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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Estou contigo, Costa, pá!

Magritte"Havia coisas em que o PS devia ter-se demarcado do nosso último governo, que cometeu naturalmente erros"

Havia coisas boas - como aquelas de reconstruir escolas que estavam um chiqueiro – e coisas más – como aquelas outras de se terem apetrechado essas escolas com equipamentos de ar condicionado tão potentes que as escolas não dispunham de orçamento para os pôr a funcionar.

Havia coisas boas – como aquelas de acabar autoestradas inacabadas – e coisas más – como aquelas outras de enterrar milhões nos caboucos de autoestradas paralelas às que se acabavam de construir.

Havia coisas boas – como aquelas de apoiar Manuel Alegre numa segunda campanha presidencial – e coisas más - como aquelas outras de ter permitido que numa primeira campanha presidencial se tivesse entregado o poder a Cavaco por se ter preferido dividir os votos socialistas.

Havia coisas boas – como aquelas de arrancar com uma reforma do Estado através de um bem desenhado PRACE – e coisas más – como aquelas outras de ter abandonado a meio essa reforma não resistindo aos lobbies existentes na Administração Pública e se ter metido, pela primeira vez, a mão no bolso dos funcionários do Estado para compensar esse abandono.

Havia coisas boas – como aquelas de corrigir os abusos e desleixos que existiam na educação e na justiça – e coisas más – como aquelas outras que só serviram para denegrir e desautorizar os professores e os magistrados.

Havia coisas boas – como aquelas de evitar que o assalto do BPN se transformasse num estoiro colossal da banca portuguesa e no prejuízo dos seus depositantes – e coisas más – como aquelas outras de não se ter nacionalizado todo o grupo para evitar que se tivesse de ir buscar o dinheiro roubado aos bolsos dos contribuintes em vez de o ir recuperar aos bolsos de quem o tinha roubado.

Havia muitas outras coisas boas e muitas outras coisas más. Mas calaste-as durante três anos, Costa, porreiro, pá! O que foi pena porque: "Havia coisas em que o PS devia ter-se demarcado do nosso último governo, que cometeu naturalmente erros", e tu eras Presidente da Câmara de Lisboa, dirigente do PS, membro de todos os órgãos superiores do Partido Socialista, construtor da Quadratura do Círculo e mais um monte de coisas e nunca ninguém te viu a demarcar delas.
LNT
[0.268/2014]

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Caluda

FantásticoUm Partido político não é uma pessoa, nem um grupo de pessoas. É uma organização onde as pessoas se filiam à volta de uma declaração de princípios para debaterem e apresentarem soluções que conduzam à execução dos princípios contidos na sua declaração.

Assim sendo, e porque estamos a falar de organizações de pessoas e porque as pessoas não são autómatos, os Partidos políticos usam a inteligência e o saber dos seus membros, sendo certo que, para cada questão, haverá sempre mais do que uma solução.

Como estou a falar de Partidos políticos democráticos essas diversas visões e soluções deverão ser debatidas e sujeitas a votação sempre que não seja possível o consenso.

Quer isto dizer que os membros dos Partidos (no PS chamam-se militantes) não estão obrigados a concordar com a direcção dos Partidos, embora estejam sujeitos à sua decisão.

É por isso mesmo que o argumento usado para fazer calar a opinião e que se baseia na frase “o Partido tal e tal não tem autoridade para dizer isto ou aquilo porque também já fez aquilo ou aqueloutro” não tem qualquer validade, principalmente se o directório tiver sido substituído por sufrágio. Os Partidos democráticos são mutáveis e o poder não é eterno.

Ouvi ontem, vezes sem conta, críticas ao PS por este ter vindo a terreno repudiar a política de cunha e do favor que está a ser exercida pelo actual poder nacional. Essas críticas iniciam-se sempre com o argumento já referido anteriormente que, para além de ser parcialmente falso uma vez que o PS tem o hábito de, quando está no poder, repartir os cargos executivos, nunca contribuirão para corrigir o que se reconhece estar mal.

O poder político, em democracia, segue o princípio do sancionamento nas urnas e ele já foi feito.

Não é lícito mandar calar a oposição por ela já ter sido poder e por o ter perdido também por erros que agora voltam a ser cometetidos.
LNT
[0.024/2012]

terça-feira, 20 de abril de 2010

E de repente emudeceram

Avião bate asasHá silêncios tão selectivos que até fazem um barbeiro ficar barbado. Quando se falam de alternativas nos transportes, TGV por exemplo, mas também aplicáveis à rede rodoviária, aos portos, etc., nunca falta quem se ligue aos megafones contra este, ou qualquer outro governo, porque a teoria é que, havendo um governo – há um bode-expiatório - e malhe sem dó nem piedade.

Se for um vulcão, ou um ataque terrorista, algo que faça os pássaros de ferro não voar, ai aqui d’ el-rei que a economia fica de pantanas. Se há um terramoto e as ligações terrestres são interrompidas, não faltarão vozes a reclamar a falta de alternativa.

No entanto, quando se fala de planos ou de modernização de infra-estruturas, mil vozes gritam esquecendo que a sua inexistência, normal ou extraordinária, poderá criar constrangimentos extremos.

A face visível, tal como quando se falava de um novo aeroporto internacional, são os passageiros e todos se esquecem que as cargas são tão ou mais importantes e criam tão grandes ou muito maiores problemas à economia.

As vozes, sempre mais que as nozes, falam agora que os aeroportos fecharam por excesso de zelo. O que diriam se algum avião se despenhasse em virtude de ter sido entupido pelas cinzas do Katla ou do seu vizinho?

Esta dualidade é o primeiro problema português (depois da inveja). Impossibilitar o avanço, bloquear o desenvolvimento, discutir até à exaustão aquilo que se não entende para, quando chegar a altura, malhar, ou dando voz ao hino, contra os canhões, malhar, malhar. Quando acontece o desmascarar desses comportamentos, o resultado é silêncio.

Já assim tinha sido com a guerra do Iraque, p.e.
LNT
[0.151/2010]

sábado, 1 de agosto de 2009

A verdade do silêncio

LaranjadaA técnica de nada dizer já fez escola. Se nas Europeias tanto fez, nas Legislativas a coisa fia mais fino e tem a espessura de uma folha de papel para que passe pelos pingos da chuva sem se molhar.

O rasganço das Leis faz-se em silêncio para que, se houver oportunidade, os retrocessos possam ser carta jogada sem discussão, até porque discutir é custoso a quem gosta de impor.

A sala dos tabus do Pátio dos Bichos é um armazém de soluções empoeiradas à espera que no cadeirão de São Bento se sente uma porta-voz. No fundo, o que se deseja, é um upgrade da hierarquia de tempos idos.

Silêncio para não se saber o que é o casamento, não se perceberem as intenções da interrupção voluntária da democracia, não se comunicarem os congelamentos do pré e, com a verdade me enganas, voltar tudo à lei da rolha. Silêncio para, se a coisa lhe for favorável, agitar de novo a tanga.

Na Buenos Aires há maus augúrios que importa não revelar, para surpreender.

Nada que no exercício do poder anteriormente ensaiado não se tivesse já feito.
LNT
[0.543/2009]