terça-feira, 9 de novembro de 2010

Apelos à amálgama

BoteroSucedem-se os apelos para a convergência. Fico cada vez mais preocupado com esta vontade de uniformização e para este apelo à indiferenciação. A insistência para acordos provoca as meias tintas do costume, as cedências ao mal menor e a morte do regime.

Votar neste ou naquele não pode ser igual e, se não queremos que a política seja só disputa clubista, há que basear a nossa escolha na diferenciação e demonstrar que os modelos em disputa apresentarão resultados diferenciados. Não é possível pedir participação cívica se se inviabilizar a escolha.

Sempre preferi a diversidade até porque, em limite, só ela nos proporcionará a mestiçagem.

Já nos basta estarmos confrontados com a alternância de poder ao centro e com as lideranças personalizadas que no PS e no PSD transformam o colectivo em colectividade. Só nos faltava agora ficarmos sujeitos à amálgama.

Se é verdade que o cinzentismo reinante transformou a política em danças de salão, pelo menos não se prescinda da possibilidade de nos deixarem escolher a dança para Dona Constança.
LNT
[0.399/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCCXVI ]

António Colaço
António Colaço - Lisboa - Portugal
LNT
[0.398/2010]

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Masoquismo

Serpente - Basílica da EstrelaNum dia em que todos os lagartos são azuis e o campo do dragão vai fazer o upgrade para campo de golfe, a frase que mais se ouve é de que: - Portugal vendeu-se à China.

Poderia dizer-se que uma desgraça nunca vem só mas, no caso presente, parece mais próprio dizer-se que a coisa não está para graças. Diz, quem sabe, que os EUA são os maiores devedores da China e se algum americano se atrevesse a afirmar que o seu País tinha sido vendido aos chineses não faltaria quem na gringolândia lhe receitasse uma daquelas injecções para as dores com que a nação mais livre do Mundo costuma anestesiar higienicamente os seus indesejáveis.

Mas Portugal é assim mesmo.

Os lagartos satisfazem-se, apesar do miserável lugar que ocupam na tabela da bola, com a derrota do glorioso Benfas, tal como o PCP se costuma alegrar com as derrotas do PS mesmo que seja para o PSD. Os nacionalistas de pacotilha animam-se com "a venda de Portugal à China" com a mesma naturalidade com que nunca tinham descoberto que, antes da China, a propriedade era da Alemanha e companhia que andavam a aproveitar-se da desgraça alheia para levar a agiotagem ao seu expoente máximo da pouca vergonha (à pala dos "empréstimos amigos").

Vá lá, atirem mais uns isqueiros para o campo e continuem a deitar lenha para a fogueira. Afinal o tempo é de São Martinho e as castanhas já estão maduras.
LNT
[0.397/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCCXV ]

Lisboa
Chiado - Lisboa - Portugal
LNT
[0.396/2010]

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Razões

Manuel AlegreIrei votar em Manuel Alegre porque não me conformo com o destruir do sonho antigo de ver Portugal no grupo dos melhores da Europa.

Ser socialista, em Portugal, é ser social-democrata na Suécia, na Finlândia, na Dinamarca, na Holanda, na Noruega, etc. Não é uma utopia, como alguns querem fazer crer, mas sim saber que há sociedades tão avançadas que as crises passam por elas sem as matar porque se baseiam no bem comum, na liberdade responsável, no mérito e na solidariedade na adversidade. Sociedades onde se exigem os direitos porque se cumprem os deveres e onde se combate o falso moralismo e a intolerância ao diferente com a mesma normalidade com que os moralistas da Europa do Sul praticam a corrupção, o individualismo e a hipocrisia.

Alegre é um destes socialistas. Toda a vida se bateu por esses princípios e se alguma vez entendeu que esse socialismo passava pelo outro socialismo científico, rapidamente corrigiu a mão ao constatar que a sua prática repressiva e autoritária não se coadunava com o pensamento livre.

