quinta-feira, 2 de junho de 2011

O estado da coisa – Quinta-feira da Espiga

Pão"Leve o raminho que é para dar sorte"
anuncia a mulher de traje preto nas Amoreiras, nas barbas do fisco.
"São só dois éurios", remata.

Abordei-a perguntando-lhe porque estava a vender o mal enjorcado ramo e ela foi-me explicando que há que fazer pela vida, que a coisa está difícil, que lhe cortaram o subsídio (sem dizer qual), que o Sócas é um malandro, enfim, o rosário habitual das lamúrias de quem, mesmo quando está na rua a vender para os funcionários do fisco, não passa recibo, nem paga imposto.
A realidade portuguesa contada à laia de pregão.

Quanto ao ramo, à Quinta-feira da Espiga, à Quinta-feira da Ascensão, ao Dia da Hora, ao quadragésimo dia após a Páscoa, à última aparição de Jesus aos Apóstolos, ao sagrado da coisa ou ao profano do símbolo do ramo de oliveira, do alecrim, das papoilas e malmequeres e da própria espiga, nada me disse, nada sabia nem queria saber.

Bastava-lhe conhecer que o ramo tinha de se guardar atrás da porta até ao ano que vem, altura em que voltará à rua para vender, em mercado paralelo, um ramo que pouco valor tem porque, para o ter, deveria ser colhido no campo, ao meio-dia – hora em que tudo pára – pelos próprios que querem ser abençoados com as graças de não lhes faltar o pão da espiga, o azeite da oliveira e a alegria das flores silvestres.

Passamos a vida a tentar fundamentar com grandes e sábias teorias o estado a que chegámos e afinal tudo é tão simples, tudo se resume à mulher de traje negro nas Amoreiras a apregoar ignorância aos incautos, enquanto engana o Estado, isto é, a todos nós e se lamuria com as maldades que os outros cometem.
LNT
[0.201/2011]

3 comentários:

folha seca disse...

Caro Luis
Aqui por estas bandas hoje gozamos o feiado Municipal.
A tradição manda que a ementa previligiada seja (imagine) Coelho com ervilhas.
Há largos anos que o PS ali num local designado por "Arvores" junto a S.Pedro de Moel, organiza um evento que se traduz num grande Pic Nic. Estou com uma vontade enorme de lá ir espreitar para ver se a tradição se mantém no que à ementa respeita.
Boa espiga

brites disse...

Ali, nas barbas do fisco, uma pobre mulher vende ramos de flores,que lata! Por cima,diz mal do" SÓcas".Pecado mortal!

Nem todos os socialistas merecem a minha consideração.

Luís Novaes Tito disse...

Brites, Quem lhe disse que a mulher é pobre? Quem lhe disse que o ramo é de flores? Quem lhe disse que ela diz mal do Sócas "ainda por cima"? Por cima de quê? De quem?
Este texto se fosse só o que você gostaria que fosse, era muito pobre. Mas não é. Goste, ou não, é muito mais do que aquilo em que o seu comentário o quer transformar.