Só se desilude quem se deixa iludir [ I ]
É, ou melhor, continua a ser interessante verificar como as coisas pretendem ser passadas para a opinião pública, consciente ou inconscientemente, com intenção de camuflar ou, como acredito que seja no caso de Paulo Pedroso, por má interpretação dos sinais.
É verdade que muitos camaradas meus sempre entenderam que o que se passou há um mês e picos na Aula Magna de Lisboa não foi um debate plural dos esquerdas, de alguns (algumas) esquerdas, mas sim um comício do Bloco de Esquerda onde participou Manuel Alegre. Não me canso de dizer, e digo-o não por me terem contado mas por lá ter estado e ter acompanhado a organização dos debates, que se é verdade que Francisco Louçã lá esteve, também por lá estiveram muitos outros homens e mulheres, filiados ou não noutros Partidos políticos da esquerda portuguesa. Sabe-se que quando se aborda a questão normalmente faz-se por esquecer que, por exemplo, Carvalho da Silva fazia parte de um dos painéis e que socialistas como Elísio Estanque e Nuno David entre muitos mais, faziam parte de outros, ou estiveram presentes nas sessões.
Quer queiram acreditar, quer não, garanto que lá não se rezaram credos nem se viram bandeiras, nem máscaras, nem anonimatos. Quem lá esteve tinha a cara descoberta, identificava-se pelo nome, era reconhecível pelos seus e pelos dos outros e não tinha mais ou menos estatuto que os restantes participantes. Uma das características comuns era a de que, como poderão facilmente adivinhar, não havia asas nas costas de ninguém e mesmo as virgens estavam precavidas. A disposição era a de debater para a partir daí se abrirem caminhos de entendimento e de construção de propostas de futuro que se acredita não terem de passar pela cartilha que tem guiado o diligentíssimo comité mundial destes últimos anos, com os resultados de todos conhecidos.
Pouco importa se Fazenda do BE diz coisas-e-loisas em defesa do seu comunismo e do seu Partido. Pouco importa se a direcção do PS gosta ou não de ver misturados alguns dos seus com outros que se lhe opõem no campo partidário, porque a quem lá foi não se exigiram pergaminhos ou chancelas partidárias. Também a ninguém se tirou pedaço, se tentou amordaçar ou se mandou calar e quem esteve atento ao discurso de encerramento feito por Manuel Alegre, atento para o ouvir e não para de lá extrair frases desgarradas com o intuito de as fazer manchete, dele escutou palavras pouco mansas na sua crítica aos que fazem oposição por oposição, se acantonam no contrapoder e fogem das responsabilidades como o Diabo foge da Cruz.
Tudo claro, parece, e queiram Paulo Pedroso e outros entender que a partidarite de Fazenda não nos faz qualquer mossa porque não será ela que inviabilizará os diálogos que demonstram o erro em que vivem os Fazendas-deste-mundo e que há muito mais vida na esquerda portuguesa e no pensamento de esquerda do que as lógicas eleitorais dos Partidos. Nunca se pretenderem uniões partidárias, sempre se defendeu o diálogo na busca de soluções de esquerda que não passem pelas gavetas cada vez que essa esquerda tem os votos e os meios para aplicar as soluções que defende.
O Paulo Pedroso sabe que é com estima que escrevo isto. Com estima e com a convicção de que se as esquerdas em Portugal não tiverem capacidade para dialogarem sobre as soluções, nos momentos próprios, à margem ou não dos Partidos, aplicaremos sempre no exercício do poder aquilo que contestamos quando somos oposição.
Tudo isto sem medos e ainda menos sem necessidade de desilusões porque nunca estivemos iludidos.
LNT
Rastos:
-> Banco Corrido ≡ Paulo Pedroso - Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
-> Canhoto ≡ Paulo Pedroso - Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
-> Diário de Notícias ≡ Zanga no "namoro" entre Alegre e o Bloco
-> Manuel Alegre ≡ Em defesa do público nos serviços públicos
4 comentários:
Concordo com a sua posição (não acredito que Manuel Alegre sairá do PS, nem partilho da opinião de Mário Soares, que, no programa Dia D, sugeriu que o "caso Alegre" deve ser interpretado com base na diferença entre emoção e ideologia/política), mas gostaria de dizer o seguinte sobre a necessidade do "diálogo": a avaliar por um caso recente, o das reacções de dois partidos de esquerda (Bloco e PCP) à entrevista dada por José Sócrates na Sic, ficou pouco claro o desejo de "encontrar soluções de esquerda". Na verdade, não ouvi uma posição coerente, e com alternativas, sobre o que foi proposto. Há apenas uma crítica repetida pelos partidos, em fórmulas do tipo 'não são apresentadas soluções', 'o primeiro-ministro está cego', e por aí adiante. Acredito, por isso mesmo, na pertinência, e na urgência, de um debate sério à esquerda, como sugere, mesmo que este debate possa decorrer à margem das instituições partidárias; parece-me no entanto que começamos mal quando a preparação para o debate passa, em alguns casos, pela organização de seminários e encontros que pretendem "ressuscitar" Marx. Será que, como dizia J. Medeiros Ferreira há uns meses,isto acontece porque há também uma outra crise - a crise de ideias? Esperemos que não.
Cara Ana, obrigado pelo seu comentário.
Talvez por deficiência minha, acredito muito ou pouco ou quase nada nessas teorias da ressuscitação. Isto não se aplica só ao campo teológico mas também aos mortos com barbas farfalhudas, ou outros.
Penso já ser tempo de deixar os mortos em paz e aproveitar alguns dos seus ensinamentos, mas partir para novas formas que eles nunca puderam pensar porque tudo o que conheceram é hoje realidade diferente.
Num mundo em permanente mutação a evocação das almas penadas, da direita e da esquerda, serve de muito pouco. Como eles eram tão inteligentes como nós não consigo entender porque temos de nos dedicar à preguiça de os repetir.
Entendo as duas posições, não só pelo que aqui ficou dito como pelo que tenho lido e observado da chamada ala esquerda do PS, mas não consigo tomar posição por nenhuma. Porquê? Porque, por um lado, me custa aceitar as concessões que uns fazem ao 'chefe' e, por outro lado, me parece que a atitude de Alegre acaba por ser inconsequente.
No fim de tudo fico sem ter em quem votar. Há uma certeza que tenho: - NÃO VOTO EM SÓCRATES!
Porque será que não vota Socrates?
Pela Atitude?Firme e coerente que Socrates tem demonstrado?Não tenho duvidas que se assim não fosse(caracter)já não estaria a frente do Governo!Por assim ser e dada a conjectura Mundial,é o homem no local certo no tempo necessário até à retoma económica.
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