Ao contrário de outros socialistas modernaços, que julgam que o Estado Social é um conjunto de princípios que, de vez em quando, se pode esquecer por crerem que a verdadeira solução passa pelo capitalismo selvagem (a que agora gostam de chamar "liberal" e que as elites apelidam de "neo-liberalismo"), Manuel Alegre é voz activa e corajosa dentro do Partido Socialista que não fundou, mas de que foi um dos primeiros e mais intransigentes militantes, e sempre se bateu na defesa desse Estado Social que sabe conter a solução para os problemas criados pelo capitalismo selvagem e agiota que pretende reduzir o nosso povo ao estado de miserável.

É por isso que me choca ver determinados nomes na lista da Comissão Política Nacional de Alegre. Não por eles terem defendido nas últimas eleições outros candidatos à Presidência, coisa democrática e curial, mas por saber que eles são co-responsáveis por termos tido na presidência, nos últimos anos, o detentor político que se afirma apolítico e que é o recordista da detenção do poder no Portugal democrático. Os resultados desse poder continuado estão à vista.

Apesar deles, e ainda mais por causa deles, votarei Alegre. Não abdico do meu sonho e fá-lo-ei em memória de todos os que se bateram por um País mais justo e a favor de melhor vida para as gerações futuras.
LNT
[0.395/2010]

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Já fui feliz aqui [ DCCCXIV ]

Casas Novas
Casas Novas - Arraiolos - Alentejo - Portugal
LNT
[0.394/2010]

Memória curta

Tribuna Alegre 2006
Só passaram cinco anos.

Há nomes nesta lista da Comissão Política Nacional que são uma afronta para quem sempre esteve ao lado de Manuel Alegre.

Isto não vai correr bem, acreditem.

LNT
[0.393/2010]

Acerta o passo, coelho

Cartaz interdito


Agora que o PSD "finalmente ouviu Sócrates" chegou a altura de despachar o parceiro de tango para retornar ao fandango.

Manuela Ferreira Leite conseguiu explicar a Passos Coelho que o que se passou há uns meses no PSD não foi a sua derrota, mas só a demonstração de que ela vale mais na sombra do que ele com dez Sóis apontados.

Passos Coelho recolheu à toca, conforme tem sido patente nos últimos dias, possivelmente para tossir o engasgo que a estratégia desastrada que traçou lhe está a provocar.

Mesmo que venha a ganhar as eleições seguintes tem o destino marcado pelas sombras que mandam no seu Partido. A pouca rodagem com que ascendeu aos holofotes não lhe trouxe a sabedoria necessária para localizar a voz que o atormenta.

Ao contrário de todos os outros, ainda não percebeu o que o fez não ter assento na Assembleia da República.
LNT
[0.392/2010]

Greve geral -SIM

Greve Geral


Quando João Proença disse, aqui há uns dias, que a UGT iria estar em sintonia com a CGTP para concretizarem a greve-geral de 24 de Novembro, acrescentou que também entendia ser inevitável aprovar o OE que tinha sido entregue na AR.

De imediato ouviram-se críticas que apontavam contradição nas posições assumidas e ouviram-se as gargalhadas provindas dos fazedores de espuma.

No entanto não há qualquer contradição. Tal como Proença, também compreendi desde o início a necessidade de ver aprovado este Orçamento, mas não prescindo de aderir à greve-geral.

São duas questões a serem tratadas em separado:
Uma (a questão de aprovação do OE) destina-se a tentar evitar o mal maior;
A outra (a da greve-geral) destina-se a dar o sinal de que foi atingido o limite da tolerância e que deixou de haver margem para continuar o rega-bofe.

É importante que os políticos que nos governam e os especuladores nacionais e internacionais que nos estrangulam entendam que chegou o momento em que a nossa compreensão para as actuais medidas não é um sinal de aceitação dos erros continuados que nos conduziram até aqui. É inevitável fazê-los entender que não estamos na disposição de continuar a admitir novos pedidos de austeridade para tapar os buracos de uns e os roubos de outros.

Isto serve para todos os que têm responsabilidades começando pelo Governo, passando pela Assembleia da República e pela oposição e terminando no Presidente da República.

Quanto aos especuladores há que dar o sinal de que também eles estão no limite.

Impingem condições e chantageiam-nos com ameaças de corte de crédito fazendo-nos crer que o crédito que nos atribuem é uma dádiva e não o negócio de agiotagem que justifica a sua existência.
LNT
[0.391/2010]