Não pode ser uma questão de surdez, aquela que levou o Presidente da República a fazer a alocução que ontem fez.
Cavaco ignorou que o seu Governo lhe apresentou uma proposta de solução, ignorou que o Partido Socialista há muito tomou a decisão de só se envolver após eleições e ignorou que o poder reside no povo português e não nos Partidos.
Cavaco arredondou as arestas do seu pensamento com palavras bem medidas mas que deixam clara a sua interpretação dos conceitos da democracia e do regular funcionamento das instituições.
Cavaco apelou a um consenso de exclusão ao dirigir-se só aos Partidos signatários do memorando. Para além do mais foi redundante e desajustado porque nenhum desses três Partidos repudiou, até hoje, a sua responsabilidade no cumprimento dos compromissos assumidos com a sua assinatura.
Cavaco atirou o País para uma campanha eleitoral prolongada sem ter marcado eleições. Nem demitiu um Governo que tem ministros demissionários e outros com guia de marcha assinada, nem apresentou uma solução, deixando o País paralisado e ainda mais dividido entre aqueles que são defensores de soluções democráticas e plurais e os outros que entendem que, no mínimo, há que suspender a democracia.
Cavaco foi o que sempre foi. Ouve, mas não escuta e entende que o consenso é a aceitação da sua vontade.
Cavaco fez, uma vez mais, aquilo que sempre fez:
- Recusou reconhecer que erra e que muitas vezes se engana;
- Atirou as suas responsabilidades e culpas para as costas dos outros;
- Empatou, enrolou, arrastou e dilatou até ao limite as questões que lhe queimam as mãos; e
- Negou, escondeu e disfarçou a sua politiquice em meias-palavras vestidas de tabus e silêncios.
Que se esteja ciente de que o discurso de ontem foi só o princípio do que está para vir. Ninguém pode acreditar que um Governo com cartas de demissão, ministros que sabem que estavam nas bordas de um caixote de lixo a aguardar substituição e uma Ministra das Finanças disposta a dividir a troika com um vice-primeiro-ministro que afinal o não é, é um Governo no pleno gozo das suas funções.
LNT
[0.227/2013]