[0.019/2009]Só se desilude quem se deixa iludir [
I ]
É, ou melhor, continua a ser interessante verificar como as coisas pretendem ser passadas para a opinião pública, consciente ou inconscientemente, com intenção de camuflar ou,
como acredito que seja no caso de Paulo Pedroso, por má interpretação dos sinais.
É verdade que muitos camaradas meus sempre entenderam que o que se passou há
um mês e picos na
Aula Magna de Lisboa não foi um debate plural dos esquerdas, de alguns (algumas) esquerdas, mas sim um comício do Bloco de Esquerda onde participou
Manuel Alegre. Não me canso de dizer, e digo-o não por me terem contado mas por lá ter estado e ter acompanhado a organização dos debates, que se é verdade que
Francisco Louçã lá esteve, também por lá estiveram muitos outros homens e mulheres, filiados ou não noutros Partidos políticos da esquerda portuguesa. Sabe-se que quando se aborda a questão normalmente faz-se por esquecer que, por exemplo,
Carvalho da Silva fazia parte de um dos painéis e que socialistas como
Elísio Estanque e
Nuno David entre muitos mais, faziam parte de outros, ou estiveram presentes nas sessões.
Quer queiram acreditar, quer não, garanto que lá não se rezaram credos nem se viram bandeiras, nem máscaras, nem anonimatos. Quem lá esteve tinha a cara descoberta, identificava-se pelo nome, era reconhecível pelos seus e pelos dos outros e não tinha mais ou menos estatuto que os restantes participantes. Uma das características comuns era a de que, como poderão facilmente adivinhar, não havia asas nas costas de ninguém e mesmo as virgens estavam precavidas. A disposição era a de debater para a partir daí se abrirem caminhos de entendimento e de construção de propostas de futuro que se acredita não terem de passar pela cartilha que tem guiado o diligentíssimo comité mundial destes últimos anos, com os resultados de todos conhecidos.
Pouco importa se Fazenda do BE diz coisas-e-loisas em defesa do seu comunismo e do seu Partido. Pouco importa se a direcção do
PS gosta ou não de ver misturados alguns dos seus com outros que se lhe opõem no campo partidário, porque a quem lá foi não se exigiram pergaminhos ou chancelas partidárias. Também a ninguém se tirou pedaço, se tentou amordaçar ou se mandou calar e quem esteve atento ao discurso de encerramento feito por
Manuel Alegre, atento para o ouvir e não para de lá extrair frases desgarradas com o intuito de as fazer
manchete, dele escutou palavras pouco mansas na sua crítica aos que fazem oposição por oposição, se acantonam no contrapoder e fogem das responsabilidades como o Diabo foge da Cruz.
Tudo claro, parece, e queiram
Paulo Pedroso e outros entender que a partidarite de
Fazenda não nos faz qualquer mossa porque não será ela que inviabilizará os diálogos que demonstram o erro em que vivem os Fazendas-deste-mundo e que há muito mais vida na esquerda portuguesa e no pensamento de esquerda do que as lógicas eleitorais dos Partidos. Nunca se pretenderem uniões partidárias, sempre se defendeu o diálogo na busca de soluções de esquerda que não passem pelas gavetas cada vez que essa esquerda tem os votos e os meios para aplicar as soluções que defende.
O Paulo Pedroso sabe que é com estima que escrevo isto. Com estima e com a convicção de que se as esquerdas em Portugal não tiverem capacidade para dialogarem sobre as soluções, nos momentos próprios, à margem ou não dos Partidos, aplicaremos sempre no exercício do poder aquilo que contestamos quando somos oposição.
Tudo isto sem medos e ainda menos sem necessidade de desilusões porque nunca estivemos iludidos.
LNTRastos:
-> Banco Corrido ≡ Paulo Pedroso - Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
-> Canhoto ≡ Paulo Pedroso - Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
-> Diário de Notícias ≡ Zanga no "namoro" entre Alegre e o Bloco
-> Manuel Alegre ≡ Em defesa do público nos serviços públicos