cumprimento dos compromissos assumidos com a sua assinatura.

Cavaco atirou o País para uma campanha eleitoral prolongada sem ter marcado eleições. Nem demitiu um Governo que tem ministros demissionários e outros com guia de marcha assinada, nem apresentou uma solução, deixando o País paralisado e ainda mais dividido entre aqueles que são defensores de soluções democráticas e plurais e os outros que entendem que, no mínimo, há que suspender a democracia.

Cavaco foi o que sempre foi. Ouve, mas não escuta e entende que o consenso é a aceitação da sua vontade.

Cavaco fez, uma vez mais, aquilo que sempre fez:
- Recusou reconhecer que erra e que muitas vezes se engana;
- Atirou as suas responsabilidades e culpas para as costas dos outros;
- Empatou, enrolou, arrastou e dilatou até ao limite as questões que lhe queimam as mãos; e
- Negou, escondeu e disfarçou a sua politiquice em meias-palavras vestidas de tabus e silêncios.

Que se esteja ciente de que o discurso de ontem foi só o princípio do que está para vir. Ninguém pode acreditar que um Governo com cartas de demissão, ministros que sabem que estavam nas bordas de um caixote de lixo a aguardar substituição e uma Ministra das Finanças disposta a dividir a troika com um vice-primeiro-ministro que afinal o não é, é um Governo no pleno gozo das suas funções.
LNT
[0.227/2013]

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Demasiadamente mau

KoenO grande responsável por termos chegado a este ponto é quem, tendo por principal instrumento a palavra, a tenha usado para pronunciar os discursos feitos no 25 de Abril e 10 de Junho e que logo na noite de vitória eleitoral a tenha usado para criar a divisão dos portugueses.

A tentativa de sacudir a água do capote usando agora da palavra carregada de ameaças e temores e procurando responsabilizar outros numa solução absurda de compromisso com gente que nem sequer consegue cumprir os compromissos que tem com os seus parceiros e aliados, não merece muito mais do que um encolher de ombros.

Cavaco encheu de gás Passos Coelho. Tanto gás que levou o Primeiro-ministro a dar-se ao luxo de humilhar o seu aliado impondo-lhe a solução para as Finanças como um facto consumado.

Paulo Portas respondeu à provocação do modo que se conhece o que mergulhou Coelho numa tal fragilidade que acabou por entregar todo o poder ao seu parceiro imensamente minoritário.

Agora o Presidente lava as mãos dizendo que um Governo com um Ministro de Estado demissionário e mais dois Ministros com o lugar colocado à disposição está em plenas funções, o que sendo verdade, não lhe retira a condição de Governo moribundo e politicamente inviável.

Tudo isto é demasiadamente mau.
LNT
[0.226/2013]

Solenidades

ChapéuHoje teremos mais um momento solene na nossa democracia republicana.

Depois de amplamente publicitado pelos órgãos de comunicação social que os fieis da Santa Madre Igreja reunidos nos Jerónimos aplaudiram a solução e de que o Presidente do Conselho Europeu e o Ministro Alemão das Finanças já deram o seu aval, o Sr. Presidente da República irá comunicar aos povos continentais e insulares indígenas que habemus Vicem.

Como a simbologia está na moda e há que poupar nas gorduras, seria mais eficaz e eficiente instalar uma chaminé em Belém que fumegasse a branco ou negro em conformidade com a sentença final, já que não foi equacionado proferir a alocução prevista para hoje na outra solenidade que em breve consagrará a posse.
LNT
[0.225/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLV ]

Albufeira
Albufeira - Algarve - Portugal
LNT
[0.224/2013]

Há quem o faça por menos

Portas medalhas

A medalhita, vice, acabou por ser merecida.

Um Presidente da República em trânsito, mesmo que fazendo parte do grupo de países amigos com os quais se negoceiam contrapartidas de interesse nacional, vale menos que uma medalha pessoal espetada no peito. (Diria o meu amigo Manzas que: - broches como os da casa Batalha, ninguém os faz tão lindos desde o tempo de Dona Maria)

Quando vemos a nossa bandeira queimada nesses confins sul-americanos temos de nos lembrar que houve “questões técnicas no Ministério dos Negócios Estrangeiros” que, em dia de céu limpo, proporcionaram o sequestro técnico ou, sendo mais brando, proporcionaram a retenção de um chefe de Estado que pretendia regressar ao seu País.

A bem da Nação, claro, como sempre.
LNT
[0.223/2013]

terça-feira, 9 de julho de 2013

Troika, troika, lado a lado

AfroUma impossibilidade, todos o sabem.

Paulo Portas e Maria Luís não conseguirão, lado a lado, fazer troika, troika. Não porque possivelmente não tenham ganas para isso, mas porque para o fazer lado a lado é preciso uma desenvoltura e vontade que os não assiste.

Sabendo que já não há missionários como dantes, ainda assim alguém terá de ficar por cima.
LNT
[0.222/2013]

Governo Portas referendado por Schäuble

BugCom 653.888 votos (11.74%) O Partido Portas conseguiu formar governo. Para tal teve a anuência do PSD que, para evitar eleições, se prontificou a ceder-lhe o total apoio em troca do cargo representativo de Primeiro-ministro.

Está por saber o que fará Portas com tanto poder, mas isso também interessa pouco para o assunto. Não temos pressa nem urgência, o Presidente da República ainda tem muito tempo para namoriscar todos (desde que seja nas horas normais do expediente) até porque o ministro das finanças alemão já referendou o acordo e deu posse ao novo Governo português.

Entretanto, a Ministra das Finanças de Portugal andou pela Europa a beijocar tudo quanto é salta-pocinhas e explicou que está na disposição de encostar a sua cabecinha à do todo-poderoso Vice-Portas porque acredita na osmose dos neurónios. Ela não sabe nem sonha, mas possivelmente não tem de saber e tem outros sonhos mais interessantes, que Ortros – filho de Equidna e de Tifão – é hoje uma estrela brilhante depois de Héracles lhe ter limpado o sebo.
Coisas da vida, como diria o meu estimado Guterres.

Voltemos ao que interessa e deixemo-nos de antiguidades. Saudemos Paulo Portas pelo milagre da multiplicação dos votos. Sintamo-nos todos representados na sua liderança e felizes por finalmente vermos a finança (que colecta) coordenada pela economia (que gasta).

Afinal estamos no Verão e este é o tempo dos festivais de música e dos ministros promovidos pelas marcas de cerveja.
LNT
[0.221/2013]

Já fui feliz aqui [ MCCLIV ]

Gato Gaspar
Faz 8 dias - Portugal
LNT
[0.220/2013]

segunda-feira, 8 de julho de 2013

7º dia

Morto-vivoSe as contas não se enganam, deveríamos estar hoje a celebrar a Missa de sétimo dia de um defunto que se encontra na morgue a aguardar decisão de cremação ou de empalhamento.

Para empatar, o médico legista-chefe anda às voltas com o fígado e outras miudezas que retirou no decurso da autópsia do cadáver para estudar a compatibilidade consensual que demonstre haver hipótese de reengenharia que, segundo o manual de Mary Shelley, viabilize a reactivação de alguns sinais vitais.

O doloroso acontecimento e a forma como se arrastam os preparativos fúnebres estão a deixar em elevado estado de ansiedade toda a comunidade indígena, incluindo os herdeiros, os deserdados, os gatos-pingados e os coveiros que, pelo menos, exigem que os restos mortais abandonem a morgue e sejam expostos como corpo presente para receberem as lágrimas ou os aplausos que as comunidades julguem ser-lhe devidos.
LNT
[0.219/2013]