terça-feira, 26 de abril de 2011

Quatro discursos - quatro

Pavilhão do Presidente da RepúblicaFartinhos das formatações do fala-fala os portugueses tiveram oportunidade de poder seguir um modelo que evocou o vinte-e-cinco-de-abril pela voz dos quatro presidentes eleitos pela república democrática, uma iniciativa de bom gosto do actual Presidente da República.

Sinal dos tempos, falaram os eleitos que não estão sujeitos à disciplina partidária, por terem sido eleitos como cidadãos e não como partidos, e deram a sua perspectiva dos caminhos diversos que nos trouxeram até aqui, sendo que o aqui é um salto imenso no desenvolvimento que, se não se fez sentir nos custos dos últimos trinta e sete anos, se vai fazer agora, altura em que nos apresentaram a conta para o pagar.

Foi um passeio interessante que deu o quadro perfeito dos caminhos trilhados e que deixou um registo de antologia para se entender o ferrete com que estes quatro homens marcaram a Pátria.

Retirando-lhes a carga política, diria que o discurso de Eanes foi o do filósofo-militar denso, complexo e complicado, a descair para o salamaleque, o de Soares foi o do político-partidário na mesma concepção do "eu" e do passa-culpas de sempre, o de Sampaio foi o do homem-da-rua que sente na pele os maus gestores que tem, os políticos medíocres que elege, a Europa dos egoísmos e da sua própria ideia de direitos adquiridos sem obrigações e, finalmente, o de Cavaco foi o do académico-economista com a costumeira mão cheia de nada.

A História tratará de os qualificar. Para já fica a constatação de que só Sampaio soube estar à altura e que, por muito que a História da Revolução se deva a Eanes, a da Europa se deva a Soares e a do esbanjamento e da engenharia-financeira se deva a Cavaco, a da lucidez se ficou a dever ao Presidente que, embora tenha cometido o erro de fazer de um gigolô, Primeiro-Ministro, foi o único que se confundiu com o povo que o elegeu.
LNT
[0.140/2011]

3 comentários:

luis reis disse...

"A História tratará de os qualificar".
Não precisa, o Sr. acaba de os qualificar...
Certeiro.Eu,que até custumo ser assim mais pró vernáculo,e ás vezes, até nem preciso de condimento,gostei.Parabens.

Anónimo disse...

Completamente de acordo com a análise. Parabéns

Antonio Manzoni

folha seca disse...

Caro Luis
Não ouvi os discursos, pois passei o 25 de Abril com uma profunda tristeza a digerir a "partida" de um amigo que nos deixou no dia da liberdade, cuja vida a ela foi dedicada.

Li algumas coisas e o seu post pareceu-me a análise mais correcta que vi.
Sempre achei que temos no nosso País Homens e mulheres capazes de dar a volta a isto. Apenas não nos lugares certos, pois os mesmos estão ocupados por gente medíocre.
É pena!
Rodrigo