Balada dos AflitosManuel Alegre apresenta "Nada está escrito", o seu mais recente livro de poesia.
Irmãos humanos tão desamparados
a luz que nos guiava já não guia
somos pessoas - dizeis - e não mercados
este por certo não é tempo de poesia
gostaria de vos dar outros recados
com pão e vinho e menos mais valia.
Irmãos meus que passais um mau bocado
e não tendes sequer a fantasia
de sonhar outro tempo e outro lado
como António digo adeus a Alexandria
desconcerto do mundo tão mudado
tão diferente daquilo que se queria.
Talvez Deus esteja a ser crucificado
neste reino onde tudo se avalia
irmãos meus sem valor acrescentado
rogai por nós Senhora da Agonia
irmãos meus a quem tudo é recusado
talvez o poema traga um novo dia.
Rogai por nós Senhora dos Aflitos
em cada dia em terra naufragados
mão invisível nos tem aqui proscritos
em nós mesmos perdidos e cercados
venham por nós os versos nunca escritos
irmãos humanos que não sois mercados.
Manuel Alegre
Será amanhã, dia 16, pelas 18:30, na Leya, em Lisboa, Rua Duque de Palmela, 4.
Lá estarei para me juntar à oração à Senhora dos Aflitos. Pode ser (embora pouco crente) que nos ajude a sair desta agonia que transforma seres humanos em escravos dos "mercados".
LNT
[0.210/2012]
1 comentário:
Que maravilha de poema!
Manuel Alegre no seu melhor.
Tenho de comprar o livro.
Maria
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