quarta-feira, 24 de março de 2010

Ferro ferrugem

SputnikTenho um amigo oriundo da cortina de ferro que gosta de falar a língua dos mortos. Se falamos de economia cita mil vezes Keynes, Hayec, Friedman ou Smith, se falamos de outras gestões saca de modelos e ciclos, finlandeses, de Silicon Valley e outros e, se falamos de ciências ocultas, evoca o barbudo ou a terra do Donald Duck.

Mas não só disserta, como demonstra e teima. Teima que os mortos são melhores do que os vivos porque consegue ler os mortos e nos vivos, mesmo quando os lê, só encontra menções aos mortos.

Esse meu amigo que nasceu na cortina de ferro acredita que há Europas dentro da União Europeia, umas a norte, protestantes e trabalhadoras e outras a sul, católicas e preguiçosas que só por acidente não são África porque Deus teve um lapso quando atirou com a água do Mediterrâneo um pouco mais abaixo do que deveria.

Nós, os barbeiros teólogos, sabemos que este conceito de erro é a própria negação de Deus, Entidade não susceptível de o cometer. Se as águas nos separam é porque há algo de inatingível que assim o faz ser, alguma coisa sábia que só cogitaremos quando formos divinos.

Esse meu amigo, nado e criado entre a cortina de ferro, os Champs-Élysées e Lisboa, diz que o Duna é azul, que la Seine é verde e que o Tejo só mistura as duas cores porque tem estuário no Bugio, entre a Caparica e Oeiras, em Atlântico aberto, ao contrário de la Seine que desagua na Mancha e do Duna da sua terra que deixa de ser rio quando se escapa para a Croácia.

Ele crê, esse meu amigo que nasceu para lá da cortina de ferro, entre Buda e Peste, que os mortos que lhe falam e de quem ele fala e sobre quem estuda, ainda estão vivos.

Mesmo depois do Globo se ter atrasado na rotação, de Bernard Madoff ter sido preso e de Obama ter ensaiado o SNS americano.
LNT
[0.117/2010]

Não esquecer

de ir ao Blasfémias para deixar os parabéns ao Gabriel Silva, que hoje faz anos.

O melhor é mesmo ir ao último post do Gabriel onde ele recasca nos socialistas (os socialistas têm as costas largas) e deixar-lhe na caixa de comentários... uma liberal salva de palmas :)
LNT
[0.116/2010]

terça-feira, 23 de março de 2010

Resquícios salazarentos

Serpente Basílica da EstrelaPor razões que para aqui não interessam desloquei-me ontem a Setúbal onde aproveitei, uma vez mais, para ser feliz. Usei a Vasco da Gama para ir, e a Vinte e Cinco de Abril para vir. Duas perspectivas da capital, uma mais alta do que a outra, uma mais metálica do que a outra, uma mais salazarenta do que a outra.

A Vasco da Gama, uma solução do Portugal democrático do bloco central, iniciada por Cavaco e terminada por Guterres, faz o seu percurso pelo mar da palha e, à boa maneira do centralão, serpenteia entre o sapal, os flamingos, as salinas e o pântano, terra de enguias e casulo.

A Vinte e Cinco de Abril, uma solução do Portugal continental, insular e ultramarino da União Nacional, iniciada e acabada por Salazar e inaugurada por Cerejeira, faz o seu percurso pela península sadina, e à boa maneira da união, estrangula-se na Coina para pagar portagem e receber de troco obras que duram há anos e não proporcionam prazer.

Comparo e concluo que este é o paradigma português. Entre a modernidade das três faixas que permitem um fluxo abundante e lubrificam o trânsito e o passadismo do estrangulamento do garrafão e dos constrangimentos de Santa Engrácia, continuamos na senda dos impasses sendo certo que um é mais frustrante do que o outro porque, uma Nação que, pouco abaixo do seu umbigo, se estrangula na Coina e mantém a Coina em obras há tantos anos, não pode ter um povo feliz.
LNT
[0.115/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXVI ]

Setúbal
Setúbal (à noite)- Portugal
LNT
[0.114/2010]

segunda-feira, 22 de março de 2010

Estoques e picadores

Botero
"Se há qualquer comentário a fazer, que seja o presidente da Assembleia da República, em defesa da instituição parlamentar."
Curiosas palavras de João Bosco Mota Amaral.
Efectivamente compete ao PAR fazer a defesa da Assembleia da República, embora ela seja igualmente da responsabilidade de cada deputado, dada a sua condição de avo do órgão de soberania.

