sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cock luche

CockForam a Florença buscar um homem cheio de atributos, canudos e pergaminhos, especialista em direito europeu e constitucional e em mais uma catrefada de coisas, um comendador por mérito agraciado por Sampaio, e fizeram dele um ministro que em nada sobressai daquilo que por aí vai e acrescenta incompetência à incompetência deste poder podre que só não cai porque cristalizou na mão de um arbusto fossilizado.

Assim se estraga o que é bom e se reafirma, uma vez mais, a sabedoria popular:
"Quem nunca comeu melado, quando come... se lambuza"

Provérbios populares à parte, e tendo no seu vasto currículo que até já foi ministro, fazia-nos um favor imenso se voltasse para a escola onde dava aulas para continuar a honrar Portugal, lá fora, com o seu saber.

É que as patacoadas já são tantas que ainda corre o risco de acrescentar aos seus dados biográficos o recorde mundial da velocidade de desmentido de asneiradas colossais.
LNT
[0.253/2014]

Barbering Books [ XVI ]

Barbering BooksÓ minha terra na planície rasa,
Branca de Sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas... a dormitar
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu
aonde a minha Mãe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz... truz... truz - Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada! ...
Florbela Espanca
Sonetos

LNT
[0.252/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXIX ]

Cabidela
Cabidela - Por aí - Portugal
LNT
[0.251/2014]

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O barbeiro [ X ]

O Barbeiro- Boa tarde Sr. Luís, venho para um aparo de patilhas que está a chegar o tempo de praia e não quero sombras na cara.

- Ora viva, Sr. Jaime, faça a fineza de se acomodar que já lhe faço o serviço.

O Senhor Luis puxou do cabedal de afiar a navalha e deu-lhe duas, três, quatro, chanfalhadas. De seguida passou o papel a testar o corte, mergulhou o pincel na espuma e deu início à função.

- Mestre, não perca a razão por perder a cabeça no afio da navalha. Tenha cuidado com as minhas orelhas, que quem as fez já não está em condições de fazer umas novas.

Com um sorriso, o barbeiro (que adorava quando o tratavam por mestre) deixou a navalha valsar com ritmo e suavidade pela cara do seu cliente porque se apercebeu que se lhe fosse só às patilhas a barba ficaria por fazer. – Tenha calma, amigo! Fique sossegado que só no tempo do meu avô é que os barbeiros também eram sangradores. Aqui, ainda não se usam lâminas descartáveis, mas as navalhas são sempre objecto do maior asseio e de fio irrepreensível, assim como a minha mão que raramente tremelica.

- Sabe que desconfio sempre de tais precisões. É como aquela caldeirada que andam a cozinhar no PS. "Se eles transformarem esta luta numa vendetta, então, se ganharem o Partido (ou o que sobrar dele) perderão o País... Se perderem, seria bom que pudessem sair deste episódio de cabeça erguida e prontos a afirmarem-se como oposição interna, porque as derrotas de hoje são as vitórias de amanhã... Se eu não acredito de todo que AJS possa chegar a PM, não é de todo adquirido que Costa possa por sua vez ganhar as legislativas".

O barbeiro, sempre a sorrir, pegou no paninho quente para lhe acariciar a face e, em sussurro: - Sr. Jaime, Sr. Jaime. Então o senhor não sabe que para haver oposição interna é necessário haver moção, programa, linhas de orientação e os insurrectos ainda não conseguiram mostrar o que quer que seja que seja diferente das linhas de orientação aprovadas pelo poder instituído? É verdade que há muitos beijos, abraços, carinhos e multidões, espingardas e baionetas em riste, mas ideias...

- Acabámos. A sua carinha macia como o rabinho de um bébé. Volte sempre!
LNT
[0.250/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

Por direito divino

Viva Filipe VI de España
Viva o Rei


Casa Real Espanhola

Costa Lisboa

(ops! desculpem, enganei-me no evento)


Agora sim, viva o Rei!

Viva Filipe VI!

