[0.446/2008]Se ao menos o céu estivesse azulNeste fim de Europa temos duas coisas que atenuam a desvantagem de nos situarmos no
Cu-de-Judas. O mar e o céu azul proporcionam, quando tudo parece correr mal, o mergulho na água salgada capaz de cortar o desânimo e a sensação do Universo nos estar aberto até ao Sol.
Este ano, depois de todos os avisos que a coisa iria correr mal e de todas as negações de que assim iria ser, começa a desabar o edifício sem fundação sustentada e assanham-se as formas redutoras do capitalismo selvagem, agora travestidas de
(neo)liberalismo.
Ao aumento da carga fiscal e da eficácia da máquina de controlo da evasão fiscal tinha de ter equivalido uma diminuição substancial das despesas do Estado conseguida, não pelo corte indiscriminado no funcionamento, mas no derretimento das gorduras parasitas que tomam conta dos centros de decisão. O recurso sistemático ao
outsourcing em contratação sucessiva e permanente significa um acréscimo de funcionários pagos embora por rubrica diferente da das despesas com o pessoal.
Parte desse
outsourcing destina-se unicamente a satisfazer a obesidade dos serviços e a provocar, com a flatulência ruidosa do
PowerPoint, a ilusão da modernidade e de progresso. Pior ainda é verificar que se aplica na razão directa dos cortes sistemáticos na formação dos quadros e que, a par de reformas fantoches dos serviços públicos, o objectivo conseguido cifra-se na reengenharia do eufemismo, o que levou à multiplicação de quadros dirigentes a quem se deram novas designações.
Agora, com os aumentos que se anunciam devido ao custo dos combustíveis numa inexplicável roda em que se fazem contas em
Dollares quando a nossa moeda é o
Euro (e a desvalorização do
Dollar perante o
Euro está a par do aumento do petróleo em
Dollares), demonstram bem a ineficácia do edifício e a ineficiência das entidades reguladoras do Estado.
Os resultados não se farão esperar e serão, uma vez mais, tal como naquilo que se vai verificar com a demagógica redução de 1% do IVA, os especuladores a beneficiarem na mesma proporção do agravamento das condições de vida dos consumidores.
Nada nos salva. Nem sequer chega o tempo do mergulho no mar, nem o céu se consegue limpar do chumbo.
LNT