Quando um grupo de deputados se prepara para esbanjar mais uns milhares de euros, numa altura em que se exige bom senso e rédea curta nas despesas públicas, com o exclusivo intuito de prosseguirem a chicana política iniciada com a designada “Comissão de Ética” que teve momentos altos na propaganda de T-shirts com slogans e na citação de telefonemas para o Rei de Espanha, prevê-se que a rábula ainda vai no adro.

A convocatória de um Primeiro-ministro para responder em comissão parlamentar não é um acto que possa ser tomado de ânimo leve. Se esse acto for só para, uma vez mais, lançar a lama para a ventoinha em total desrespeito pelos sacrifícios que são pedidos aos portugueses em vez de se utilizarem os recursos em coisas úteis, como por exemplo criar comissões para prestígio da AR que reduzam os privilégios acumulados e formem os deputados em assuntos de relevo para defesa das populações, não haverá palavras do Presidente da AR que consigam fazer a defesa do Parlamento na opinião pública.

Das declarações de Sócrates não retiro que ele ataque a instituição parlamentar. Vejo esse ataque na irresponsabilidade dos titulares que persistem na inutilidade da sua acção.
LNT
[0.113/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXV ]

Toldo Praia Eurotel
Toldo Praia Eurotel (de papo para o ar) - Altura - Portugal
LNT
[0.112/2010]

sexta-feira, 19 de março de 2010

Coelho ao Sol

Facas laranjaO Sol dá hoje como certa a vitória de Passos Coelho, por maioria absoluta, na disputa pela liderança do PSD.

Diz o on-line que "esta é a conclusão da sondagem realizada pela Pitagórica para o SOL junto de militantes sociais-democratas".

As minhas questões sobre este lixo que vai enchendo as primeiras páginas de alguns jornais acrescentam mais e mais dúvidas sobre o que nos andam a vender como notícias. Nesta a que me refiro as dúvidas incidem na falta da ficha técnica da "sondagem/amostragem" no on-line, para podermos ter uma ideia do tamanho da palhaçada ensaiada e da credibilidade do universo consultado que o jornal apela como: "junto de militantes sociais-democratas".

Das duas três. Ou o Sol teve acesso à base de dados dos militantes do PSD e fica por saber quem lha deu (e já agora com que purga), ou o Sol julga que sondou militantes do PSD e dá como certo o incerto, ou o SOL recebeu a encomenda da capa de hoje.

Esta "comunicação social" (assim mesmo, entre aspas) já mete nojo.
LNT
[0.111/2010]

Já fui feliz aqui [ DCCXIV ]

Refogado de cebola
Refogado de cebola em azeite - à espera do resto - Portugal
LNT
[0.110/2010]

quinta-feira, 18 de março de 2010

Flor sem tempo

FlorJovens em matilha entre a Praça de Londres e o Júlio de Matos, desenfiados das aulas. Bicas na Mexicana, Vává, Londres, Roma, Suprema, Luanda, ou noutros pontos de café e bilhar que faziam gala de ter avisos a proibir o estudar.

O mais parecido com a zorra do imperialismo, Schweppes Canada Dry SpurCola com limão e gelo, refrescava impulsos. Os tanques de Praga não deixaram grandes amores pela vodka ou pelos puros, falava-se de outras coisas, mais Levi's e Wrangler, as quecas loucas e mágicas à beira do Tamisa, da maconha que o Cabeça de Vaca dera a provar no regresso dos turras e da capa do 33 r.p. chegada do longo curso que o pai do Carlos fazia.

No pensamento, outras gangas e camuflados.

Os tipos de gravata preta, nó de sebosa finura na mesa do lado, faziam que as conversas mais fortes fossem codificadas e em surdina, enquanto ela de minisaia, na mesma rua, na mesma cor, passava alegre e sorria amor. Amor nos olhos, cabelo ao vento, gestos de prata, de flor sem tempo. Era dela o mundo e a certeza de viver.

Jovens em 71, primavera política (dizia-se), o Botas morto e enterrado, as negras deixadas pelas bastonadas do dia anterior conseguidas no aperto à porta do D. Pedro V depois de fazer circular o A4 borrado na associação de farmácia e o Paulo ao barulho, a deixar-nos no ouvido:

Canta o sol que tens na alma, és a flor de ser feliz.
Olha o mar da tarde calma, ouve o que ele diz.

LNT
[0.109/2010]