Felipe VI
LNT
[0.249/2014]

O ritual da beatificação

Costa LisboaAssim por contas rápidas, umas 15 ou 16 freguesias de Lisboa a 20 pessoas cada, mais uma catrefada de gente das vereações e assembleia municipal e mais um molhinho de deputados rebeldes, adjuntos, assessores e tal, e prontus, não há Tivoli que chegue e não fosse a Avenida da Liberdade, o andor não tinha conseguido sair do adro.

Espero que, como se faz nas outras orações evangélicas modernas, tivessem tido ecrãs gigantes cá fora para que os crentes pudessem ouvir as homilias proferidas a tanto cristão-novo.

Certamente foi mais povo que na procissão da Igreja de Santo António, embora menos que na entronização de Filipe VI de Espanha.

Oremos, pois, o faducho:
Cá vai a marcha, mais o meu par
Se eu não o trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não me digas não
Negócios de amor são sempre o que são
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo num altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
LNT
[0.248/2014]

Barbering Books [ XV ]

Barbering BooksOra a verdadeira palavra do homem é a palavra escrita, pois só ella é immortal. Mas enquanto o ensino da palavra falada é o encanto das mães e filhos, o ensino da palavra escrita é o tormento de mestres e discipulos. Extranha diversidade em coisas tão irmãs!

Deus na sua providencia não o podia determinar assim. Ha-de haver meio facillimo, grato, universalmente acessivel, de espalhar essa arte, ou antes faculdade, sem a qual o homem não passa de um selvagem.

Este meio ou esse methodo encantador pelo qual as mães ensinam a falar, que é falando, ensinando-nos palavras vivas, que entreteem o espirito, e não letras e syllabas mortas, como fazem os mestres. Pois apressemo-nos tambem nós a ensinar palavras; e acharemos a mesma amenidade.
João de Deus
Cartilha maternal

LNT
[0.247/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVIII ]

Arrosada de caralhosos
Arrosada de caralhosos - Por aí - Portugal
LNT
[0.246/2014]

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O barbeiro [ IX ]

O BarbeiroRui entra de repelão e abanca na cadeira vaga.

Nem bom dia, nem boa tarde, que o corte tinha de ser rápido e curto porque o dia era de festividade e havia horas para o encontro na sala de cinema transformada em Igreja Evangélica.

- Luís, rápido! Tenho pressa. Ando nesta fona do santinho e não descanso enquanto não o vir no trono com a caixa das esmolas cheia, a abarrotar.
Logo de seguida dispara: - "Pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro fez orelhas moucas e preparou-o para a função: - O meu amigo quer à máquina, à tesoura de desbaste, ou à navalha?

-Como queiras desde que me deixes uma poupinha à Ronaldo, mas despacha-te e "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano" - respondeu o cliente visivelmente bem-disposto e convencido de que organizações credíveis se regem pelos mesmos parâmetros do que as associações de bairro que se formam para umas sardinhadas e se extinguem quando os santos terminam.

-Amigo Rui, como o meu caro bem sabe, não é o facto de ter um topete à Ronaldo que o faz ser um goleador. O tipo desenvolve muito trabalho para poder parecer que aquilo que faz não precisa de trabalho algum, mas como o tempo é de espuma e de imagem, farei a poupa que me pede para que pareça um Ronaldo- respondeu-lhe o Sr. Luís.

- Lá, estás tu, barbeiro. É como te digo, tenho pressa e embora saiba que quem tem pressa come cru, volto à minha - "pede lá ao Seguro para se demitir para ver se resolvemos isto com menos dano desaçoriando o pântano".

O barbeiro remata: - Rui, meu amigo. Isto está quase pronto. Falta um pouco de gel e, para fim de conversa, fica a saber que se existe um pântano é porque alguém o anda a escavar e a estagnar as águas que deviam estar agitadas e em crescendo para desassorear o pântano do cavaquistão em que nos meteram. Como é evidente, não me compete pedir a alguém que está de pleno direito, sufragado pelos seus pares e pela Nação, que se demita só porque alguém resolveu criar um mar de espumoso cheio de sombras e espectros. Aliás, nem sequer é bem essa imagem que a coisa tem porque, para quem vê de fora, a imagem é de um ninho feito com esforço e afinco por um pássaro trabalhador e de um cuco que agora, sem esforço, quer pôr lá os ovos.

Prontinho, poupa afinada, vai-te, e dá cumprimentos meus à assistência que hoje vai à homilia da capital para canonização do seu padroeiro.
LNT
[0.245/2014]
Imagem: http://www.gutenberg.org/

E depois de nós

CanasEsta nódoa negra que se está a espalhar faz antever um derrame muito mais profundo do que a mancha que se vê.

As organizações políticas são maiores do que a soma das partes que as compõem e só fazem sentido quando essas partes respeitam as regras de funcionamento em vigor e se centram nos princípios comuns que definem os pressupostos, objectivos e as metas a atingir.

Se o carisma dos líderes escolhidos para levar a bom porto os objectivos em conformidade com as metas desenhadas é um dos requisitos exigidos, porque o poder, em democracia, só é exercido por quem a ele acede, a agregação de vontades decorrente da contagem dos votos que atribui esse poder exige que todas as partes contribuam para a afirmação dos escolhidos.

Assim não foi e a hemorragia espalha-se.

O derrame tem de ser estancado antes que seja necessário uma flebotomia. Sabe-se que o sangramento enfraquece e já lá vai o tempo em que se acreditava que era através dele que se fortalecia, renovando o sangue.

Se a vitória não bastava, por curta, havia que acrescentar, nunca diminuir.

E depois de nós, como dizia a senha para a liberdade, o adeus, o ficarmos sós.
LNT
[0.244/2014]

Barbering Books [ XIV ]

Barbering BooksNormalizada a situação, com a posse do VII Governo Constitucional, presidido por Francisco Pinto Balsemão, compreendi que Balsemão e eu eramos aliados objectivos, sobretudo no que tocava ao projecto de revisão constitucional, que acabou com o Conselho da Revolução e, portanto, com a tutela militar sobre o poder civil, legitimado pelo voto popular.

A facção eanista dentro do PS (Zenha, Guterres, Sampaio, Arnaut, António Reis, Constâncio, Fernando Vale, Candal e Filipe Madeira, além, curiosamente dos meus velhos amigos Ramos da Costa e José Magalhães Godinho) entrou em ruptura comigo. Alguns por pouco tempo. Contudo, talvez por razões tácticas, não queriam destituir-me de secretário-geral. Só pretendiam esvaziar as minhas funções de poderes efectivos. Como se eu pudesse aceitar tal coisa. Tinham aliás uma maioria quase absoluta no antigo secretariado (que eu escolhera e fiz votar) e, numa proporção menor, no Grupo Parlamentar. O Congresso do PS estava marcado para os dias 8, 9 e 10 de Maio de 1981...
Mário Soares
Um político assume-se

LNT
[0.243/2014]

Já fui feliz aqui [ MCDXXVII ]

Bucho recheado
Bucho Recheado - Por aí - Portugal
LNT
[0.242/2014]

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sem ética me confesso

BerbigãoSei que não devia pensar isto, e ainda menos escrevê-lo, porque os guardiões dos bons costumes e da solidariedade socialista, ou seja, os sublevados que ética e fraternalmente insultam violentamente, todos os dias e a todas as horas, o meu (e seu) secretário-geral e restantes dirigentes eleitos e validados por eleições nacionais, hão-de apontar-me acusações, com ar grave e sério, de divisão, subtração e desunião.

Mas vou escrever "isto", sendo que o isto, é que se andam a encher, pelo menos para criar os melhores planos fotográficos e televisivos, salas alegadamente grandes e repletas, com alguns, poucos, locais e com o séquito autárquico da capital formado pela vereação (inclui assessores e adjuntos), pela assembleia municipal do cinema Roma e pelos executivos e assembleias das freguesias alfacinhas.

Provavelmente, a vaga fundamentalista costista transportada por machibombo da capital, bastaria para "preencher" espaços alegadamente populosos, como cinemas de província com duzentos lugares. Bastaria que aos quarenta auto-transportados se associassem os deputados revoltosos perfumados com o perfume filosófico mais feroz de sempre e alguns outros incensados com cortiça.

Setembro continua longe, infelizmente longe, infelizmente distante daquilo que Portugal reclama para evitar que, tal como dizia Zorrinho, se andasse nos intervalos da bola, a discutir o que já deveria estar a fazer o futuro Primeiro-ministro em vez de se discutir o que o actual e o seu vice andam a fazer.

Sei que não devia ter escrito isto, porque a solidariedade e a fraternidade socialista me deveriam ter condicionado na desmistificação da claque insurrecta.

Espero que a comissão de conflitos do meu Partido não venha a julgar-me por ter furado os princípios de solidariedade e fraternidade com os meus camaradas alevantadiços que estão, fraternalmente, a promover a rebelião contra os poderes internos democraticamente instituídos.
LNT
[0.241/2014]

Barbering Books [ XIII ]

Barbering Books- Não está triste, pois não?
e eu - Que ideia, Orquídea - com ganas de dizer-lhe que basta a companhia dela para me sentir melhor e não digo por vergonha, por acanhamento, por ser casado, talvez, e a fidelidade, e essas lérias, escuto os brincos a tilintarem ao meu lado enquanto abro o computador e apetece-me gritar
- Estou alegre - gritar muito alto
- Estou alegre - convidá-la para uma bica a seguir ao emprego, os dois numa mesinha de canto, com o meu joelho quase a tocar o seu, com o meu joelho a tocar o seu, com os meus dois joelhos a tocarem os seus, pegar nos pacotes de açúcar
- Muito ou pouco? - sorrir ao seu sorriso
- Muito - com os meus dois joelhos apertando os dela e, se a minha mulher, já agora
- Estás a pensar em quê?
- Na Orquídea - no tom mais natural deste mundo
- Estou a pensar na Orquídea
- Que história é essa da Orquídea? - a Orquídea e eu, palma com palma, a compararmos o tamanho das mãos e a divertirmo-nos com a diferença, a Orquídea e eu, felizes, de sininhos a tilintarem e oxalá me toque, oxalá me beije, oxalá me acaricie um ombro na pensão na rua abaixo do emprego, a compararmos o tamanho das cicatrizes das apendicites, a dela pequenina, bonita e eu, a descer Orquídea abaixo perguntando num murmúrio
- Importa-se que a beije aí?
António Lobo Antunes
Visão – 2014.06.12

LNT
[0.240/2014]

Outra vez quatro a zero

SelfieCavacoNão, não foi só um jogo de futebol, como para aí leio. Foi uma multidão nas ruas que esteve especada frente aos grandes painéis espalhados por toda a parte, foram emigrados por todo o Mundo colados aos ecrãs onde se reuniram, Foi a Merkel a rir e a festejar mais uma vitória sobre os lusos. Foi o abandonar de todos os espaços onde estiveram reunidos portugueses, com o rabo entre as pernas como sempre fazem quando lhes vão ao bolso, à saúde, à educação ou às reformas.

Não, não foi só uma goleada de quatro a zero num jogo de bola. Foi mais uma porrada inaceitável e um atirar de culpas para "foi só um jogo de futebol", "o futebol é isto", "o árbitro foi ladrão" e um "correu tudo mal".

Porque tudo sempre há-de correr mal quando todas as condições se reúnem para que tudo corra mal, seja "só num jogo de futebol", seja na política nacional ou internacional, seja na irresponsabilidade com que se usa e mobiliza o sentir nacional.

Não, não foi só um jogo de futebol. Foi a falta de brio de uma equipa milionária que, tal como o poder que temos, se contenta com o pouco, poucochinho e que, tal como o maior partido da oposição, prefere dividir a reunir, sem se perceber que as equipas só serão vencedoras se as estrelas prescindirem do brilho individual.

Foram as bandeiras nacionais enroladas (que foram incitadas durante um mês para que se desfraldassem), foi a frustração, foi a perda e foi um objectivo nacional não alcançado (porque o bombardeamento da propaganda - selfies incluídas - tinha transformado o "só um jogo de futebol" numa conquista nacional).
LNT
[0.239/2014]